Escrevinhação n. 1076, redigida no dia 10 de dezembro de 2013, dia de Nossa Senhora de Loreto e de Santa Eulália.
Por Dartagnan da Silva Zanela
Cada um tem a sua cachaça. Cada um serve-se dela como melhor lhe aprouver. Neste, e noutros quesitos, estou com o poeta Carlos Drumond de Andrade e não abro. O problema, penso eu, cá com meus botões, está no tipo etílico que irá nos ocupar em nossos momentos de ócio, seja eles criativos ou imprestáveis.
Tendo em vista o ensinamento que colhemos das páginas da Sagrada Escritura, que nos lembra que o tesouro de um homem está onde se encontra o seu coração (Matheus VI; 21), tal questão torna-se mais que relevante, pois nosso ser tende a inclinar-se para os objetos que melhor espelham o que há em nossa alma. Resumindo: as criaturas que nos fazem sorrir com aquela sinceridade pueril expõem a face que tão simiescamente esforçamo-nos em ocultar.
Ora, indo direto ao ponto: fora das 44 horas semanais de trabalho, com o tempo todinho para dedicar, na medida do possível, àquilo que julgamos merecedor de toda nossa atenção, o que fazemos? O que consideramos digno de nossa atenção? Sim, dormir, comer, beber, fazer sexo, passear, vadiar, tudo isso, não necessariamente nesta ordem, são coisas desejáveis. Não nego. Porém, é nisso que nosso coração encontra-se centrado? E aí que encontramos nosso tesouro?
Seja no fim de ano, ou mesmo num fim de semana ou num feriado prolongado, dum modo geral nossa alegria manifesta-se através de entretenimentos superficiais, para dizer o mínimo. Isso, por si só, seria apenas ridículo se não fosse trágico. E a tragédia está no fato de que a nossa entrega graciosa a esses momentos toscos é tão [des]educativo quanto toda a parafernália doutrinária que temos aparelhada em nosso sistema educacional. E assim o é porque somos seres que tendem a mimetizar o que nos é apresentado como sendo algo desejável. O regozijo estampado no rosto daquele que desfruta deste algo diz isso sem necessidade de palavras.
Toda fala sobre a importância da educação torna-se pífia se não apresentamo-nos como pessoas que realmente demonstrem essa importância com a vida, com nossa vida. Se não o fazemos, tudo é reduzido a um trololó hipócrita e sem sentido. Reduz-se a essa choldra ignóbil em que estamos, que despreza vilmente o conhecimento ao mesmo tempo em que se critica todo aquele que sinceramente o despreza, mesmo que tenham aprendido isso com o nosso ordinário e desprezível exemplo de desamor ao saber. Exemplo: o pai, o professor e tutti quanti que cobram dos infantes o amor a leitura que eles nunca tiveram. E coitado do moleque se ele ousar ser sincero!
Já sei que quanto mais se despreza o conhecimento, menos falta se sente dele. Também sei que sujeitos deste naipe sentem-se plenamente felizes por fazer isso. Aliás, não duvido disso. Estou cônscio de que apenas os idiotas são capazes de tal plenitude.
Pax et bonum
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