Por Dartagnan da Silva
Zanela
(1)
Num bate-boca entre um medíocre e
um homem feito, sempre o primeiro vence o segundo porque o superior
necessariamente tem que se curvar para ficar à altura do anódino e esse, em sua
bazófia, imagina tolamente que está à altura do homem circunspecto.
E se a pessoa amadurecida não se
rebaixar ao nível do cretino, logo ele começa de mimimi dizendo que está sendo
humilhando pelo malvadão.
Enfim, dum jeito ou de outro, não
a menor possibilidade de diálogo entre espécimes tão distintos, tamanho o
abismo que há entre elas. Abismo esse caridosamente reconhecido pelo segundo e
tolamente ignorado pelo primeiro.
(2)
O medíocre ao tentar dissimular
luz própria apenas revela o quão à sombra ele vive, o quão obscuro ele é.
(3)
Quando ouço aquele papo piegas
que reza sobre a importância da liderança jovem pra mudar o Brasil, vem-me a
mente as palavras de dois grandes sábios.
Primeiro, as palavras do
embaixador J. O. de Meira Penna que, em seu livro “O Brasil na Idade da Razão”,
dizia que confiava mais nos jovens silenciosos que estudam zelosamente para
serem mais dignos e poderem melhor servir a coletividade do que naqueles guris
que vivem nas ruas fazendo estardalhaço; que fazem da balburdia a sua razão de
existir.
O segundo seria o grande Nelson
Rodrigues que dizia, sem pestanejar, que os jovens deveriam urgentemente
envelhecer para entender que a juventude, em mãos imaturas, é um grande
desperdício. E que desperdício.
E digo mais. E quem disse que um
jovem ansioso pra mudar o Brasil e mundo quer saber de entender alguma coisa?
Pois é, por essas e outras que é um grande desperdício confiar nesse tipo de
gente que não quer envelhecer, nem aprender com quem envelheceu; com quem muito
viveu.
(4)
Ao que tudo indica a viva alma
mais honesta do Brasil anda meio enrolada com sua honestidade não declarada.
(5)
Nada é mais perigoso que um homem
honesto; nada é mais patético que um homem que se considera honesto.
(6)
Concordo plenamente com Ernesto
Sabato quando esse afirma que devemos desconfiar sempre dum homem que vive o
tempo todo “feliz”, sorridente, porque ou ele é um imbecil ou um farsante. Nenhuma
das possibilidades é digna, nem prestativa, nem boa. Fuja disso.
(7)
Sexo e amor. Amor e sexo. A vulgar
atitude de tornar o segundo sinônimo do primeiro, de confundir uma coisa com a
outra, é apenas um reflexo da animalização que dia após dia vem tomando conta
das relações humanas na sociedade moderna.
(8)
Todo aquele que ignora as suas
contradições e estampa em sua face, o tempo todo, um inumano sorriso
paisagístico, é apenas um homem pela metade. E um homem pela metade é tal qual
uma meia verdade. É apenas uma farsa completa mal disfarçada. Apenas isso. Nada
mais do que isso.
(9)
Quando você estiver lendo um
livro, seja da grande literatura universal ou não, e um caipora com pose de
sabidão lhe perguntar qual é a análise crítica que você faz do mesmo, abandone
o sujeito, e bem rápido, porque se você se demorar só um pouquinho com o
cafifento, ele começará a falar, e falar, e falar e então seus ouvidos serão
utilizados com uma latrina para excrementos verbais multiculturais e sua cabeça
transformada numa fossa para os dejetos ideológicos que pululam nesse tipo de
alminha criticamente crítica.
(10)
Qualquer pessoa minimamente
inteligente e, porque não, decente, não lê um livro movido pelo vil prazer de
criticá-lo, mas sim, pela necessidade de aprender com a leitura de suas
páginas.
(11)
Quando a boa leitura de um livro é
confundida com uma tosca interpretação supostamente crítica do mesmo, temos,
infelizmente, a redução da grandeza das possibilidades do universo literário a
estupidez vaidosa de um leitor idiota.
(*) professor e
cronista
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