Bem vindo ao blog de Dartagnan da Silva Zanela, Cristão católico por confissão, caipira por convicção, professor por ofício, poeta por teimosia, radialista por insistência, palestrante por zoeira, bebedor de café irredutível e escrevinhador por não ter mais o que fazer.

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O SILENCIADO GRITO DOS INOCENTES

A (IM)PIEDADE DOS GESTOS


Escrevinhação n. 996, redigida em 25 de março de 2013, dia de Santo Irêneo de Sírmium, de São Dimas e da Solenidade da Anunciação do Anjo à Virgem Maria.

Por Dartagnan da Silva Zanela


Ao deitarmos nossas vistas nas helênicas linhas de “As Leis”, de Platão, nos deparamos com um homem profunda e sinceramente preocupado com a formação das almas infantes. O discípulo de Sócrates afirma que deveríamos ser treinados desde a infância na virtude, o que tornaria o indivíduo desejoso da perfeição. E conclui afirmando que seria vulgar e servil chamar de educação uma formação que desleixasse deste intento. Ora, uma formação que vise somente à aquisição de regalos materiais e financeiros, que vise apenas o vigor e a formosura física ou simplesmente alguma habilidade mental despida de sabedoria seria indigna de receber a alcunha de educação.

Sabedoria não é algo que se ministra com uma lição recortada numa disciplina escolar, ou dissolvida na forma dum eixo temático a ser trabalhado como uma reles curiosidade (depre)cívica. Tanto um quanto o outro, aprende-se através da mediação silenciosa do exemplo e do testemunho dos gestos e ações. O mesmo pode-se afirmar quanto ao magistério das virtudes cardiais.

Obviamente que, os gestos exemplares que dão testemunho do que é uma vida virtuosa, não estão apenas depositados sob o costado dos professores. Não apenas eles, mas, todos nós, damos nossa contribuição para o ensino destas sutis e basilares lições.

Para tornar essas considerações mais palatáveis, permitam-me recorrer a um exemplo que, para meu gosto, é de grande importância. Estamos a viver a Semana Santa. Estamos às portas da sexta-feira da Paixão de da Páscoa de Nosso Senhor. Para quem confessa a Fé em Cristo, este é um tempo que exige uma postura toda apropriada para essa época litúrgica.

Bem, aí entra o pomo da questão: com que gestos, com que práticas, nós, adultos praticantes da fé, ensinamos nossos mancebos a amar Àquele que se entregou em sacrifício no madeiro da cruz por nós? Preparamo-nos para viver, intimamente, com o Messias, a Sua dolorosa paixão e sua gloriosa ressurreição, ou simples aguardamos a chegada de mais um feriado mundano totalmente desprovido de sacralidade?

Tornou-se fala comum nas rodas cotidianas de colóquios, flácidos ou não, afirmar que a geração de idade mais tenra vê-se transviada, perdida. Entretanto, não vemos com tanta freqüência as mesmas rodas indagar sobre o que os adultos esclarecidos fazem para evitar, ou mesmo minimizar, esse quadro.

Os gestos revelam o que somos com uma sinceridade que nossos lábios jamais são capazes de externar. Eles revelam o quanto que nossa vida religiosa, muitíssimas vezes, é postiça e artificiosa, um adereço de aceitação social que apenas reflete nossa apatia frente ao sentido sacro da vida. Na maioria das vezes, não se pratica uma religião, apenas declara-se ter uma.

Nossos gestos estão o tempo todo gritando ou Hosana, ou Crucifica-o, como nos ensina Peter Kreeft. Quando damos ao vulgar a mesma relevância que deveria ser dada ao espiritual, estamos ensinando que o primeiro deve ocupar um lugar central em nossa vida em detrimento do segundo. Estamos ensinando que a pérola de grande preço (Matheus XIII; 46), em nossa vida, não tem valor algum, estejamos cientes disso, ou não.

Pax et bonum
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SEU NOME É FRANCISCO


Escrevinhação n. 995, redigida em 18 de março de 2013, dia de São Cirilo de Jerusalém.

