Bem vindo ao blog de Dartagnan da Silva Zanela, Cristão católico por confissão, caipira por convicção, professor por ofício, poeta por teimosia, radialista por insistência, palestrante por zoeira, bebedor de café irredutível e escrevinhador por não ter mais o que fazer.

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NOTAS CONTEMPORÂNEAS

Escrevinhação n. 1091, redigida no dia 30 de janeiro de 2014, dia de Santa Batilde e de Santa Jacinta Mariscotti.

Por Dartagnan da Silva Zanela


1. 
O passado sempre se faz presente em nossas vidas com suas preciosas lições. Infelizmente, o homem moderno, por encontrar-se agrilhoado aos momentos fugidios destacados da concretude da realidade, faz-se surdo para tais ensinamentos.

Todo o tempo o drama duma multidão de vidas pretéritas está nos advertindo a não repetirmos os mesmos erros. Todavia, insistimos bestialmente em fazermos ouvidos loucos para essas vozes, preferindo ouvir o canto sedutor dos íncubos do presente que nos apartam da experiência a muito vivida em sociedade.

Íncubos que insistem em nos enfeitiçar com suas promessas dum futuro melhor. Melhor como nunca se viu antes na história e, assim será, segundo eles, repetindo os mesmíssimos erros cometidos em épocas anteriores.

Isso sim, meu caro Watson, deve ser a tal da alienação.

2. 
O Silêncio é uma dádiva rara na sociedade contemporânea. Aliás, tão pouco desejada, até mesmo temida por boa parte das pessoas que não abrem mão da confusão urbana, da fragmentação televisiva e do permanente ruído que é característico tanto duma quando doutra.

Não é por menos que se confunde, com tanta facilidade, a multidão de vozes externas que sem serem convidadas habitam nosso íntimo, apresentando-se como sendo a nossa própria voz interior.

Tamanho é o furdunço que essa massa anômica de opiniões acaba tomando, lentamente, o lugar de nossa consciência individual, apresentando-se como uma consciência coletiva - versão 2.0 e, chamada por alguns, pelo epíteto de consciência crítica.

Tal é o estado crítico de demência que toma conta de boa parte de nossa sociedade que confunde a pose firmada em estereótipos politicamente-corretos com o exercício silencioso e solitário da consciência.

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O MAQUIAVALISMO RUBRO

Escrevinhação n. 1088, redigida no dia 28 de janeiro de 2014, dia de Santo Tomás de Aquino.

Por Dartagnan da Silva Zanela


Dum modo geral, os partidos em nosso país, nas palavras de Oliveira Vianna, são clãs políticos que arregimentam interesses grupais (e familiares) em torno de figuras oligárquicas formando uma agremiação de mesquinharias ou, simplesmente, sistematizando a bandalheira, como diria Euclides da Cunha.

Todavia, esse não é o único modelo partidário atuante em nosso país, nem mesmo o mais perverso. Muitos são os teóricos do assunto, porém, um dos que muito escreveu sobre o tema foi Lênin. Tanto escreveu e agiu que muito influenciou. Mas o que esse homem nos diz a respeito da organização e das funções duma agremiação partidária marxista?

Uma das tarefas fundamentais do partido são a agitação e a propaganda. Tais tarefas, de curto e longo prazo, devem ser fixadas por critérios de flexibilidade e eficácia, pois a revolução (não só a tomada do poder) não nasce pronta e acabada. Para tanto o partido deve agir aberta e/ou clandestinamente, realizando as combinações que o favoreça neste propósito.

O mesmo também lembra que se deve aproveitar as condições objetivas existentes no intento de criar as condições necessárias para se obter o poder e implantar o Estado revolucionário. Ou seja: através duma eficaz maquinaria Estatal, instrumentalizada pelo partido e pelas organizações ligadas a ele, deve-se promover a transição do quadro presente para um regime totalitário, reajustando as condições objetivas em todas as estruturas, sejam elas econômicas, sociais, culturais e políticas.

