Por Jean Borella
Há mais de trezentos anos, certo pensamento filosófico, no afã de realizar a missão de que, no seu próprio entender, foi investido pela ciência, guerreia contra a alma religiosa da humanidade. O lugar próprio e objeto desse combate é o campo do simbolismo sagrado, pois a religião só pode ser compreendida através das formas (sensíveis e intelectuais) que a exprimem e fazem existir culturalmente. Desencadeando esse conflito, a filosofia queria única e simplesmente purificar a razão humana, quer dizer, restituí-la em seu estado natural despojando-a de todas as impurezas acumuladas pela ignorância e pela superstição. Todavia, à medida que se desenvolvia essa vasta crítica da razão religiosa, impunha-se a obrigação, não somente de combatê-la, mas também de explicar seu surgimento na história humana. Erguendo-se contra a religião, a razão não tardaria a perceber que seu inimigo residia em si mesma, no segredo da consciência humana. Ela tentou extirpá-lo, tentativa que, em trezentos anos, conduziu a crítica filosófica à rejeição até da razão pura, destituída de sua pretensão hegemônica, e portanto a uma espécie de suicídio especulativo de que o pós-estruturalismo dá hoje espetáculo: a alma religiosa morrendo arrasta consigo a alma racional. [continue lendo]
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