Bem vindo ao blog de Dartagnan da Silva Zanela, Cristão católico por confissão, caipira por convicção, professor por ofício, poeta por teimosia, radialista por insistência, palestrante por zoeira, bebedor de café irredutível e escrevinhador por não ter mais o que fazer.

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QUASE POESIA, N. 105

Quando as mãos cansadas se veem unidas
E os joelhos se dobram diante do altar
Para uma humilde prece aos céus entoar
A corte celeste coloca-se ao lado
Da alma suplicante que reza com seu fardo
Para que a graça insistentemente pedida
Possa urgentemente ser por Deus atendida
E para que sua alma suplicante seja inundada
Pela doçura da misericórdia divina.

VERMELHOS, VERMELHINHOS E VERMELHÕES

Por Dartagnan da Silva Zanela (*)

Boa parte dos trabalhadores brasileiros sonha em ter o seu próprio negócio, em ser dono do próprio nariz. E, sonham isso, porque são pessoas que trabalham pra caramba e sabem muito bem o valor do seu suor derramado diariamente.

Quanto àqueles que não sonham em tornar-se patrão também almejam ser dono do seu nariz, porém, almejam isso por outros meios; com o fruto de seu trabalho que também, por sua deixa, não é pouco não.

Seja como for, todo trabalhador, à sua maneira, procura viver de modo digno, prestativo e bom, altivamente enfrentando as dificuldades que a vida apresenta de maneira honesta e audaz.

Bem, já para os comuninhas, de um modo geral, trabalhador é quem eles dizem que é trabalhador. Infelizmente, sua visão de mundo binária lhes dá uma compreensão atabalhoada do que é o trabalho.

De mais a mais, essa gente sonha, ao contrário dos trabalhadores reais, com o que eles chamam de "um mundo melhor possível" (que medo que isso dá), e, de quebra, imaginam que são os legítimos representantes da classe trabalhadora de todo o mundo e de todos os tempos.

E ai daqueles que não aceitarem isso! Os infelizes que não os reconhecem como sendo a vanguarda proleta são tidos pelos rubro-fofinhos na conta de traidor - mesmo que as pessoas rotuladas como traíra nunca tenham sido consultadas sobre isso e, pior, mesmo que nunca, nunquinha, os infelizes tenha feito alguma espécie de jura mafiosa de lealdade aos vermelhinhos.

E tem outra: os comuninhas – declarados, disfarçados e enrustidos – sonham, como sonham, em ter plenos poderes sobre tudo e sobre todos para, totalitariamente, poder impor seus delirantes sonhos utópicos dum tal mundo melhor possível, tornando assim, cedo ou tarde, a vida de todos os trabalhadores um terrível pesadelo infernal como, aliás, o é em todos os países que são governados por regimes inspirados nos furúnculos cerebrais de Karl Marx e de sua pacutia revolucionária.

Todos veem essa obviedade ululante. Todos. Menos eles porque a viseira ideológica vermelha, como todos sabem, não permite isso não.

Quanto a nossa classe política que, por sua deixa, também diz nos representar devido aquele vazio ato de fé chamado voto, que lhes é sufragado de tempos em tempos, bem, não são dignos de qualquer comentário que seja, nem mesmo dum insulto.


 (*) Professor, cronista e bebedor de café.

QUASE POESIA, n. 104

Se a verdade não fosse poética
As palavras tornar-se-iam
Tão insipidas e assépticas
Que nossos olhos acabariam
Se fechando e nossa alma fétida
Em seu leito, sozinha, sufocar-se-ia
Na soberba e vaidade caquética
Que faz pouco da poesia.

COMER TOMATE CRU

Por Dartagnan da Silva Zanela (*)

Em algumas ocasiões, devido as minhas malfadadas escrevinhações, uma e outra pessoa gentilmente me pergunta por que vivo tão indignado com isso e aquilo, ou me parabenizam por essa ou aquela manifestação indignada. Porém, todavia e, entretanto, quem disse que sou um caipora indignado? Não sou e nem estou indignado com nada não. De jeito maneira.