Trocando por miúdos: tudo é válido em nome da revolução. Em seu livro “Esquerdismo – a doença infantil do comunismo”, Lênin diz que é preciso estar disposto a todos os sacrifícios, empregar todos os estratagemas, ardis e processos ilegais, silenciar e ocultar a verdade para realizar um trabalho comunista.

Todas essas orientações da lavra do velho bolchevique ajudam-nos a compreender porque os mensaleiros, juntamente com seus partidários e “simpatizantes”, sentem-se vitimados. Eles acreditam candidamente que estavam apenas procurando criar as condições necessárias a partir das condições objetivas para realizar as metas de longo prazo ditadas por sua ideologia.

Metas que continuam vigentes e sendo galgadas por todos aqueles que são devotos desta ideologia mundana. A prisão desses indivíduos significa apenas uma nova circunstância em que se adaptarão para continuarem na realização com seu projeto de poder que é bem mais amplo que um esquema de corrupção.

Por isso, abra olhos, navegante, que o mar é tenebroso.

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VELHAS PALAVRAS DUM VELHINHO

Escrevinhação n. 1089, redigida em 24 de janeiro de 2014, dia de São Francisco de Sales.

Por Dartagnan da Silva Zanela


Não é conto de fadas! Mesmo assim, iniciemos o causo nestes termos: era uma vez um rapazinho todo intoxicado com aquela velha patacoada comuna, dissimulada em trocentos tons de cinza relativista. Politicamente-corretíssimo! O orgulho mimoso de seus mentores.

Esse espécime caricato tinha um desafeto inconfesso. Era um velho. Funcionário público aposentado, carola, de vida rotineira, caridoso do seu modo, gostava de jogar dominó e doutras estripulias.

Andava meio arquejado pelas ruas, devido o peso dos anos. Muitas das vezes era visto dedilhando o seu rosário, outras tantas, tomando umas pinguinhas e jogando conversa fiada no bar do Sucuri.

Ele detestava o velhote! Não porque o infeliz tivesse feito algum mal para ele. Não é disso que se trata! É porque o senhor representava tudo o que havia de mais reacionário no mundo, conforme seus doutos ídolos de barro haviam lhe ensinado na escola cidadã que freqüentava.

Ele via o semblante enrugado e logo vinha à sua mente todos os ensinamentos iluminados dos seus professores.

Seu sonho era poder esculachar com ele. Isso mesmo! Esculachar! Em público, de preferência! Mas não havia, até então, encontrado a ocasião apropriada para tão elevada empreitada ética.

O tempo passou, o desejo ficou, e eis que o dia chegou! Lá estava o homem do rosário, e das pingas, sentado num banco da praça do bairro.

O garoto decidiu-se! Firmou o passo rumo a ele e foi. Cumprimentou-o com os modos dum íncubo e disse-lhe, decoradinho, o cacoete que havia aprendido: “o que me espanta, meu senhor, é o tamanho da tua hipocrisia! Como pode um homem tão devasso, tão mau, rezar tanto e imaginar-se bom. Como pode?”

O senhor, na sua simplicidade, mirou as tíbias vistas do rapaz e disse-lhe: “eu também não sei meu jovem. Eu também não sei. Mas peço a Deus que me ajude a deixar de ser um homem tão mau. Sozinho sei que não sou capaz. Mas que Ele me livre de ser uma pessoa tão boa e justa como você.

“O que o senhor quer dizer com isso?”, Retrucou o rapagão de maneira tão assustada quanto ríspida.

“Nada que você já não saiba, mas recusa-se a reconhecer”.

De imediato, o rapaz calou-se. Não sabia o que dizer. Sentou-se ao lado do velhote que lhe ofereceu um trago após ter-lhe apontado o caminho para tão obvia verdade.

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POR UMA CRÍTICA DA RAZÃO CURTA

Escrevinhação n. 1088, redigida no dia 21 de janeiro de 2014, dia de Santa Inês.