Por Dartagnan da Silva Zanela

As portas do inferno não prevalecerão (Matheus XVI; 18). Para todo aquele que confessa a Fé com o coração na mão, essas palavras são de uma clara significação. As crises vêm e vão, os céus também, mas Ele permanece.

Infelizmente, muitos que publicamente confessam a Fé na Igreja ouvem essas palavras com a mesma leviandade que assistem a um telejornal. Não são poucos os catolicãos que, a muito, falava Agripino Grieco. Católicos que ao morrer, chegando ao céu tem a enorme surpresa de verificar que Deus existe mesmo.

Ora, é mais que compreensível que um não-católico não leve com a necessária seriedade os ensinamentos daquela que é Mãe e Mestra. Entretanto, é motivo de escândalo uma pessoa que se declara católica e vive numa inconfessa apostasia chegando, literalmente, a cingir sua vida pela trilha de valores diametralmente opostos aos ensinamentos de Nosso Senhor, desprezando e fazendo pouco de seu magistério.

É diante deste quadro que o predecessor do Papa Francisco I, convocou um ano da Fé, um tempo para aprofundarmos nossa fidelidade e confiança em Cristo através de muito estudo e oração. E, neste ano, Bento XVI renuncia a cátedra de São Pedro pedindo a cada um de nós um ato de Fé neste grande mistério que é a Santa Madre Igreja. Bem, aí ouso indagar: quantos rezaram pelo Conclave? Quantos jejuaram e se penitenciaram? Creio que muitos, porém, imagino que muito maior foi o número dos catolicãos que apenas acompanharam os últimos acontecimentos com uma reles curiosidade mundana.

Em meio a este entrevero, eis que temos um Papa feito da mesma cepa de Bento XVI, por mais que a grande mídia diga o contrário. Homem que não teme apontar o nome do nosso grande inimigo, o demônio. Citando uma passagem da obra do escritor francês Leon Bloy, lembra-nos que quem não reza ajoelha-se ao príncipe das trevas. Homem que veio para servir e lutar o bom combate comandando um exército que confessa Cristo Crucificado.

Quanto a seus gestos, são mais do que humildes. Sinalizam claramente ao que veio. Bento XVI deixou o comando da nau petrina porque tinha uma inabalável fé de que o Espírito Santo indicaria alguém à altura dos combates atuais. Com uma cruz de ferro, despido de aparatos, ele se apresenta para o combate, tal qual fez São Francisco de Assis, que deixou suas armas de ferro para pelejar pelo Evangelho.

Um homem humilde como seu predecessor e, como ele, alguém que não fala com língua bipartida e que não verga sua cabeça para agradar aos interesses mundanos. Alguém que labuta para seguir os passos do poverello de Assis, o primeiro a carregar os estigmas de Nosso Senhor Jesus Cristo em sua carne.

São Francisco de Assis era um humilde servo de Cristo, não um simplório capacho do mundo ou uma caixa de ressonância de slogans politicamente-corretos. Francisco amava os pobres sem odiar (ou invejar) os ricos. Ele amava a todos em Cristo e por Cristo. Esta, penso eu, é a luz que se faz luzir a partir do início do pontificado de sua Santidade e, por essas e muitas outras que as portas do inferno não prevalecerão, compreendamos o que isso quer dizer ou não.

Pax et bonum
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As três lições de Deus para este Conclave

Fonte: Site do Padre Paulo Ricardo

A Basílica de São Pedro deu espaço mais uma vez à procissão vermelha dos príncipes da Igreja. A cor recorda o sangue dos mártires, sobretudo de Pedro, de quem se escolherá o sucessor, neste momento grave para história dos cristãos. A fumaça branca, que anuncia a escolha do novo papa, pode sair a qualquer momento. A hora, no entanto, ainda é um mistério. E é assim que deve ser, como tudo aquilo que pertence aos desígnios de Deus. Apesar das quedas de seus membros e dos muitos escândalos que são repetidos a todo instante, é Cristo, o Supremo Pastor, quem governa a sua Igreja, e não a vontade daqueles que a compõem.