Na verdade, pra ser bem sincero, fico fulo da vida com café frio e por causa de cerveja quente. Fora isso, sou um caboclo bem sossegado.

Então como explicar o tom pra lá de amargo de minhas linhas mal escritas? Bem, meu azedume é apenas uma questão de estilo, digo, de falta de estilo. Coisa de bicho do mato, de um caipira provocador que acha bonito ser feio. Só isso.

Mandando a real, rio muito quando escrevo sobre as desventuras humanas e, obviamente, sobre minha flagrante impotência diante dela. Isso sem falar que não espero que meus ditos mal ditos sejam prontamente acatados por fulano ou sicrano. Reconheço e aceito estoicamente minha insignificância.

Dou-me por satisfeito se, modestamente, e se possível for, poder dividir, com aqueles que gentilmente me leem aquilo que me inquieta e, desse modo, aliviar minha alma.

De mais a mais, meu caro Watson, esse papo de indignação é coisa de cidatonto crítico pra lá de fingido que, aliás, faz-me rir pacas.

Não existe na face da terra – ao menos nas terras brazucas – sentimento mais artificial e artificioso do que essa tal de indignação que, literalmente, é apenas um beicinho feito por quem espera que os outros façam algo que nem ele mesmo tem coragem e capacidade de fazer e, por isso mesmo, bate o pezinho, e dá seu gritinho de "cidadão de passeata" pra tentar disfarçar o seu fiasco existencial.

No fundo, bem no fundo, toda e qualquer manifestação de indignação pública de apelação publicitária, politicamente correta, não passa duma forma de covardia nada original e pouquíssimo convincente.

Enfim, sem mais delongas, quero apenas dizer de modo pouco adocicado que não sou um cidadão indignado não e que, diga-se de passagem, tenho pavor de gente que faz da dita da indignação o mastro de suas furibundas bandeiras éticas, políticas e ideológicas.

No final das contas, como havia dito no princípio, sou apenas um palhaço sem graça que nas horas vadias se ocupa, entre outras coisas, de brincar de juntar uma palavra aqui com outra acolá pra ver se elas ecoam de alguma forma no deserto da realidade.

(*) Professor, cronista e bebedor de café.

QUASE POESIA, N. 103

A vida, estando no fim
Ou próxima da sua metade
Acaba pra você e para mim
Revelando indelicados
Pedriscos da divina Verdade.

NOTAS, NOTINHAS E TEXTÕES

Por Dartagnan da Silva Zanela (*)

(i)
O problema não é tanto a falta de justiça, mas sim e principalmente, a confusão cínica que se faz dessa virtude cardinal com todo e qualquer chilique politicamente correto.

(ii)
Maledicência das maledicências! Não sou versado nas exotéricas ciências jurídicas, porém, algo que me parece mais que óbvio é a confusão que se faz, de maneira propositada ou não, entre o formalismo excessivo - que engessa e engabela o senso das proporções - com a virtude cardinal da justiça e, inclusive, com as tais instituições democráticas. Tão óbvio que a dita confusão esconde-se bem debaixo de nosso nariz.

(iii)
Todo aquele que adora, de paixão, ideias pedagogescas progressistas que prometem mundos e fundos em matéria de educação, ideias essas que, por sua deixa, nunca apresentaram um único bom fruto que seja, deveriam carpir um bom eito repleto de ervas daninha num terreno pedregoso e acidentado qualquer.

É sério! E não estou de zoeira não ao sugerir isso. Não mesmo. Digo porque gosto muito de fazer isso e, tal prática, que ocupa algumas horas de minha semana, me leva a muitas meditações sobre essa e outras temáticas inerentes a desventura humana.

A ignorância soberba, hoje, mais do que nunca, vê-se protegida, estimulada e mimada por leis e instituições que são inspiradas em ideias progressistas [politicamente corretas]; em concepções pedagógicas equivocadíssimas. Tal ignorância, por sua deixa, é como um terreno pedregoso, repleto de lixo e coberto de inço.

