Bem vindo ao blog de Dartagnan da Silva Zanela, Cristão católico por confissão, caipira por convicção, professor por ofício, poeta por teimosia, radialista por insistência, palestrante por zoeira, bebedor de café irredutível e escrevinhador por não ter mais o que fazer.

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PELOS FRUTOS CONHECEREIS

Redigida em 15 de julho de 2014, dia de São Boaventura. Décima quinta semana do Tempo Comum.

Por Dartagnan da Silva Zanela

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Nesses dias de Copa do Mundo, e mesmo antes, era comum toparmos nas redes sociais com mensagens do tipo: “os nossos heróis não são jogadores de futebol. São os professores”. Mais duma vez deparei-me com elas. Em alguns casos via-se a foto dum rapaz com um cartaz que ostentava a dita mensagem em meio a uma manifestação, noutras vezes, apenas a mensagem, solitária, no mural dalgum cidadão que declarava garbosamente a atividade dos verdadeiros ídolos da brasilidade.

De minha parte, confesso: não creio nem um pouquinho nisso. Isso mesmo! E se você crê nisso, lhe digo apenas uma coisa: sabe nada inocente! Desde quando o professor é, na sociedade brasileira, uma figura de reverência? Pra ser franco, não creio que os professores mereçam a distinção que é auferida as almas heróicas, haja vista, que essa é devida apenas àqueles que realmente agem de acordo com as virtudes desse gênero. E tem mais! Se a sociedade realmente venerasse virtudes heróicas e estimula-se o cultivo delas, de imediato compreenderíamos o quanto que declarações desse gênero são sintomáticas.

Porém, o respeito que é devido a uma autoridade constituída já estaria de bom tamanho, haja vista que o magistério é um exercício de autoridade. E aí, temos mais um probleminha em nossa sociedade: imagina-se que autoridade seja apenas um poder constituído. Não é por menos que um professor, hoje, para ser respeitado, deve ser uma espécie de superman, ou um algum tipo de pop star, para não ser enxovalhado. Literalmente, esqueceu-se que sala de aula não é um auditório para showzinhos mequetrefes. Esqueceu-se que o chão duma sala de aula é sagrado e que uma escola é um templo. Ao menos, um dia foi. Hoje mais parece um picadeiro.

Muitas são as cenas que são noticiadas pelos veículos de impressa e outras tantas que circulam informalmente na forma de solitários depoimentos agonizantes da parte de professores, alunos e pais que bem retrata a pouca valia que é dada a esse sujeito. Gritos silenciosos. Ou silenciados?

Na verdade, o professor em nossa sociedade é visto como um milagreiro bem à brasileira. Parece piada, mas não é. O sujeito que adentra uma sala de aula, primeiramente, tem toda a sua autoridade esvaziada, tendo que contar unicamente com seus dons naturais, ou sobrenaturais. Se os tiver, sobrevive e até ganha alguns aplausos. Caso contrário, será executado, moralmente, sem clemência.

Bem, estando reduzido à condição de desempoderado, ele poderá começar o seu trabalho de milagreiro que é: ensinar algo para alguns sujeitos que não querem aprender (e perturbam quem o quer), mas que estão sumamente convencidos de que o diploma é seu direito, adquirido, e se forem reprovados, os indivíduos não estariam colhendo o que semearam, mas sim, sendo apenas mais uma vítima do sistema “capetalista”, racista, machista e opressor que existe apenas para excluí-los.

Detalhe: e o professor que os reprovou não outorgou o que foi manifesto de maneira patente pela vontade dos sujeitos. Não! Ele é um dos tentáculos, cruel e alienado, desse sistema injusto que acredita na meritocracia e não no igualitarismo redivivo e redentor que permite que todos possam ter acesso a tudo sem o menor esforço ou, ao menos, com o mínimo de esforço. 

E não apenas muitos infantes e adolescentes creem nessa patacoada. Eles aprenderam isso de muitíssimos professores que fazem desse palavrório seu credo pedagógico. E daí, meu caro Watson, não sabem porque estamos sempre ocupando os últimos lugares nos testes internacionais. E depois, todos se fazem de desentendidos quando veem os aberrantes resultados obtidos pelas concepções pedagógicas reinantes em nosso país.

Ensinar qualquer coisa pra qualquer um nesse cenário, literalmente, é tarefa para um milagreiro. E cuidado! Se o milagre não for realizado a contento do (in)fiel, cedo ou tarde, ele irá puni-lo, da mesma forma que fazem as moças com Santo Antônio que é afogado quando não intercede por elas. Ora, se nesse país, faz-se isso com o Doctor Evangelicus, porque um professor não será enxovalhado por um aluno que se sentiu ultrajado por não ter recebido o que ele considerava seu direito?

Chegamos ao absurdo de muitos acharem normal chamar um professor de idiota e que, tal atitude em sala de aula, não seria uma ofensa, mas apenas uma manifestação cultural incompreendida que deveria ser remediada e vista dentro dum processo mais amplo. É mole ou quer mais?

Enfim, esses são os heróis da sociedade brasileira e essa toda a deferência que a eles se rende. Fazer o que, não é mesmo? Esse é o nosso Brasil bem brasileiro...

Pax et bonum
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