Por Dartagnan da Silva Zanela (*)
Não existe esse negócio de luta de classes não.
Repito: não há.
O que temos no cardápio da história são desigualdades
de toda ordem e, infelizmente, injustiças de todos os matizes, o que, por sua
deixa, não significa que as primeiras sejam necessariamente conflituosas e,
muito menos, que ambas, as desigualdades e as injustiças, tenham a sua origem
numa perene pugna classista que mereça receber a importância dum imperativo
categórico. Não mesmo.
O que de fato temos, não apenas hoje, mas em toda a
história, é uma infindável luta entre elites. Elites dos mais variados tipos e
das mais diversas estirpes, mas sempre elites.
Inclusive, há quem o diga, que a tal da democracia
seria apenas uma forma diferente de organizar as oligarquias em combate.
Tal afirmação não deixa de ter o seu fundo de
verdade, haja vista que de tempos em tempos, indivíduos com interesses em
comum, e/ou com os mesmos adversários, se agregam numa patota para tomar o
poder.
Observação essa que vale tanto para uma ordem democrática
quando numa situação belicosa.
Algumas dessas patotas tem planos e objetivos de
longo prazo; outras, se organizam a partir de interesses momentâneos e
sentimentos fugidios de afinidade e desprezo por algo ou alguém.
As do primeiro tipo, não é nem preciso dizer, mas
diremos: sempre se sobressaem no jogo do poder por saberem mais claramente onde
desejam chegar e como pretendem fazer isso.
Os do segundo naipe, por sua deixa, parecem muito
mais moleques jogando uma pelada num potreiro do que qualquer outra coisa. Mas,
lá estão eles se apresentando como a salvação da lavoura nesse jogo de cartas
marcadas.
Bem, seja como for, sempre tivemos e sempre teremos
elites (grupos, clãs, facções, etc.) em conflito pela obtenção do poder e, cada
uma a seu modo, faz um uso estratégico das desigualdades presentes e inerentes
a estrutura de toda e qualquer sociedade.
(Há algumas que são melhores que outras; outras que
são piores que todas; e, há aquelas que, mutatis mutandis, são menos piores que
qualquer uma).
Trocando em sambiquiras (ou por qualquer outro miúdo
de sua preferência): o povo, o tal do povo, nos discursos e ações dessas trupes
são sempre um instrumento para se conseguir obter o poder e permanecer nele.
Uns fazem isso com mais eficácia que outros, mas, sempre
o fazem com vistas a atender, em primeiríssimo lugar, os interesses de sua
facção e, em segundo lugar, com o intento de acolher os anseios do tal do povo
se o tempo e os recursos assim permitirem, é claro.
Sim, sei que isso é triste, sei disso. Mas é assim
mesmo que a banda toca.
Na verdade, todos sabem e, ao mesmo tempo, fingem não
saber de nada pra poder, ao seu modo, participar desse jogo ignóbil.
(*) Professor, cronista e bebedor de café.