Os meios de comunicação, entretanto, insistem no contrário. Por isso, não é surpreendente ler matérias que tragam especulações maledicentes sobre o Conclave. Para uma imprensa sem visão espiritual, a escolha de um Papa não passa de uma disputa de poder. Eles medem a Igreja pela própria régua. E é assim que os jornais não têm o mínimo pudor de se comportarem quase como uma Capela Sistina paralela, a todo momento emitindo suas fumaças sobre o próximo sucessor de São Pedro. Engana-se, portanto, quem presta ouvidos aos seus sinais. Não é a Cristo que pertence a fumaça da imprensa, mas a um outro. Mas o que esperar de uma mídia que não perde sequer uma oportunidade para humilhar e cuspir no rosto da Igreja as imoralidades das quais ela - a imprensa - é a primeira defensora? [continue lendo]

NA ENCRUZILHADA DO DESTINO


Escrevinhação n. 995, redigida em 11 de março de 2013, dia de Santo Eulógio.

Por Dartagnan da Silva Zanela

Monteiro Lobato, quando estava no interior, imerso em bucólicos ares, afirmava que lia compulsivamente só por birra, de modo similar a um bêbado em encharca as vísceras para distanciar-se da mesquinhez que o circundava. Embebia sua alma com o licor das letras todo santo dia. Destilava incansavelmente o melaço de sua escrita em um ritmo todo seu de aprimorar-se.

Muitos, como o pai do Sítio do pica-pau amarelo, preferem o silêncio de um retiro do mundo nele estando, para cultivar amorosamente a cultura, a terceira natureza humana. Através dela, da cultura, vemos os vários reflexos de nós nas faces dos muitos “eu” possíveis que se apresentam mediante nossas escolhas tão livres quanto graciosas. Nesta gratuidade de nosso devir pagamos por todas nossas escolhas.

Doravante, como nos lembra Alceu Amoroso Lima (o Tristão de Athayde), a cultura revela três atitudes fundamentais ao homem: a que o liga a terra (economia), a que o liga a si e com os outros homens e a que o religa a Deus. Por isso, a cultura representa a plenitude do humano na sua condição de ser físico, moral, intelectual e espiritual. É através desta terceira natureza que realizamos as nossas mais elevadas potencialidades.

Em vista disso, muitos nutrem a crença de que tudo o que fazemos é, de certo modo, pré-determinado pelo meio, pelas forças que nos influenciam dos mais variadas formas. Todavia, não é assim que o fandango segue. Somos influenciados, sim, pelas mais variadas forças, desde aquelas de ordem genética até as obras de engenharia social que abundam no mundo atual, porém, não somos determinados por elas. São nossas escolhas, decisões e omissões, que dão força a essas influências.

De mais a mais, o que torna tal crença curiosa é o fato de seus proponentes romperem com todo peso que eles afirmam determinar nossa humanidade. Ora, das duas, uma: Ou eles são sobre-humanos, tocados pela Divina Providência, ou simplesmente reles orgulhosos prepotentes.

É muito cômodo afirmar que somos apenas objetos inermes. Entretanto, tal afirmação, na inteireza de suas palavras, revela apenas o patético que há em nós. Preferimos, muitas vezes, nos escorar em uma muleta ideológica e, desde modo, esquivarmo-nos de nossa integral responsabilidade pelo destino advindo de nossas escolhas.

Ao nos fazermos de leitão pra mamar, seja de pé ou deitado, estamos apenas permitindo que forças mundanas, alienantes por sua natureza, nos arrastem para longe de nosso centro existencial.

Contrapondo-nos a isso, não estaremos mudando o mundo, obviamente. Apenas adolescentes tolos e adultos sínicos se permitem arrastar por essa leviandade. Todavia, se estivermos cônscios de que temos no âmago de nossa alma, e em nosso entorno, forças em luta para dilacerar-nos, poderemos, quem sabe, realizar de modo mais lúcido e responsável as escolhas que integrarão e moldarão nossa personalidade, de modo similar ao nosso bravo e silencioso Monteiro Lobato.

