REZA O DITADO POPULAR QUE MARMELADA NA HORA da morte termina
de matar. O dito é verdadeiro. Cristalino como água que verte da bica.
Como todo mundo sabe, toda vez que alguém, após uma longa
série de abusos e desatinos vê, diante de seus olhos, a inevitável consequência
de seus atos, se desespera e, malandramente, tenta contornar a situação para
deixar o dito pelo não dito, fazendo-se de coitado pra remediar o que não tem
remédio.
Resumindo: além desse tipo de artifício artificioso não
engambelar ninguém, além desse tipo de malabarismo não colar e permitir que o
safadinho se safe, ele termina de condená-lo a ter de colher os frutos pútridos
de seus malfadados atos.
Quer dizer, assim o era no tempo do meu pai. No meu tempo
também era assim. Porém, hoje em dia, não mais. Ela não mata mais ninguém não.
Hoje a marmelada é geral e só não vê quem não quer.
O discernimento na sociedade atual, em especial daqueles que
se consideram pessoas ilustradas e, por isso, progressistas, tornou-se obtuso
às obviedades mais gritantes da vida e, assim o é, devido a escrupulosa
seletividade ideológica de sua percepção de toda e qualquer realidade.
Exemplo disso são as infindáveis recuperações que devem ser
ofertadas a um aluno, que supostamente é um estudante, que são justificadas por
um populismo pedagogesco grosseiro, ineficaz e pretensamente justiceiro.
Não que uma pessoa não mereça receber uma segunda chance. Não
é isso não. Deus me livre e guarde.
Aliás, uma coisa é a oferta duma segunda chance, de uma
oportunidade; outra, bem distinta, é o que temos hoje em nosso sistema
educacional estatal.
A forma como isso, a recuperação da recuperação da
recuperação do que é imediatamente irrecuperável, é concebida pelos doutos em
ensinação, e burocratas do ensinar, acaba eximindo totalmente o mancebo da
responsabilidade por seus atos e, de quebra, não reconhece-o como um agente
basilar do processo de aprendizagem, o que, por sua deixa, acaba pervertendo
qualquer tentativa séria de educar alguém.
Só não vê isso, e não se importa com isso, quem não sabe o
que significa educar e aqueles que almejam isso mesmo, que ninguém seja
verdadeiramente educado por alguém.
Esse é ponto do conto. E o conto é todo esse mesmo.
(*) Professor, caipira, escrevinhador
e bebedor inveterado de café.
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