Muitas vezes algumas pessoas se perguntam porque os infantes
levam tão a sério um jogo, seja ele o futebol ou um videogame, mas não encaram
com a mesma seriedade os seus estudos. Essa é uma pergunta tão justa quanto
atual e que, por isso mesmo, merece ser meditada, mesmo que de maneira breve e
caipira.
Tomemos, nessa escrevinhada, apenas o caso dos videogames e
sejamos curtos e diretos: o que atrai a gurizada pra mergulhar de cabeça neles
é que os ditos cujos são mortalmente sérios. Isso mesmo. Todo e qualquer jogo é
mortalmente sério.
Explico-me: independente de qual seja o jogo, esses sempre
tem regras muitíssimo claras, regras essas que se não forem devidamente
respeitadas, implicarão em consequências capitais para o competidor.
Fez corpo mole, não prestou a devida atenção, não realizou as
tarefas exigidas, sinto muito, mas não tem lesco-lesco. Vai perder. Vai
reprovar.
Quando isso acontece, o piá fica dando peti, dizendo que foi
injustiçado e blábláblá? Nada disso. Ele compreende, se conforma, reflete,
pesquisa (procura alguns tutoriais sobre o game no youtube) e recomeça tudo de
novo e de novo e de novo até conseguir zerar o jogo e, quem sabe, platinar o
trambolho porque, nesses simulacros, que são os jogos, escreveu, não leu, o pau
comeu. Ponto.
Agora, quando o assunto é o sistema de ensinação desorientado
pelas potestades estatais, a figura é bem outra. Nele, as regras não são
claras, logo, não há a menor relação entre os atos realizados pelo mancebo e as
consequência que, necessariamente, devem advir deles.
Doravante e ao contrário das desorientações dos burocratas
educacionais do Estadossauro, sejamos cristalinamente claros nesse ponto: se o
infante não cumpre com as regras (que são dúbias e levianas); se ele faz corpo
mole aqui, ali, acolá e em todo lugar; se ele não cumpre e mesmo desdenha as tarefas
e atividades que lhe são propostas pelos mestres dessa ou daquela etapa do jogo
da (de)formação escolar, não tem problema não meu filho! Não esquenta porque os
burocratas do sistema educacional do Leviatã - que não sabem o que é educar e
nem mesmo procuraram, com esmero, educar-se - não desejam que a gurizada se
prepare para viver a vida de modo adulto e responsável.
Eles todos, juntos e misturados, querem ensinar-lhe que, para
tudo que não der certo, basta se fazer de vítima, de coitadinho, de excluído e
blábláblá, para poderem passar de fase, obter um diploma sem mérito para, com
isso, tornarem-se mais um número positivo nas estatísticas ocas da deseducação
estatal.
Detalhe importante: se os videogames fossem estruturados de
modo similar ao sistema de (des)educação estatal, com toda certeza a criançada
jamais iria se interessar por eles, por mais firulas que fossem colocadas
neles.
E tem outra! Num cenário como esse, não importa muito se o
professor for excelente, bom, medíocre ou ruim, porque onde a regra não
estimula o aluno a vencer a si mesmo, a romper suas limitações e ampliar sua
capacidade de ação e compreensão, pouco importa, pra não dizer que não é
relevante, quem seja o mestre. Quando as regras não instilam o devido respeito
a esse ele perde totalmente a sua razão de sê-lo. Literalmente ele se
transubstancia dum professor num facilitador.
Enfim, não é à toa que o QI médio da sociedade brasileira é o
único no mundo que, nas últimas décadas, vem caindo de maneira ininterrupta.
Não é por menos que nossos estudantes ficam sempre na rabeira dos testes
promovidos pelo PISA. E não é sem motivo que o futuro do Brasil é uma sombria
incógnita e a esperança, nessas plagas, um redondíssimo zero à esquerda.
Resumindo o entrevero: os burocratas do sistema estatal de
educação são especialistas numa arte que eles ignoram por completo e, não sei
porque cargas d’água, insistem tanto em transformar sua ignorância e inépcia em
tábua de salvação daquilo que eles aparentemente desprezam.
Graças a figurões como esses - não apenas a eles, mas também
e principalmente – que os resultados obtidos em nosso país na seara da
ensinação são ridículos pra lá de metro.
É urgente que entendamos que uma regra, quando clara e
devidamente alinhada com sua finalidade, educa mais que mil palavras. Mas como
elas não o são, o único resultado que continuaremos a ter é esse. Sinto muito.
Game over.
Game over.
(*) Professor, caipira,
escrevinhador e bebedor de café.
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