O terreno, como nossa mente, não pode ser limpo e o solo não pode ser devidamente revolvido e preparado para o plantio com bom mocismo, nem com o fomento dissimulado de trocadilhos ideologizados, muito menos com aquele papo furado de educação crítica.

É preciso, sim, uma enfática ação, pois o entulho e o mato, tal qual a ignorância, não irão voluntariamente sair e dar lugar o bom fruto do saber.

Porém, como todos nós sabemos, o ponto de partida, em matéria de educação na nossa triste nação é não desagradar ninguém, mesmo que esse agradar a todos signifique manter cada um, ao seu modo, perdido no meio dum matagal de auto-enganos e presunções mil.

Infelizmente, goste-se ou não, toda essa lengalenga de educação crítica tem formado às pencas uma multidão de militantes autômatos, inférteis como um terreno baldio que acolhe toda e qualquer tranqueira, mas dificilmente é capaz de parir um indivíduo autônomo, profícuo e zeloso como um terreno devida e soturnamente trabalhado.

Enfim, enquanto não nos convencermos do fato ululante de que a ignorância, por definição, resiste e afronta as investidas de todos aqueles que querem bani-la, a educação continuará sendo praticamente uma impossibilidade fantasiada com toda aquela pompa publicitária que só engana quem se recusa usar os olhos para ver a realidade sem temer ou tremer.

(iv)
Percebe-se o quão bocó é esse trololó de pensamento crítico quando se vê que os seus arautos demonstram uma, como direi, significativa incapacidade pra diferenciar o que seria uma opinião sobre algo duma informação sobre alguma coisa.

Pois é, a idolatria desse trem ideologicamente fuçado chamado de educação crítica, por essas e muitas outras, é um caminho mui seguro para se obter uma sólida proficiência em analfabetismo funcional.

E não adianta fazer beicinho porque os números aí estão. Não dá pra negar o óbvio ululante, mesmo que se invistam mundos e fundos para negá-lo.


(*) Professor, cronista e bebedor de café.

QUASE POESIA, N. 102

Um erro não existe para,
De modo fingido,
Ser questionado.
Se ele está presente
Deve ser corrigido
Imediatamente
Sem papo furado.

OLHAI OS DELÍRIOS DO CAMPO

Por Dartagnan da Silva Zanela (*)

Mais importante que ficar discutindo com fulano ou beltrano sobre esse ou aquele assunto, é estudar e meditar de modo sério e desapaixonado sobre o que os néscios tão convictamente discordam sem ao menos ter parado para conhecer razoavelmente as ramificações e implicações daquilo que ocupa o seu falatório oco e presunçoso.

Boa parte do que se discute a respeito de política - nacional e internacional - é dessa natureza.

Praticamente tudo o que se parla sobre essa seara, aqui nessa terra de botocudos, não passa dum blábláblá desse gênero onde nervosamente se afirma um monte de lugares comuns como se esses fossem o suprassumo da sabedoria prática; como se o mundo dependesse das conclusões vazias que são enunciadas nessas conversas viciosas e viciantes.

Enfim, seja como for o gosto da freguesia, esse trem fuçado é algo tão divertido de se ver quando triste de se testemunhar.


(*) Professor, cronista e bebedor de café.

DA SOLITÁRIA AFLIÇÃO HUMANA

Por Dartagnan da Silva Zanela (*)

É de conhecimento comum que Deus, num gracioso ato amoroso, deu-nos o livre-arbítrio, nos facultou a possibilidade de escolher entre a liberdade fundada na Verdade e a escravidão alicerçada na mentira.

Poderia Ele ter nos privado do livre-arbítrio e obrigar-nos a servi-Lo compulsoriamente, porém, se assim o fosse, ao invés de sermos um ser medianeiro entre os elementos celestes e terrestres, seríamos apenas criaturas autômatas; não humanos.

