Por João Pereira Coutinho
É um dos vícios do mundo moderno: a crença patética de que tudo é possível, tudo é permissível. Ou, como diziam os filhos do maio de 68, é proibido proibir.
Um caso ilustra esse vício com arrepiante precisão: as "barrigas de aluguel".
Li a excelente matéria de Patrícia Campos Mello publicada nesta Folha no domingo. E entendo a pergunta que anima o negócio: se um casal não pode ter filhos por infertilidade da mulher, por que não contratar os serviços de uma "mãe de aluguel", que terá o seu óvulo fecundado pelo espermatozoide do pai adotivo?
Na Índia, a pergunta virou turismo: só na cidade de Anand, conta a jornalista, nasce uma criança a cada três dias para "exportação". Os "clientes" costumam ser americanos, britânicos, japoneses, canadenses. Mas também há brasileiros na lista de espera. Que dizer do cortejo?
Começo pelas questões éticas básicas: será que um filho deve ser comprado (US$ 20 mil na Índia) como se compra uma mala Louis Vuitton ou um par de sapatos Manolo Blahnik?
E será legítimo, ó consciências progressistas, transformar as pobres do mundo em incubadoras dos filhos dos ricos? [continue lendo]
Assisti faz pouco tempo um documentário na Tv Cultura sobre esse "empreendimento". Só que a emissora preferiu se posicionar a favor dessa atividade desumana, exibindo mulheres indianas que usavam o argumento de que através do dinheiro advindo da venda de um filho poderá dar uma vida melhor para o restante. Fico imaginando se algumas mulheres já não transformaram isso em profissão, vendendo as dúzias esses inocentes. É o fim mesmo, transformar algo que deveria ser tão sagrado para uma mulher em um mercado lucrativo.
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