Por Dartagnan da Silva
Zanela (*)
Não podemos ser libertos de algo
se não nos reconhecemos como prisioneiros dele. A lição é simples. Tão simples
quanto antiga e talvez, por isso, tão sumamente desdenhada, principalmente nos
dias atuais.
Todos aqueles que em algum
momento da vida leram A REPÚBLICA de Platão, mais especificamente o famoso MITO
DA CAVERNA, sabem muito bem de quê estamos falando.
Da mesma forma que qualquer um
que tenha observado um pouco que seja os rumos que vem sendo dado para a
educação em nosso país, seja no bojo do sistema ou no âmago de muitíssimas
famílias, sabe muito bem que, atualmente, os grilhões da estultice são tidos na
conta de sapiência e que a sapiência e encarada como um vil grilhão, bem ao
velho estilo da distopia 1984 de George Orwell.
Sendo a ignorância uma prisão os
seus grilhões, não tão invisíveis assim, nos impedem de vararmos para além dos
limites de nossa gaiola.
E tem mais! As famigeradas grades
da estupidez não são conhecidas por nós como despautério não. São por nós
vistas e celebradas como se fossem uma forma de proteção.
É. Conhecer é algo perigoso e,
nesse quesito, Kant estava coberto de razão quando conclamou aos seus
contemporâneos para que eles ousarem conhecer. Sem uma pitada disso, de coragem
e arrojo, não conseguimos romper as limitações a nós impostas e que por nós são
aceitas de bom grado.
Porém, todavia, entretanto, é
preciso que reconheçamo-nos agrilhoados e paremos de imaginar que estamos sendo
protegidos pela nossa estultice. É fundamental que entendamos duma vez por
todas que, todo santo dia, temos que travar uma peleja contra essa força que
investe contra nós todos para nos divorciar de nossa inteligência e,
consequentemente, da verdade.
Sem esse reconhecimento, que a
tanto nos foi ensinado por Sócrates, por uma multidão de sábios e,
principalmente, por Nosso Senhor Jesus Cristo, que, através dos séculos,
repetem a mesma advertência das mais variadas maneiras: de que prova de
idiotice maior não há do que não reconhecer a profundidade de nossa própria
ignorância e ama-la mais que os desafios do ato de conhecer.
Enfim, e que atire a primeira
pedra aquele que não procura abrigo na lúgubre caverna de sua ignorância
voluntária e voluntariosa.
(*)
Professor, cronista e bebedor de café.
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