Pax et bonum
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Bigelow na linha de sombra


Por Luiz Felipe Pondé

Vejo você escrevendo em seu gabinete. Você mora num bairro de classe média alta de São Paulo.

Pessoa sofisticada, você tem aquele sentimento que os outros são menos inteligentes do que você, sem deixar ninguém perceber porque está treinado a fingir modéstia.

Agora, imagine que você toma vinho, dá aulas e vê o olhar apaixonado das alunas brilhando ou o olhar convertido dos alunos acreditando piamente nos absurdos que você fala.

Mas você fala apenas absurdos simpáticos à sua própria vaidade ou à vaidade de quem ouve você. Quando ouvimos você falar ou lemos o que você escreve, temos certeza de que você é "ético".

A razão para existir esses intelectuais "para um mundo melhor" é fazer o mundo servir à vaidade deles e de quem se acha tão "ético" quanto eles.

A ética é a baixa escolástica contemporânea: todo mundo fala, mas todos sabem que é "papo furado". Dizer-se ético é "self-marketing".

Você viaja a Paris ou a destinos semelhantes e frequenta universidades, galerias de arte, concertos de música erudita (desculpe, sei que a palavra "erudita" trai meu preconceito contra músicas horrorosas "do povo").

Você recebe inclusive financiamentos públicos para algumas dessas viagens e para escrever livros. E, com isso, espalha pelo mundo as ideias delirantes que tem em seu gabinete.

Basicamente, essas ideias se caracterizam por não terem nada a ver com a realidade, mas portam aquele tipo de aparência que encanta: você é a favor de um mundo melhor e condena todo mundo que sabe que você mente. [continue lendo]

A farsa sobre Abraham Lincoln


Por Walter Williams

O filme Lincoln, de Steven Spielberg, vem sendo um grande sucesso de bilheteria e ganhou doze indicações para o Oscar, inclusive de melhor filme, melhor diretor e melhor ator para Daniel Day-Lewis, que fez o papel do 16º presidente americano.  Como não vi o filme, este artigo não será sobre ele, mas sim sobre o homem que é até hoje endeusado por muitos.

Meu colega Thomas DiLorenzo, professor de economia da Loyola University de Maryland, já expôs vários mitos a respeito de Lincoln em seu livro de 2006, Lincoln Unmasked.  Agora ele acaba de receber o reforço de Joseph Fallon, analista de inteligência cultural e ex-instrutor do Centro de Inteligência do Exército dos EUA, com seu novo e-book, Lincoln Uncensored.  O livro de Fallon examina 10 volumes compilados de discursos e escritos de Lincoln, os quais incluem passagens sobre escravidão, secessão, igualdade para os negros e emancipação.  Não é necessário se basear na interpretação de ninguém.  Apenas leia as palavras de Lincoln e veja o que você conclui delas.

Em uma carta escrita em 1858, Lincoln diz:

Já declarei mil vezes e volto a repetir que é minha firme opinião que nem o Governo Geral e nem qualquer outro poder externo aos estados escravagistas podem constitucionalmente ou por direito interferir na escravidão onde quer que ela já exista.

Em um discurso proferido em Springfield, Illinois, ele explicou:

Minhas declarações sobre este assunto da escravidão negra podem até ser deturpadas, mas não podem ser mal interpretados.  Já disse que não vejo a Declaração (de Independência) como sendo uma afirmação de que todos os homens foram criados iguais sob todos os aspectos.

Debatendo com o senador Stephen Douglas, Lincoln disse:

Digo, portanto, que não sou, nem jamais fui, a favor de criar, de qualquer maneira que seja, a igualdade social e política das raças branca e preta; que não sou, nem nunca fui, a favor de transformar negros em eleitores ou jurados, nem de habilitá-los a exercer cargos públicos, nem de permitir seu casamento com pessoas brancas; e direi, adicionalmente, que há uma diferença física entre as raças branca e preta que, creio eu, irá para sempre proibir as duas de viverem juntas em termos de igualdade social e política.  E, visto que elas não podem conviver desta forma, enquanto elas permanecerem em coexistência terá de haver a posição do superior e do inferior, e eu, assim como qualquer outro homem, sou a favor de que a posição superior seja atribuída à raça branca.  [....] O que eu mais gostaria de ver seria a separação das raças branca e negra.
(Abraham Lincoln, First Lincoln-Douglas Debate, Ottawa, Illinois, Sept. 18, 1858, in The Collected Works of Abraham Lincoln vol.3, pp. 145-146; 521).

