Por Dartagnan da Silva
Zanela (*)
(i)
Existe uma diferença abissal entre
aquilo que é sensual e tudo o que venha a ser uma reles manifestação rasteira
de vulgaridade, como bem nos lembra o escritor Mario Vargas Llosa. Porém, com
uma frequência muito maior do que seria tolerável, confunde-se facilmente a
segunda com a primeira simplesmente porque muitíssimos indivíduos não sabem o
que é a primeira e, por isso mesmo, acabam imaginando que o vulgar seja um
sinônimo de sensual.
(ii)
Podemos ter uma clara noção da
gravidade em que se encontra nossa alma frente às pelejas contemporâneas apenas
levando em consideração o profundo desdém que se nutre pelo silêncio e pelos
preciosos momentos solitários.
Uma sociedade que não fomenta nem
uma coisa, nem propicia a outra está fadada a se degradar. Os indivíduos que
não procuram cultivar, nem defender esses tesouros espirituais são sujeitos
condenados a cair numa ignóbil e lenta decomposição moral.
(iii)
As alminhas politicamente
corretíssimas facilmente se impressionam e dão seus espetáculos de moralismo de
meia pataca quando um cidadão reage de modo agressivo por estar farto de ser
feito de otário pelo sistema, de ser ludibriado por aqueles que sempre contam
com a leniência do dito cujo.
(Nossa [!], dizem as alminhas, como
ele pôde ousar fazer isso e blábláblá).
Porém, todavia e, entretanto, essas
mesmas alminhas jamais param pra cogitar no quanto esses cidadãos, anônimos até
estourarem em seu dia de fúria, tiveram de aguentar até aquele momento de ira
da camarilha que se locupleta com a cultura da impunidade que impera em nosso
país.
E não pensam nisso porque o cidadão
comum, que procura, na medida do possível, viver de modo correto, não se
enquadra nos estereótipos de vítima do tal sistema que são consagrados pela
grande mídia e pelo establishment.
Enfim, seja como for, são justamente
essas alminhas, que tanto falam em alteridade, em procurar compreender o outro
que são incapazes de compadecer-se dessas pessoas que, até então, apenas
desejavam viver suas vidas em paz até que as estereotipadas vítimas do tal sistema
resolveram vacilar e, de mãos dadas com as potestades estatais, afrontar a sua
paciência.
Aí, meu caro Watson, não adianta
protestar contra o leite derramado.
(iv)
A afirmação da busca pelo prazer
como se fosse sinônimo da busca pela felicidade não é, de modo algum, como
prega a mentalidade contemporânea, a mais excelsa forma de afirmação da
liberdade individual. Não mesmo.
Na real, tal busca é o caminho
certo para a escravização da alma humana ao que há de mais baixo em nossa
natureza, tornando-nos subservientes justamente àqueles que diziam – e dizem -
que tal procura hedonista seria um inalienável direito fundamental todinho
nosso.
Enfim, da mesma forma que facilmente
se engana uma criança com um docinho, hoje, grupelhos totalitários fazem de
trouxas cidadãos que pensam que seus umbigos desejosos são ao mesmo tempo o
centro do mundo e a coluna de sustentação duma tal democracia. Só que não.
(*) Professor, cronista e
bebedor de café.