Por Dartagnan da Silva Zanela


Uma sociedade democrática deve ter em seu bojo grupos políticos tanto de direita como de esquerda. Quesito que o Brasil encontra-se mui distante. Sim, nessas terras cabralinas temos a presença de partidos de centro-esquerda, esquerda, extrema-esquerda e, todos eles, tingidos nos mais variados tons de vermelho de ideologia marxista. Agora, quanto aos partidos de direita, defensores de princípios conservadores ou duma política liberal, inexistem.

O que se convencionou chamar de destra em nosso país é o atraso. Isso mesmo! Tudo o que representa o clientelismo, o fisiologismo, o mandonismo e demais hostes. Por isso, em nosso país, termos como direita, conservador ou liberal são tidos como insulto, haja vista que aqueles que detêm a rubra-hegemonia, com uma estratégia de ação em longo prazo, acabam por estereotipar qualquer visão de mundo contrária à sua.

Ora, sejamos francos: quem no meio intelectual, letrado e nos círculos políticos, discute, por exemplo, as obras de Edmund Burke, Russell Kirk, Eric Voegelin? Quem nessas esferas lê as obras de Murray Rothbard, Ludwig Von Mises e Friedrich Hayek? Intelectuais conservadores e liberais neste país são ilustres desconhecidos e, quando lembrados, o são para ser escarnecidos devido a ocupação de espaços realizada pela intelectuária canhota.

Quanto ao fisiologismo, que não é direita política em canto algum do mundo, pode e é muito bem utilizado por qualquer um. Por oportunistas de ocasião ou por estrategistas gramscianos que, por sua deixa, são exímios interpretes de Maquiavel. 

É claro que os mandonistas julgam-se espertos, feito raposas. Todavia, no jogo político atual, mais do que em épocas pretéritas, esse tipo de agente político não passa dum mero instrumento nas mãos daqueles que tem objetivos muito mais amplos que uma reles vantagem eleitoreira na forma de cargos e facilidades.

Não é uma questão de gosto ou simpatia, mas aquele que tem um projeto de poder de longo prazo sempre capitaliza todos os projetos de curto prazo para a realização do seu. Neste caso, um amontoado de lideranças políticas sem princípios é facilmente instrumentalizada por aqueles que vêem o jogo político muito além duma roleta quadrienal porque seu projeto de poder é muito maior que isso. Resumindo: no frigir dos ovos não há, de fato, oposição ao consórcio rubro de poder reinante. Lamento informar.

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REGRA DE TRÊS

Escrevinhação n. 1087, redigida no dia 14 de janeiro de 2014, dia do Bem-aventurado Pedro Donders.

Por Dartagnan da Silva Zanela


J. O. de Meira Penna em seu livro “A ideologia do século XX” nos ensina que para compreender a atuação dum grupo político deve-se observar atentamente três dimensões: a ideológica, as discussões internas e as ligações externas.

Antes de qualquer coisa, jamais percamos de vista que o objetivo dum grupo desse gênero é a obtenção do poder. Dito isso, sigamos com o andor. Por dimensão ideológica entendamos o conjunto de valores que justifica a luta pelo poder e que modela a forma de seus membros encararem a realidade.

O segundo quesito são os debates realizados e as deliberações tomadas pelos membros do partido nos seus mais variados escalões. Atas, boletins internos, revistas, jornais do partido são documentos basilares para entendermos, razoavelmente, qual é a agenda do mesmo. Detalhe importante: sempre que se fala com os seus, as palavras são sempre mais verazes e espontâneas do que aquelas que são ditas para o público em geral.

Por fim, temos as ligações externas que se resumem no mapeamento dos grupos (políticos ou não), indivíduos, empresas e, em alguns casos, organizações criminosas e para-militares com as quais um partido tenha ligações discretas e/ou alianças estratégicas.

Resumindo o entrevero: se perguntamos a um indivíduo (ou partido) qual é sua escala de valores, o que e como ele pretende realizar como metas de médio e longo prazo e quais seriam os parceiros dessa tarefa, iremos saber com quem estamos lidando.