E então você dirá, "Mas, professor Williams, a Proclamação de Emancipação publicada por Lincoln libertou os escravos!  Isso prova que ele era contra a escravidão!"

Nas palavras do próprio Lincoln: [continue lendo]

A FIGUEIRA DE PÚTRIDOS FRUTOS


Escrevinhação n. 994, redigida em 04 de março de 2013, dia de São Casimiro.

Por Dartagnan da Silva Zanela


Lembra-nos Hayek que a humanidade foi civilizada a muito contra gosto. De fato, se formos capazes de fazer um sincero exame de consciência, com candura reconheceremos que as lições mais importantes que nos eram ministradas foram aprendidas em meio a muitos beicinhos.

De todas, aprender a responder por seus atos e pensamentos, pelas conseqüências advindas destes, é uma das lições que cada um de nós mais resistiu em assimilar. Alguns se recusam a isso a vida toda e outros, transformam o esquivar desta num estilo de vida. Tudo isso junto e misturado seria a cultura do “não fui eu”, como nos adverte Olavo de Carvalho que, infelizmente, é a pedra angular da sociedade brasileira atual.

Ora, a cultura da escusa é a cultura da condescendência. Tudo deve ser reconhecido como aceitável para que os brios infantilizados do cidadão não sejam vilipendiados em seu direito de não responder por seus atos. Por essa razão, Pascal Bruckner, ensina-nos que “nada nos autoriza a dividir a humanidade entre culpados e inocentes, pois a inocência é o lote das crianças, mas também dos idiotas e dos escravos. Um povo que nunca se sentiu responsável por seus atos perdeu todas as qualidades que lhe permitem ser tratado como semelhante”. Resumindo: é um povo que perdeu o tal do respeito.

Evidentemente temos uma grande tragédia no horizonte quando vislumbramos esse tipo de mentalidade alicerçando, praticamente, toda uma geração. Geração essa que vem sendo educada na base da irresponsabilização pessoal, a projetar num outrem, humano ou imaginário, suas mínimas e máximas culpas.

Para evitarmos divagações furibundas, meditemos apenas sobre um ponto: o fato dos infantes muitas das vezes serem, como direi, transviados e amorais, mal-alfabetizados e incultos, é a culpa de quem? Todos se esquivam e justificam o erro nas costas uns dos outros. A família responsabiliza os professores, estes as famílias, ambos o governo e este a todos. Quanto aos mancebos, nem mesmo são lembrados de seus deveres elementares.

Essa patacoada é antiga. Todos adoram um discursinho auto-vitimatório para poder ficar na confortável faixa da anônima irresponsabilidade pessoal. Entretanto, não é assim que se edifica uma sociedade sadia moralmente. Por esse viés forma-se apenas uma massa submissa que facilmente verga sua cabeça para qualquer um que finja ser o seu protetor.

Carrego nas tintas em minhas considerações? Então, por caridade, visite o mofado tribunal de sua consciência e verifique quantas vezes, verdadeiramente, nos colocamos como responsáveis pela tragicomédia atual de nossa sociedade? Quantas vezes falamos, para nós e para os outros, “não fui eu”? Quantas vezes insistimos em agir como infantes quando as marcas em nossa face exigem atitudes dum adulto?

Por essas e outras tantas que, como nos lembra Levi-Strauss, em Tristes Trópicos, hoje, mais do que ontem, vemo-nos mergulhados na barbárie sem ter, ao menos, sido civilizados. Ah! Mas é claro que a culpa não é nossa, não é mesmo?

