Bem vindo ao blog de Dartagnan da Silva Zanela, Cristão católico por confissão, caipira por convicção, professor por ofício, poeta por teimosia, radialista por insistência, palestrante por zoeira, bebedor de café irredutível e escrevinhador por não ter mais o que fazer.

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PARA NÃO SER ESQUECIDO

Escrevinhação n. 884, redigido em 26 de abril de 2011, dia de Santo Anacleto e da Primeira Santa Missa celebrada em terras brasileiras.

Por Dartagnan da Silva Zanela

“O homem tornou-se incapaz de olhar acima de si”. (Papa Bento XVI)

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Em certa ocasião fui indagado sobre qual seria o melhor método para se chegar à contemplação da Verdade. A própria indagação, de cara, nos apresenta um dos fetiches encalacrados na mentalidade moderna, o culto da palavra “método” que é literalmente metida em praticamente tudo ao mesmo tempo em que praticamente nada é feito de maneira metódica. Celebra-se e cultua-se aquilo que se desdenha.

Mesmo assim, a pergunta é boa. Primeiro, pelo fato de nos ser um belo exemplo de como que tudo o que se faz na sociedade moderna pauta-se meramente em uma dimensão meramente externa, maquinal e superficial que, por sua deixa, abre um grande vácuo em nossa alma. Vácuo esse que deveria ser ocupado com a postura indispensável a todo aquele que tem por objetivo a procura pela Verdade.

A postura requerida para tal empreitada e que, de um modo geral, é sumamente desdenhada pela nossa sociedade, é a da sinceridade. Isso, e apenas isso, nos basta para iniciarmos a caminhada pela vereda desta infatigável procura. Sem ela, essa procura não se realiza de modo algum. Apenas poder-se-á fazer um simulacro fútil de pequenez que com lábios ignóbeis proclama por ela, a Verdade, um amor que jamais fora cultivado no âmago de seu ser.

Dizer que sabe aquilo que sabe e que não sabe aquilo que não sabe. Descrever o mundo tal qual ele se apresenta as nossas vistas e ponto. Nisso consiste a franqueza.

Sim, somos cônscios de que não são em todas as ocasiões que podemos proclamar as verdades que nos chegam às nossas vistas. É perigoso. Entretanto, não estamos nos referindo a isso, especificamente, mas sim, ao ato de dizer para nós mesmo o que realmente sabemos e o que substancialmente não sabemos. Ora, se não somos capazes de ser sinceros para conosco mesmo, sermos capazes de ser francos com quem e em que?

Tudo aquilo que cultivamos em nosso íntimo acaba se refletindo em nossa maneira de nos relacionar com as outras pessoas e com a criação (e também com o Criador). Isso é inevitável. Se formos superficiais no trato para conosco assim o seremos na forma como interagimos com os demais e no modo como agimos na sociedade.

Sim, a regra é simples e pode ser apresentada a qualquer um, independente da idade e condição social. Todavia, como isso não é uma novidade e nem vem incrementada com paetês publicitários ou plumas tecnológicas, seu ensino e bem como a sua vivência, acabam sendo relegados ao desdém.

Pare pra pensar um pouco, meu caro Watson, nos mecanismos de avaliação e nos instrumentos educacionais institucionalizados em nossa sociedade e se pergunte quais deles não são um convite a dissimulação, quais deles não são um meio (in)formal de ensinar-nos a agir e viver como se tudo fosse um simulacro? Pense, francamente, nisso.

De tanto fingir e ensinar a caminhar por essa fiada, a obra em construção chamada caráter acaba ficando fora de prumo e rumo. O divórcio que se edificou em nosso íntimo entre a realidade e a nossa capacidade perceptiva da mesma inevitavelmente acaba por deformar a nossa maneira de ser e agir. É para isso que o finado Gustavo Corção nos chamava a atenção quando havia dito que na modernidade trocou-se a Verdade pela opinião.

Sim! Com muito carinho e zelo cultivamos as nossas ditas opiniões, essas ilustres desconhecidas que nos habitam (como nos lembra José Ortega y Gasset), como se elas fossem um fidedigno retrato da realidade. Realidade essa que em nenhuma ocasião procuramos conhecer sinceramente. Aliás, nunca procuramos nos conhecer de maneira sincera para podermos com sinceridade conhecer algo e, mesmo assim, julgamos a tudo e a todos na diminuta e pífia medida de nossas opiniões que apenas retratam de maneira caricatural a frivolidade de nosso caráter, não é mesmo?

Por isso preocupamo-nos tanto em ter o que falar, ter assunto para alimentar as nossas conversas vazias mantidas com pessoas de índole similar a nossa, porém, raramente, procuramos indagar sobre o que se está falando e, agindo assim, não flagramos o ridículo em que nos entregamos ordinariamente.

Por essas e outras, a vileza tornou-se tão grande que se coloca na posição de senhora de tudo, sem jamais tornarmo-nos senhores de si nós. Não é à toa que a Verdade, mesmo que dita em alto e bom som aos quatro ventos, permanece aos olhos desatentos e insinceros, uma ilustre desconhecida. Desconhecida e difamada por uma sociedade que faz da deformação do caráter a pedra angular de uma vida sem direção. Nossa sociedade que tanto quis e quer inovar e aprimorar revela-se é incapaz de resolver as questiúnculas mais elementares por não saber mais ser e viver de maneira sincera.

Pax et bonum
http://dartagnanzanela.tk

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