Bem vindo ao blog de Dartagnan da Silva Zanela, Cristão católico por confissão, caipira por convicção, professor por ofício, poeta por teimosia, radialista por insistência, palestrante por zoeira, bebedor de café irredutível e escrevinhador por não ter mais o que fazer.

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A sociedade atual está menos preparada para a morte


Por Umberto Eco

A "Magazine Littéraire", uma publicação mensal da França, dedicou um número recente a um único assunto: como a literatura trata o tema da morte. Eu o li com interesse, mas afinal fiquei desapontado. Alguns artigos podem ter tocado ideias com as quais não tinha familiaridade, mas em última instância eles apenas reiteraram uma tese bem conhecida: que além de abordar a ideia do amor a literatura sempre lidou com o conceito de morte.

Os artigos apontavam a presença da morte tanto nas narrativas do século passado como na literatura gótica pré-romântica, mas também poderiam ter citado a mitologia grega - talvez a morte de Heitor e o luto de Andrômaco - ou o sofrimento dos mártires em muitos textos medievais. Para não falar no fato de que a história da filosofia começa com a premissa do mais fundamental dos silogismos: "Todos os homens são mortais".

Talvez o problema tenha origem no fato de que as pessoas leem menos livros hoje do que nas gerações passadas. Seja qual for a causa, porém, perdemos nossa capacidade de aceitar a morte. A religião, a mitologia e os antigos rituais tornavam a morte, senão menos temível, pelo menos mais familiar para nós. Através de grandes celebrações fúnebres, do lamento dos enlutados e das grandes missas de réquiem, nos habituávamos ao conceito de morte. Éramos preparados para ela pelos sermões sobre o inferno, e ainda criança fui incentivado a ler trechos do "Companheiro da Juventude" que abordavam a morte. [continue lendo]

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