Dito isso, vejamos o seguinte: o que podemos dizer de um partido que fundou uma organização continental, em parceria com Fidel Castro, reunindo praticamente todos os partidos marxistas da América Latina, as FARC, MIR e demais organizações desta estirpe? Aliás, essa organização declarou que pretende recuperar na América Latina o que foi perdido no Leste Europeu. Mas, o que foi perdido?

Meu caro Watson, essa organização, fundada no início dos anos noventa, é o Foro de São Paulo. O partido é o que hegemonicamente nos governa. O que sentimos em relação a ele, pouco importa. O que interessa são suas ações, objetivos e parceiros para ficarmos cônscios do rumo que está sendo dado ao nosso país, independente do nosso [des]afeto, voto ou veto.

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MEMÓRIAS DO FAXINAL DO CÉU

Escrevinhação n. 1086, redigida entre os dias 08 de janeiro de 2014, dia de São Pedro Tomas e São Severino, e 14 de janeiro de 2014, dia do Bem-aventurado Pedro Donders.

Por Dartagnan da Silva Zanela

1. 
Certas vezes vejo-me imerso em minhas lembranças. Lembranças de minha infância a muito vividas. Não esquecidas.

Lembro-me dos dias em que vivi na rua rio Borboleta, na vila operária de Faxinal do Céu, que hoje não passa dum abandonado Faxinal distante do céu.

Era uma casinha branca e azul entre muitas casas similares rodeadas de mata nativa no meio dum sossegado ermo.

A imagem que me vem agora, destes dias, é viva. Meu pai cuidando de suas ferramentas no porão improvisado. As chaves de “ako” (chaves de fenda) e tudo mais no seu devido lugar entre as colunas irregulares de concreto.

Ainda ouço o som da voz de minha mãe chamando-nos numa rotineira tarde de sábado para comermos. Não me esqueço do cheirinho do café, pão fresco, da visão da velha bacia de massa de pão frita ao lado dos pastéis recheados com carne moída, ovo, pimentão verde e arroz.

A imagem da cozinha parece-me ainda hoje presente, tal qual o cheiro dos quitutes e bem como o gostinho da saudade dos inocentes dias que a muito ficaram pra traz.

2. 
Tropa de elite 2. Um filme que deve ser visto e revisto. Digo o mesmo do um, mas refiro-me substancialmente a sua continuação.

Muitos pontos merecem destaque. Muitos mesmo. Porém, nestas breves notas, permitam-me destacar apenas um. A jornada trágica e solitária do herói.

Todos aqueles que ele, Capitão Nascimento, ama não o querem mais próximo.

Conforme segue sua jornada, ao invés de vislumbrar o êxito sonhado ele vê desenhando-se em sua frente uma humilhante derrota.

Nesta solidão e abandono o capitão Nascimento levanta-se como um colosso contra todas as forças reinantes e continua a lutar sua batalha desolada numa guerra perdida. Guerra em que perdeu tudo, menos a coragem e o senso de dever.

E esse é o traçado dum homem imprescindível claramente visível no drama da personagem. Sem isso, coragem e senso de dever, não há herói. Apenas pacatos cidadãos.

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A SATISFAÇÃO AMARELADA

Escrevinhação n. 1085, redigida no dia 06 de janeiro de 2014, dia de Reis.

Por Dartagnan da Silva Zanela


J. R. R. Tolkien, em uma de suas epístolas, ensina-nos que devemos compreender o bem nas coisas para detectar o verdadeiro mal. Quem apenas conhece a face e o amargor do mal, de fato, não o conhece. Apenas o vive como sua segunda pele sem compreender com a devida clareza a real natureza de seus gestos e atos.

É a isso que F. Schuon se referiu quando afirmou que o mal é fruto da ignorância. O mal, em suas mais variadas formas e gradações advém do desconhecimento da natureza do bem. É no contraste de um com o outro que a verdade nos é revelada.

E evitamos o contraste porque a confrontação com a realidade nos deixa, inevitavelmente, desconfortável, arrancando-nos de nossas cômodas convicções que, por ignorância, acreditamos ser o bem, simplesmente porque sentimo-nos satisfeitos conosco mesmo.