Resumindo o entrevero: Deus, generosamente, abriu mão do controle que Ele pode ter sobre cada um de nós e deu-nos a possibilidade de escolhermos segui-Lo amorosamente ou afastarmo-nos Dele danadamente.

E vejam só como são as coisas: todo indivíduo humano que sofre com o drama da irreligião, com a perda da fé ou, nos casos mais extremos de angustia existencial, entregando-se ao tacanho ateísmo militante, dum modo geral, são indivíduos obcecados por controle, ciosos para reduzir tudo a um miserável punhado de esquemas lógicos que caibam direitinho em sua cuca.

Trocando por miúdos: tudo o que não pode ser reduzido e enquadrado dentro dos mesquinhos limites de sua mente, para essas angustiadas pessoas, não existe; não pode existir nada que não seja ilusoriamente controlado por suas parcas luzes pseudo-racionais.

Sem perceber, a pobre alma afoga-se gradativamente em sua soberba e, de modo caricatural, acaba colocando-se acima da própria realidade, haja vista que, por colocar-se no centro do todo, ela passa a imaginar que tudo o que existe, apenas existe, porque a sua palavra pode reduzir a realidade, em todo sua complexidade e vastidão, a uma explicação que seja plausível, palatável à sua indigência espiritual.

Na verdade, muito disfarçadamente, essas almas sofredoras apenas varrem para debaixo do tapete da vida todas as questões que seus avaros esquemas mentais não conseguem explicar. Aí, meu caro, é mamão com açúcar. Se excluir do espectro de minha percepção tudo o que é inexplicável, o que sobra torna-se totalmente explicável, porém, essa fração não é a totalidade do real por mais que, como direi, num mundano ato de fé, se insista nisso.

Se eu excluo do meu horizonte de consciência tudo aquilo que eu não consigo compreender e digo para mim mesmo que isso não existe, que não faz parte do mundo real, então tudo pode passar a ser reduzido a pequenez da minha vontade de conhecer e, fazendo isso, vê-se claramente o quando que essas pessoas existencialmente angustiadas são incapazes de suportar o estado de dúvida, em misto com o espanto, por muito tempo que, num ato de desespero, levam-nas a agarrarem-se ao seu mundinho de considerações edificado com um amontoado de retalhos formados a partir duma miserável cultura de almanaque.

Resumindo: tais almas substituem a vastidão das questões, desprezadas por elas, por um espantalho retórico furibundo que as protege da realidade e, ao mesmo tempo, lhe faz imaginar que ”explicam cientificamente” tudo por fazerem isso.

Enfim, seja como for, estar diante do absoluto, contemplar a grandeza e a beleza de toda a criação, meditar sobre a finalidade última da nossa existência individual e bem como da existência do próprio cosmo é algo fundamentalmente humano que, em si, com o perdão da palavra, já nos diz muita coisa a respeito de seu Artífice se, é claro, estivermos dispostos a conhecê-Lo.

(*) Professor, cronista e bebedor de café.

QUASE POESIA, n. 101

A Cruz que fere e sangra Nosso Senhor
Torna-se mais e mais pesada enquanto
Insistimos em identificar de modo leviano
A luxúria e a vaidade com o sublime amor
Escarnecendo sem a menor vergonha
O sacrifício de Cristo no alto da montanha.

QUASE POESIA, N. 100

Coloquei-me diante do espelho
Do velho e suado banheiro
E espantei-me com o reflexo
Do homem cansado e perplexo
Que acabei me tornando
Com o ligeiro passar dos anos.

QUASE POESIA, N. 99

Queira ou não queira
A prova é disposta
Sobre a maciça carteira
Onde a alma está posta
Na hora derradeira
Onde devesse provar
Com boas maneiras
E com justa prosa
De que matéria é feita
A força que guia
O traçado da letra torta
Que é todinha minha
Dando forma às respostas
Linha por linha.

