Por Dartagnan da Silva Zanela (*)
(1)
Claude Lévi-Strauss, afirmava que o Brasil
passaria do estado de selvageria para barbárie sem ter passado um mínimo de
tempo que fosse pelo estágio de civilização.
Tal observação é aterradora por si só, porém,
penso que o quadro é um pouco pior. Não estamos rumando da selvageria
patrimonialista para a barbárie. Estamos sim, partindo para um estado de
pós-civilização comunista. Literalmente.
Explico-me: onde a barbárie impera não mais há a
presença dum Estado organizado, mas sim, pura e simplesmente temos presente o
mando do mais forte, a regra do mais truculento e ponto final. Salve-se quem
puder e do jeito que der.
Num estado de pós-civilização não. No lugar dessa
anarquia da brutalidade geral, tem-se a brutalidade total fortemente organizada
a partir duma burocracia onipresente que regula tudo e todos, inclusive e
principalmente as esferas mais íntimas da vida de cada indivíduo.
Enfim, é para isso que estamos rumando. Pior! Tem
muita gente que clama por isso, que acha esse trem a coisa mais linda do mundo.
É. Essa gente definitivamente não sabe o que está
pedindo. Na verdade, nunca pararam pra pensar nos paranaué que essa tranqueira
envolve. E, assim o é, porque no final dessa tranqueira toda, eles nem estão
percebendo o que está acontecendo. Os idiotas quanto mais progridem em sua
idiotia, menos cônscios se tornam de sua infame condição, ainda mais se ela
estiver melando a vida de todos.
(2)
O grande demérito do que se convencionou a chamar
de educação no Brasil, é que esse trambolho está ensinando muito bem aos
infantes, jovens e adultos, que eles merecem receber todos os louros, mesmo sem
serem dignos de qualquer honraria.
É isso que um sistema educacional, que abertamente
quer acabar com a meritocracia, deseja: dignificar a mediocridade ao mesmo
tempo em que se enxovalha com a honra e o mérito.
Enfim, essa via que foi adotada pela educação
brasileira está, a passos largos, acabando com o futuro de nosso país. Talvez,
já tenha acabado.
(3)
Ao olhar para o espelho, sinto vergonha de mim,
por ser o que sou: um fraco.
Ao olhar pela janela, sinto-me enfraquecido, pelo
fato de sermos o que somos: uma vergonha.
(4)
Deus é justo. Ele sabe o que faz e homologa a
nossa vontade. Porém, nós, invariavelmente, somos estúpidos por demais para
entender a desgraça ululante que estamos cevando para cair sobre nossas
cervizes.
Por isso, não adiante fazer birra não. Ele, o
Altíssimo, sabe o que faz e para onde estamos indo com nossas escolhas tontas.
Nós, de nossa parte, não sabemos nem mesmo o que queremos, nem o que estamos
fazendo com nossas vidas e com os rumos de nosso país.
Enfim, a responsabilidade não é Dele não. Ela é
toda nossa.
(5)
Uns se preocupam histrionicamente com a aprovação
de alunos nominais; outros tantos têm seus olhos sorumbáticos voltados
basicamente para estatísticas vazias favoráveis a aprovações de indivíduos do
mesmo perfil degradado; todavia, quem, de fato, está realmente preocupado com a
educação, com a transubstanciação desses educandos nominais em estudantes
substanciais? Quem? Pode ter certeza que os alunos nominais não estão pensando
nisso, no quanto essa transformação é imprescindível para suas vidas (na
verdade, não estão nem aí); muito menos os biltres irresponsáveis que falam em
nome deles pararam pra pensar nessa urgente questão. São vaidosos demais para
tanto.
(6)
Quando criança eu sonha ser um astronauta ou um
explorador como Jacques-Yves Cousteau. Razão: ficar longe de tudo e de todos,
estilo Robinson Crusoé, seja numa ilha isolada ou num planetoide incerto.
O tempo passou; a criança que um dia fui se foi e
acabai trilhando caminhos distintos do que fora um dia idealizado por mim.
Todavia, do meu jeitão, vivo hoje ilhado em meio a
esse mar de desesperança que se tornou o Brasil, feito um náufrago, com minha
família, perdido no tenebroso ermo oceânico nacional.
Pois é, sem querer querendo, acabei realizando, em
partes, meus delírios pueris.
(*) professor e cronista
e-mail: dartagnanzanela@gmail.com
fanpage: http://facebook.com/dartagnanzanela
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