Obviamente que tal falta de saber não nos exime da responsabilidade moral frente nossas obras diretas e indiretas, haja vista que em muitíssimas ocasiões preferimos ignorar o bem em nome do mal que satisfaz nossa fraqueza.

Vale lembrar que apenas idiotas vivem satisfeitos consigo. E idiotas são pessoas muito perigosas, principalmente por imaginarem que são inocentes. Perigosas porque os demais crêem que eles são apenas o que são: idiotas. E é justamente com uma massa dessa estirpe que são feitas as grandes tragédias da história. É com esse material amorfo que se dá forma às sangrentas revoluções paridas em nome do fugidio mundo melhor possível e sua etérea justiça social.

E não há nada mais volátil e facilmente manipulável que o desejo de sentir-se satisfeito. É fácil instigar a insatisfação. E assim o é por ignorarmos o bem que se faz presente em cada situação por enxergarmos apenas o que queremos que seja o bem.

No fundo não passamos de míseros interesseiros que acreditam que os nossos interesses miúdos sejam o sumo bem de toda nação.

Por fim, somente o fato de estranharmos essas palavras, de não entendermos que há uma diferença cabal entre o que seja nossa satisfação pessoal e o que seja o bem comum, demonstra o quanto ignoramos e desconhecemos a natureza do bem.

Pior! É com essa visão que participaremos de mais um ano eleitoral para escolhermos aqueles que irão zelar e cultivar o bem comum. Bem tão comumente ignorado por todos nós, eleitores e candidatos.

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ANOTAÇÕES TELEVISIVAS

Escrevinhação n. 1084, redigida entre os dias 03 de janeiro de 2014, dia de Santa Genoveva, e 08 de janeiro de 2014, dia de São Pedro Tomas e São Severino.

Por Dartagnan da Silva Zanela


1. 
Pergunta número um que deve ser feita a uma pessoa que deseja assenhorear-se do poder é similar a primeira pergunta que um pai faz a um rapaz que pretende desposar sua filha: quais são suas intenções?

Sim, que este deseja estar com ela o velho está careca, ou grisalho, de saber. Afinal, ele é pai não estúpido. A questão é saber quais são as intenções que estão para além das boas intenções do momento.

De mais a mais, como os canalhas abundam nesses brasílicos pagos, inevitavelmente o genitor, seja da moça ou do poder, fica com o coração na mão, aguardando, quando que o biltre irá trair suas palavras de ocasião mostrando sua face e revelando através de seus atos as suas sórdidas e reais intenções.

Uns querem apenas deleitar-se feito um sultão sem o sê-lo. Outros se contentam apenas com uma festinha aqui, outra acolá. Coisa de vagabundo boêmio. E, é claro, há os golpistas, que mentem para todos sobre tudo, dando nó na própria sombra, inclusive.

Enfim, encurtando o causo: todo cidadão deveria estar atento à classe dirigente feito o pai duma bela moça. Porém, ao que parece, o pai dessa bela dama, a Democracia, não está em casa. Pra falar a verdade, ao que tudo indica, ele não está nem aí para o que esteja sendo feito com ela.

2. 
Confesso. Morro de preguiça de ligar a televisão. Às vezes até penso em ligá-la, mas a lesara me pega e aí desisto. Só de pensar nas imagens que serão estampadas a negra tela abandono o intento.

Não agüento! É muito entulho para meu corpinho. Sou fraquinho, admito. Todavia, não admiro os fortinhos que exercitam seus sentidos e sua alminha se expondo horas a fio aos ataques televisivos ficando estrebuchados vendo tudo, reclamando de tudo, sem entender nada.

Por essas e outras, me entrego à preguiça e desisto rapidinho que ligar a telinha que ufana a mediocridade, estimula a baixeza e diminui a humanidade.

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A BAIXEZA NOSSA DE CADA DIA

Escrevinhação n. 1083, redigida entre os dias 01 de janeiro de 2014, Solenidade de Santa Maria, Mãe do Príncipe da Paz, e 03 de janeiro de 2014, dia de Santa Genoveva.