Pax et bonum
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O futuro traidor


Por João Pereira Coutinho

Anos atrás, quando Ingrid Betancourt foi resgatada da selva colombiana, o Partido Comunista Português recusou-se a saudar o feito. Motivo?

A sra. Betancourt tinha sido salva pelo presidente Álvaro Uribe das mãos das FARC. E entre Uribe e o "comandante" Enrique, os comunistas lusos não escondiam as suas simpatias.

Na altura, no jornal "Expresso", ainda perguntei aos camaradas se a sra. Betancourt deveria ser jogada de volta à selva. Sobretudo se se provasse que o resgate tinha sido feito com o intolerável apoio americano. O PCP, essa deliciosa relíquia stalinista que persiste na Europa Ocidental, não chegou a responder.

Felizmente, vejo com bons olhos que Portugal não é caso único em matéria de atraso político e até intelectual. Era Eça de Queirós quem dizia, com piada, que os brasileiros eram portugueses inchados pelo calor. O que significa que os vícios portugueses, no Brasil, também incham com a temperatura.

Assim foi com a blogueira cubana que, em visita ao Brasil, foi acusada de mil torpezas por uma parte da esquerda local. Mas, entre todos os insultos, um deles dominou a minha atenção: a sra. Yoani Sánchez denuncia os abusos da ditadura castrista porque existe dinheiro americano por detrás. Ela é, resumindo, uma traidora do seu próprio país.

A acusação é interessante porque existem vários equívocos nela. [continue lendo]

O futuro em boas mãos


Por João Ubaldo Ribeiro

Como estamos vendo nos noticiários, a campanha eleitoral já começou. Acho um pouco cedo, mas o pessoal fica nervoso com a disputa e a ansiedade parece ser geral. A política, o governo e a administração do Estado são das mais nobres atividades a que o cidadão pode entregar-se, pois se trata de um admirável exercício de altruísmo, amor à coletividade e ao semelhante, de nobre renúncia a interesses subalternos e vantagens indevidas e até mesmo a projetos pessoais. O homem público epitoma a virtude, não no sentido piegas que estamos acostumados a associar a esta palavra, mas na ]dedicação resoluta e firme ao bem público e às aspirações e direitos dos governados, numa vida cuja maior recompensa será o zeloso cumprimento dessa missão e nada mais. E o Brasil está coalhado de gente disposta a sacrifícios extremos para servir ao país e levá-lo a um futuro de prosperidade, justiça, segurança e felicidade.

Para canalizar tamanho empenho cívico, dispomos de mais ou menos 50 partidos. O partido político, como sabemos, destina-se a formular projetos e objetivos para a condução da sociedade, aglutinando visões do mundo, ideologias ou interesses. Isoladamente, o cidadão pode muito pouco. O partido, por conseguinte, é indispensável para a ação política. Por meio deles, aqueles que pensam de forma semelhante conseguem juntar seus esforços para chegar ao poder e daí transformar em ações concretas seu ideário. Assim, cada partido tem um perfil claro e definido e o cidadão deve escolher entre eles o que mais se aproxima de seus interesses ou pontos de vista legítimos.

No Brasil, os políticos são virtuosos, ou procuram ser virtuosos? Engabelados pelo noticiário leviano, venal, deturpador, difamador, caluniador, injurioso e irresponsável de praticamente todos os veículos de comunicação, muitos de nós diriam que não. [continue lendo]

Confirmador do imutável


Por Carlos Ramalhete

Hoje a Sé de Roma fica vacante, com hora marcada. O mais difícil, no mundo de hoje, é entender o que é a Sé de Roma, o que é um papa, para que ele serve, qual o seu papel.

O historiador francês Alain Besançon, três anos atrás, escreveu no L’Osservatore Romano (o jornal oficioso do Vaticano) que Bento XVI “encontra-se numa posição semelhante à de Paulo VI após o Concílio Vaticano II, enfrentando o que aquele chamou de ‘autodestruição’ da Igreja. Desta vez, contudo, a autodestruição é de toda a sociedade, da natureza e da razão”. Uma sociedade em autodestruição não consegue entender para que serve alguém cuja função é testemunhar o Eterno. [continue lendo]