Apure! Apure logo! Essa, talvez, seja a expressão mais
presente na boca de muitos. Queremos que tudo chegue até nós rapidinho, na
velocidade dum clique, tal qual os brinquedinhos eletrônicos que, hoje, fazem
parte da paisagem contemporânea. Inclusive o entendimento e a compreensão de
tudo o que nos cerca.
Seja na cidade ou no campo; nas ruas, restaurantes ou
lanchonetes; mesmo numa modesta casinha, coberta ou não com sapé, lá
encontraremos uma ou mais pessoas virtual e supostamente acompanhadas e, ao
mesmo tempo, substantivamente sós. Bem solitas com a mesmice de suas vidas.
Pois é, pois é, pois é. Poderíamos, nessas breves linhas,
listar todos os potenciais benefícios e os possíveis malefícios que as mídias
eletrônicas podem nos oferecer. Poderíamos, mas não o faremos. Não, porque isso
seria um desperdício de tempo e ele, o tal do tempo, é um ativo muito precioso
para desperdiça-lo com assuntos que serão sumamente desprezados por aqueles
que, de fato, deveriam por eles interessar-se e, não o fazem, por preferirem
desperdiçar o referido ativo que, pessoalmente, procuro tanto valorizar.
Se assim o querem, que o façam; mas não com o meu. Não mesmo.
E lhes digo o porquê. Na medida de minhas limitações procuro valorizar o meu
minguado tempo. Desde menino, lembro-me do dito de Abraham Lincoln, ensinado a
mim por meu pai, onde esse aconselha-nos dizendo que apenas os desocupados não
tem tempo pra nada. Por isso, com a medida que me foi dada, procuro achar tempo
pra tudo. Pra tudo mesmo.
Hoje, com as madeixas e barba um tanto esbranquiçadas,
mantenho estampada na parede de minha biblioteca uma máxima de Goethe, que diz:
“quando você não sabe o que fazer, faça o que é do seu dever”. Simples assim. E
mantenho-a bem diante dos meus olhos para não esquecer o ensinamento a tanto
tempo dado a mim por meu pai e que hoje repasso aos meus pequenos.
E, como todos nós bem sabemos, dum modo geral, celulares e
redes sócias normalmente não casam muito bem com a ideia de senso de dever,
apesar da possibilidade existir.
Geralmente, nossas quinquilharias eletrônicas de cada dia nos
convidam, hoje e sempre, para a excitação efêmera de nossos sentidos,
tornando-nos incapazes de compreender qualquer coisa em profundidade, de
pararmos para ouvir devidamente uns aos outros. Não por culpa delas em si, não
mesmo, mas sim e principalmente, por causa de nossa leviandade nada original.
Aquela doçura, que nos verdes anos de minha vida, acompanhava
sempre o vagaroso e atento aprendizado das coisas, que andava de mãos dadas com
o vagar das conversas despretensiosas, mesmo que acaloradas, ao que tudo
indica, não mais faz parte dos verdejantes anos da atual mocidade e, muito
menos, daqueles que, pelo avançar da idade, maduraram sem ter, com o devido uso
do tempo, amadurecido.
Prefere-se, hoje, que a vida seja composta apenas por um
punhado de cliques fugazes, sem sentido, arrolados de modo efêmero para que o
eu não seja nada além de um ego inchado de si para si, todo empavonado com
clichês politicamente corretos pra melhor encobrir a falsa existencial.
E antes que, através da lonjura das letras, ecoe aquele
mimimi na forma dum “apure”, dum “termine logo essa choça”, lembremos e, se
possível, não esqueçamos, que tudo aquilo que imploramos pra findar logo,
acaba, muito mais rapidamente, terminando com o pouco que resta de nós em nós
mesmos.
Pronto. Acabei. Já estou offline. Agora, se quiser, pode
voltar para a monotonia ansiosa duma vida embalada pelas ondas dum wifi que não
procura, não encontra e não quer ter tempo pra nada.
(*) Professor, caipira,
escrevinhador e bebedor inveterado de café.
Nenhum comentário:
Postar um comentário