Por Dartagnan da Silva Zanela


1. 
Nunca exigir dos outros mais do que eles são capazes de nos dar. Assim nos ensina Carlos Drummond de Andrade. Mas nós, infelizmente, nutrimos, na maioria das vezes, uma expectativa desproporcional frente ao que nossos pares podem nos ofertar.

Aí ficamos macambúzios, zuretas, decepcionados. E por quê? Porque aguardamos do outro aquilo que temos, praticamente, certeza que não pode nos oferecer.

De mais a mais, na maioria das vezes, oferecemos aos outros uma porção ínfima daquilo que seríamos capazes de oferecer e cremos que esse mínimo seria uma demonstração de magnanimidade de nossa parte. E o pior é que nem nos tocamos deste papelão.

No frigir dos ovos, nossa espera é desmedida devido a nossa mesquinhez. Mesquinhez que não desejamos reconhecer.

2.
A canalhice, no Brasil, não é artigo de luxo. Pelo contrário! É condição sine qua non para sobrevivência dum indivíduo, mesmo que ele não seja um canalha.

Se a afirmação soa estranha, explico-me. O Brasil é um país de canalhas, pelos canalhas e para os canalhas, mesmo que a maioria de seus filhos sejam pessoas de boa inclinação.

Feito meretriz de quinta, nossa mátria idolatrada se enamora dos piores biltres e deixa-se guiar por eles abandonando a grande multidão de seus filhos à própria sorte.

Em vista disso, todo homem de bem, tem que ser capaz de pensar feito um calhorda, de imaginar as mais variadas situações da vida através dos múltiplos cenários que podem ser orquestrados por um canalha para poder, deste modo, se defender e sobreviver aos assédios imorais da horda de patifes.

Resumindo: o canalha é o que é: uma massa fecal travestida de gente. Nada mais, nada menos que isso. E o cidadão que deseja defender-se desta laia deve, sem pestanejar, aprender a pensar como eles sem, todavia, passar a agir como um.

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A solução é tungar o cidadão


Esta manhã do dia 1º de janeiro de 2014 nos traz a notícia de que o Brasil fechou o ano com o impostômetro da Associação Comercial de São Paulo marcando R$ 1,7 trilhões pagos pelos brasileiros, em impostos, ao longo de 2013. Neste momento, transcorridas poucas horas do novo calendário, ele já está contabilizando uma arrecadação de R$ 3,6 bilhões. Só isso já seria uma péssima notícia. No entanto, sabemos todos: por mais que se pague imposto, sempre falta dinheiro às prefeituras, aos estados e à União. E a solução é tungar o cidadão.

Nos últimos dias, repetiu-se a fórmula desonesta, tramposa, velhaca pela qual a receita do imposto sobre a renda e o salário de quem trabalha pode ser permanentemente aumentada sem necessidade de mexer nas alíquotas. O governo federal anunciou a correção da tabela de incidência do IR em percentual inferior ao da inflação confessada pelos medidores oficiais. Na mesma batida, a autoridade fiscal federal anunciou um aumento de seis pontos percentuais na alíquota do IOF aplicado sobre saques em moeda estrangeira no exterior. A troco de quê? Para equalizar com o valor já vigente para as compras com cartão de crédito, ora essa.  Em vez de pagarmos 0,38% passaremos a pagar 6,38%. Fica-se com a impressão de que o governo "fez justiça" - porque era injusto que uma operação pagasse menos imposto do que a outra. No entanto, como bom punguista, o governo apenas arrumou um outro bolso para enfiar a mão.

O resultado é que, ano após ano, sob os olhos do Poder Judiciário e do Congresso Nacional, sem ninguém que nos defenda, estamos pagando mais tributo sobre a mesma renda e mais tributo sobre os mesmos bens e serviços. É a infeliz lei da nossa vida: os fatores determinantes da carga tributária nacional - gastança, privilégios, corrupção e incompetência - exigem que o poder público se dedique a tungar os cidadãos.

