Escrevinhação n. 1077, redigida entre os dias 14 de dezembro de 2013, dia de São João da Cruz, e 16 de dezembro de 2013, dia de Santo Eusébio e Santa Adelaide.
Por Dartagnan da Silva Zanela
1.
Sou um homem imerso em reminiscências. Minhas lembras, sejam elas de infância, ou recentes, sempre estão, todas, lado a lado diante de meus olhos a dialogarem entre si e comigo.
Sou um homem de muitas reminiscências. Por ter este feitio, convivo com minhas memórias, sempre presentes, a acotovelarem-se umas às outras, disputando minha atenção e, todas elas, cada uma a seu modo, querendo ensinar-me uma e outra lição. Algumas tardias, outras tantas mais do que pontuais para o momento de então.
Sou apenas um homem imerso em reminiscências. Não sei se isso é vício; tenho minhas dúvidas quanto a virtude disso. Apenas sei que vivo entre lembranças que, conforme seus humores, adocicam a sombra do dia, ou amargam o luar da noite.
Enfim, é isso o que sou. Uma criatura forjada por lembranças sempre presentes que com seu sabor agridoce fazem de mim o que sou: apenas um homem de reminiscências que não pode dar-se ao luxo do rancor.
2.
Quando moleque, lembro-me que não era, como direi, um leitor voraz. Lembro-me sim, que já em tenra idade, era um grande amante dos livros. A presença deles me fascinava. Lembro-me bem disso. Ah! Como me lembro.
Era freguês assíduo da biblioteca da cidade que me acolheu na infância por mim a muito vivida. Passava, às vezes, a tarde toda por entre as estantes tomando os tomos em mãos para admirá-los e, em alguns casos, folheava um e outro, demoradamente, sentado, sem demora. Fazia o mesmo em casa, com a Enciclopédia Barsa de meus pais, nos dias chuvosos.
As letras não me prendiam junto às páginas. As letras dificilmente encantam moleques vadios. Mas as imagens toscamente desenhadas e os mapas parcamente coloridos cativavam-me. Imaginava-me vivenciando as cenas mostradas pelas primeiras. Via-me explorando as terras apontadas pelas segundas. E como minha imaginação peregrinava por essas terras reais e pelos mundos ficcionais de mim nascidos! Quantos! Quantas terras conheci pelos mares nunca dantes navegados de minha imaginação.
Hoje, envelhecido pelos anos e envelhecendo com eles, vejo o quanto tal experiência dos idos infantis contribuíram para que eu me tornasse quem sou: um homem cheio de reminiscências (doces e amargas), com a alma aberta para os cenários possíveis onde apresenta-se o homem virtuoso que não sou, que desejo ser e que, provavelmente, nunca terei força suficiente para sê-lo.
Pax et bonum
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