QUASE POESIA, n. 98

Rezar sem cessar aos céus
Liberto de todos os véus
Que ficam dormentes 
Entre a alma aflita
E a piedade Divina
É plena e seguramente
O primeiro e grande passo
Do corpo, da alma e da mente,
Resoluto e firme na direção
Que nos leva para o real paço
Da sabedoria do novo Adão.

QUASE POESIA, n. 97

A barba negra cresce, desce...
Esperando que a navalha suba
E deslize suave com a espuma
Sobre as rugas da minha pele.

QUASE POESIA, n. 96

O cãozinho, corre, rola e late
De contento com a dita liberdade
Concedida pela mão que lhe alimenta,
Que o acaricia e, depois, o acorrenta.

RESUMINDO O ENTREVERO

Por Dartagnan da Silva Zanela (*)

O pedante, dum modo geral, é aquele sujeito que, após ter se "dedicado" um pouquinho a algum tipo de estudo, vive ininterruptamente fazendo aquela afetada pose de sabido.

Já o caboclo que diz ser um conhecedor crítico de alguma coisa, que afirma ser o detentor de uma tal de consciência crítica sobre isso e aquilo - que nada mais é do que um azedume rancoroso - não passa de um carniça que imagina saber algo simplesmente porque repete um punhado de frases feitas e um bom tanto de cacoetes mentais.

Tal repetição bocó dá - a ele e a seus iguais, similares e genéricos criticamente corretos - uma sensação de superioridade moral ao mesmo tempo em que o caipora se afundam numa latrina de ignorância e soberba absoluta.

Enfim, resumindo o entrevero: o primeiro é apenas um idiota; o segundo, um idiota bem mais que perfeito.


(*) Professor, cronista e bebedor de café.

QUASE POESIA, n. 95

Na consciência mora
A verdade silenciosa
Que grita a toda hora
Pra de forma amorosa
Despertar sem prosa

Nossa alma vaidosa.

QUASE POESIA, N. 94

Toda alma sebosa
Faz-se de vítima
Afetada e pomposa

Se algo a irrita. 

QUASE POESIA, n. 93

Sou franco em lhe dizer meu compadre
Que a cada dia que passa mais me cansa
Ter de ouvir aquele falatório de araque
Regurgitado pelas almas soberbamente tansas

Empapuçadas com sua vil cultura de almanaque.

QUASE POESIA, n. 92

Deus espera com paciência e vagar
Para, aos corações endurecidos, revelar
A verdade que negam soberbamente
Por diminuírem o real aos limites

Surreais da sua agonizante mente.

QUASE POESIA, n. 91


Quando debaixo vem a provocação
Grita-se por considera-la um insulto
Quando decima vem a azucrinação
Berra-se por encará-la como abuso.

APENAS UM CHILIQUE [DEPRE]CÍVICO

Por Dartagnan da silva Zanela (*)

Existem inúmeras ideias que são profundamente corruptoras da alma humana e, na atualidade, o que mais temos é esse tipo de choldra.

Dentre elas, uma que gostaria de destacar nessas minguadas linhas é a de que a sociedade tem uma dívida para com todos e, uma bem grandona para com alguns de modo particular, que devem ser atendidas e acolhidas na forma dum direito.

O vício dessa ideia está em sua própria enunciação. Dum modo geral, todos nós, uns mais que outros, somos devedores das gerações que nos antecederam e duma multidão de indivíduos que com sua criatividade, genialidade e, nalguns casos, empreendedorismo, tornaram possíveis inúmeras coisas que nós mesmos seriamos incapazes de conceber em nossa empobrecida imaginação (e quem o diga realizá-las). E, mesmo assim, usufruímos de seus frutos.

Quando passamos a refletir sobre esse outro prisma, torna-se praticamente inevitável que cheguemos à conclusão de que, na verdade, devemos muito mais a sociedade que essa a nós.

Não? Bem, então perguntemo-nos em que nós contribuímos para tornar, não a sociedade, mas a vida de algumas pessoas mais confortável? Qual é a nossa contribuição para a elevação da dignidade de nossa gente, daqueles que nos circundam? Melhor! O que temos feito para sermos simplesmente mais dignos, prestativos e bons? O que?