Nossos tímpanos calejaram de escutar que o país vive sob um sistema econômico iníquo, que gera aberrantes desníveis de renda e concentração de riqueza. Tão repetida cantilena tem sido música ambiental para a troca de afeto e carícias entre o populismo e o esquerdismo, e não faltam devotos do Estado para apadrinharem esse casamento que promete gerar igualdade, justiça e prosperidade. De nada vale os fatos berrarem pela janela que isso é loucura. Se ouvissem a voz dos fatos compreenderiam que estão pretendendo resolver um problema através da reprodução de suas causas.

O efeito da repetição é tão eficiente que quem escreve o que acabei de escrever passa a ser malvisto. De nada vale dizer que o problema do Brasil está no sistema político e não no sistema econômico. De nada vale afirmar que não há concentração de renda maior do que aquela promovida por um aparelho estatal que fica com 40% de tudo que a nação produz! De nada vale informar que tão brutal, perversa e inútil captação de recursos para custear a rapina aos cofres do Estado só faz travar o desenvolvimento do país.

Mais ganancioso e perverso, só traficante. Mas a repetição dos chavões contra o setor privado produz a cegueira política sem a qual ninguém se deixaria conduzir pelo nariz para o abismo, crente de que, graças ao Estado, os pobres estão, mesmo, comendo filé mignon.

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Lobão & Olavo, Olavo & Lobão, primeiro de 2014. Em 02/01/2014.

ANO NOVO, VIDA VELHA

Escrevinhação n. 1082, redigida no dia 01 de janeiro de 2014, Solenidade de Santa Maria, Mãe do Príncipe da Paz.

Por Dartagnan da Silva Zanela


O ano é novo, mas a vida é a mesma. Todos nós nutrimos nesta época uma enxurrada de expectativas e firmamos, cada um a seu modo, um bom tanto de intenções, porém, a vida continua sendo a mesma. Continuamos sendo os mesmos sujeitos de sempre.

De tão especial que é o momento da virada que a vivemos dum modo banal. Sim, banal. Dizer todo início de ano que iremos fazer deste um ano diferente sem realmente nos empenharmos em fazer a diferença em nossa vida é duma banalidade sem tamanho.

Momentos especiais fazem parte da experiência humana. Por isso, vale lembrar aqui, nestas linhas, as palavras de São Josémaria Escrivá que nos diz que: “a conversão é coisa de um instante. A santificação é obra de toda a vida”. Trocando por miúdos: voto de intenções sem a aceitação do enfrentamento das batalhas diárias que implicam essa tomada de decisão não passa de colóquio flácido de ocasião. Tais votos, por si só, pouco significarão se não aceitarmos a soturna batalha cotidiana de pelejar contra as nossas fraquezas, vícios e manias.

No fundo, bem lá no fundinho, essa é a raiz de todos os nossos males. Temos intenções calcadas de maneira movediça em nossas inclinações turvadas pela má vontade em misto com um apego atávico a nossa maneira de ser que, verbalmente, dizemos querer mudar, porém, sem o desconforto que isso implica.

É a praga do hedonismo! Praga que age dos mais variados modos em nossa sociedade cravando, em nosso coração, enervadas raízes levando-nos a desejar mudanças radicais sem que, de fato, mudemos.

Sim, sei que isso é duma contradição descomunal, mas é isso mesmo. Na prática, o que se deseja nesses ritos mundanos de passagem, como o reveillon, é apenas uma epidérmica sensação gostosinha de bem-estar e nada mais. As promessas e intenções de mudança fazem apenas parte da encenação do momento. A luta diária, indispensável, logo é deixada de lado. Muitas das vezes, nem mesmo é lembrada na ressaca do dia seguinte.

Por isso, sejamos fortes e perseverantes. Que nossas intenções sejam verdadeiras, presentes em cada dia desse ano que está iniciando para que nos realizemos como pessoa e que a dissimulação, o auto-engano e a mentira existencial deixem de ser a substância dos nossos passos por esse vale de lágrimas.

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