Pois é, mesmo assim acreditamos candidamente que a tal da sociedade nos deve alguma coisa.

Pior. Educar na base dessa ideia viciada e viciosa produz em larga escala uma multidão de ingratos desprovidos do mais raso senso das proporções, de responsabilidade, e incapaz dum mínimo de simpatia. Quem o diga de empatia.

Enfim, a única coisa que pode ser parida tomando por base essa visão distorcida da realidade é uma sociedade podre de mimada que crê, candidamente, que sua putrefação moral é o suprassumo da tal da cidadania. Só isso e olhe lá.


(*) Professor, cronista e bebedor de café.

QUASE POESIA, n. 90

A palavra agrilhoada
Pelas falsas liberdades
Somente é emancipada

Pelo brado da verdade.

QUANDO A MASSA FECAL VAI PRA CABEÇA

Por Dartagnan da Silva Zanela (*)

(i)
No Brasil, com uma frequência indesejável, confunde-se o glamour da vida literária e o status da vida acadêmica, com o amor a literatura e a procura sincera e abnegada pela verdade. Simplificando muito mais do que devíamos: aqui, nessas terras, carreirismo oco é sinônimo de realização de uma vocação.

(ii)
Pra que serve a literatura? Em princípio, para entendermos o quão idiota é esse tipo de pergunta tão soberba e frequentemente feita num mundo que se ufana de sua bárbara idiotia.

(iii)
Numa sociedade onde o desamor ao conhecimento e a devoção idolátrica aos títulos bacharelescos é a regra geral, qualquer discurso que aponte para a educação como sendo a solução de todos os padecimentos sofridos pela nacionalidade, será, na maioria das vezes, apenas um simulacro de inquietação [depre]cívica bem vagabundo, haja vista que, a educação, definitivamente é uma joça praticamente ignorada por todos, principalmente por aqueles que vivem dando pitaco sobre como ela deveria ser, sem, ao menos, ter empreendido algum esforço sincero, por mínimo que seja, na direção da edificação da sua própria.

(iv)
Não queira ser respeitado por todos provocando escândalos, dando um chilique aqui e outro acolá, como se tudo e todos devessem tratá-lo assim ou assado, com uma deferência digna apenas de pessoas altamente aquilatadas.

Também não queira que todos fiquem massageando seu ego – já mui mimado - de cidadão criticamente crítico, imaginando que tal exigência egocêntrica e egolátrica seja uma manifestação cristalina de amor. Não queira mesmo. Não mesmo. Tais atitudes são ridículas do princípio ao fim, por mais que a classe falante diga o contrário.

Bem, se por ventura, imaginarmos que esse escrevinhador saquarema está equivocado no que aponta, então imaginemos a seguinte situação:

Se um grupo de pessoas que você não nutre o menor sentimento de empatia e simpatia desse um chilique [depre]cívico igualzinho a um grupo de indivíduos que você ama de paixão - que bate o pezinho para ser repeitadinho e amadinho por todos - o que você diria a respeito deles?

Pois é, veja só como são as coisas, não é mesmo?


(*) Professor, cronista e bebedor de café.

QUASE POESIA, n. 89

Otimismo é para fracos
Facilmente enfeitiçados
Por palavras ocas.
Já para os derrotados
Que se entregam rápido
Frente a ameaças tolas
Temos o pessimismo fácil

Último refúgio dos larápios.

QUASE POESIA, n. 88

A biblioteca está vazia
Toda largada, sozinha,
Sem nenhuma companhia

Que tenha alguma valia.

APENAS UMA MULA NERVOSA

Por Dartagnan da Silva Zanela (*)

(i)
Desconfie. Desconfie. Desconfie. Mas desconfie mesmo de todo e qualquer caboclo que, empavonado, insiste sempre em exibir-se pra ti com aquela velha e rasa cultura de almanaque. Dum modo geral, praticamente sem a menor margem de erro, esse tipo de sujeito tem apenas uma visão superficial de tudo com o que ele procura se exibir.

(E cuidado, compadre, muito cuidado, que isso é contagioso).

Detalhe: cultura essa edificada impacientemente a partir de levianas pinceladas dadas nas horas vadias através das ondas dum buscador qualquer da internet, formando, desse modo, uma coleção de cacos digitais que é exibida perante as almas desatentas para impressioná-las e, ao mesmo tempo, fazer com que seu ego sinta-se massageado pelos olhares embasbacados das mesmas almas distraídas, facilmente impressionáveis.

Pois é, compadre, isso cansa, cansa mesmo, mas, no fundo, é divertido pacas ver essa faceta do picadeiro da vida brazuca; é risível - como é - testemunhar o quão grande pode ser o ridículo que uma pessoa está disposta a se expor para não ter de encarar a sua miséria humana.

(ii)
Se você, compadre, deseja realmente fiar o eito do arado da sua vida pela linha que nos leva a edificação duma vida intelectual razoavelmente séria, lembre-se que, em primeiro lugar, isso não significa que você deverá passar a azucrinar os outros com curiosidades superficiais adquiridas com a finalidade tonta de impressionar ouvintes imprudentes. Significa, sim, que você deverá dedicar-se a conhecer certas coisas que, por sua própria natureza, você dificilmente conseguirá comunicar aos círculos de conversas vadias devido a sua sólida substância, mas que, por essa mesma razão, irá robustecer a sua personalidade e fortalecer o seu caráter tornando-o uma pessoa muito mais digna, prestativa e boa.

(iii)
A exibição histriônica duma cultura de almanaque é um veneno para a formação de uma alma por uma razão muito simples: esse tipo fragmentário de conhecimento, colhido aleatoriamente e exibido a esmo nas rodas de conversa, acaba, sem percebermos, nos impondo dois vícios: (i) o de nos contentarmos com o cultivo de futilidades culturais e (ii) de almejarmos ser bajulados pelas almas sonsas quando exibimos essas quinquilharias.

Aliás, é muito fácil cairmos nessa ciranda maldita, haja vista a nossa grande inclinação para a sebosa via da vaidade, não é mesmo? Pois é.

Por isso, abram olhos navegantes e fujam, fujam mesmo, da procura por aplausos e pelo reconhecimento das almas desatentas que não resistem a um showzinho dum mosaico cultural superficial vivo. Isso, realmente, é algo que corrompe a alma até o tutano.

(iv)
Sei que se conselho fosse coisa boa não era dado, mas, vá lá, permitam-me unzinho. Quando alguém vier ministrar uma lição áurea que nos leve a aceitar que o ser humano é mau por natureza ou a crermos que somos originariamente bons, lembre-se: não somos nem uma coisa, nem a outra.

Não somos tão grandes assim. Não mesmo. Na realidade, somos apenas criaturas mesquinhas, pequenas, resumindo, em nosso estado de natureza somos fundamental e absolutamente medíocres. Só isso e olhe lá.


(*) Professor, cronista e bebedor de café.

QUASE POESIA, s/n

Nada é mais covarde
Numa rede social
Que um ataque
Feito com maldade
E de modo vil
Por um falso perfil
Que oculta a face
Dum linguarudo sem
Dignidade.

REFLEXÕES CÁUSTICAS EM GOTAS

Por Dartagnan da Silva Zanela (*)

(i)
Todo imbecil de carteirinha, quando ouve algo que não se enquadra dentro dos mesquinhos e miseráveis limites de seus esquemas mentais, ao invés de dizer para si que não entendeu, porque não conhece o que está diante das meninas de seus olhos, prefere protestar e dizer, com aquela pose de douto ignorante, que não concorda e blablablá.

Bem, para esse tipo rasteiro de gente, aprender algo novo seria apenas uma forma escolarizada de se reafirma a soberba de sua ignorância inconfessa. Raramente lhes ocorre que a realidade pode ser um pouquinho mais ampla que sua preguiça cognitiva e bem mais complexa que sua desídia moral.

(ii)
A inferioridade da alma torna-se visível a todos os olhos, inclusive aos mais desatentos, quando o sujeito entrega-se sem muita cerimônia ao visceral remorder-se do ressentimento, seja ele invejo ou não.

(iii)
Toda vez que somos brindados com um novíssimo neologismo politicamente correto, engajadíssimo, esse nos é apresentado não com o intento de nos auxiliar na obtenção de uma melhor e mais ampla compreensão da realidade, não mesmo. Essas tranqueiras são criadas com o vil propósito de formatar nosso silêncio interior, intimidar o pronunciamento de nossa fala e, com uma sutiliza sombria, dominar os gestos de nosso corpo e os gritos e suspiros de nossa alma.

(*) Professor, cronista e bebedor de café.


QUASE POESIA, n. 87

Se as fantasias e taras
Da vida íntima humana
Acabam sendo elevadas
À categoria de sagradas
É porque a vida mundana
Fez-se a única regra válida
E a reinante vileza profana
Tornou-se aquela que manda...
Entre nós a autoridade máxima
De nossa delirante e trágica

Decadência contemporânea.

QUASE POESIA, N. 86

A densidade da coragem
É medida abruptamente
No estrondo da voragem.

COLOCANDO LENHA NA FOGUEIRA

Por Dartagnan da Silva Zanela (*)

(i)
Não confunda a justificação de suas opiniões com a apresentação dos fundamentos da mesma. No primeiro caso apenas afirma-se porque você simpatizou com a dita cuja. Na segunda situação procura-se indicar as razões que a sustentam independentemente de sua simpatia ou antipatia.

(ii)
Uma das frases mais tontas, das tantas que compõem a prosa pronta e artificiosa das conversas vadias, é aquela onde o sujeito afirma que ele é uma pessoa adulta, envelhecida, mas que possui uma alma juvenil. Espere aí: quer dizer que o caipora envelheceu e não quis e nem quer saber de amadurecer? Bem, antigamente Nelson Rodrigues havia dito, numa entrevista, que se fosse dar um conselho para os jovens, seria: envelheçam. Hoje, se vivo fosse, o grande Nelson diria, sem pestanejar, aos adultos: larguem mão de criancice e amadureçam.

(iii)
O que é um adulto que diz ser o portador duma alma juvenil? O que é uma pessoa envelhecida que insiste em agir e pensar como um guri? Só um idiota que imagina que seu desvio existencial seja algo que mereça a atenção, admiração e imitação de todos. Só isso.

(iv)
A democracia dos sonhos da pelegada vermelha é ver nosso cambaleante e triste Brasil tornar-se uma Venezuela de corpo e alma.

No disforme entendimento dessa gente, o que impera nessa tristíssima nação, a Venezuela de Simón Bolívar, seria fundamentalmente uma avançada democracia mal compreendida pela zelite golpista que não reconhece os inúmeros avanços e conquistas obtidos pelo regime bolivariano.

Pois é, vai ser alienado assim lá no mausoléu de Hugo Chávez.

(v)
Sejamos francos: defender o aborto e, ao mesmo tempo, transformá-lo numa espécie caricatural de bandeira ética e cívica nada mais é que advogar em favor do assassinato de um inocente sem o menor direito ao reconhecimento de sua existência e, se isso já não fosse suficiente, pregasse cinicamente, junto com tudo isso, a transubstanciação dessa monstruosidade num direito fundamental. Resumindo: isso tudo não passa duma pura e simples apologia do mal, por mais empavonada que sejam as alegações apresentadas em sua defesa.


(*) Professor, cronista e bebedor de café.

QUASE POESIA, N. 85

O silêncio discreto do cair da tarde
Convida-nos sempre, sem alarde,
A meditarmos sobre o crepúsculo

Que irá nos deixar em sono sepulto.

QUASE POESIA, N. 84

Na quadratura do círculo
Habita o signo do ridículo
Duma vida sem sentido.