Bem vindo ao blog de Dartagnan da Silva Zanela, Cristão católico por confissão, caipira por convicção, professor por ofício, poeta por teimosia, radialista por insistência, palestrante por zoeira, bebedor de café irredutível e escrevinhador por não ter mais o que fazer.

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APENAS UM TESTEMUNHO E NADA MAIS

Escrevinhação n. 778, redigida em 31 de agosto de 2009, dia de São Raimundo Nonato, 25ª Semana do Tempo Comum.

Por Dartagnan da Silva Zanela

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Se o amigo leitor me permitir, gostaria de partilhar uma breve reflexão autobiográfica de algo que havia testemunhado em minha porca juventude, de algo que vi assisti no tempo em que militava no movimento estudantil. No ano de 2000 da Era de Nosso Senhor Jesus Cristo, estava eu no último ano de minha graduação e fui participar do II EREH (Encontro Regional dos Estudantes de História) que foi realizado no Campus da UFSC, na cidade de Florianópolis.

Neste encontro já não mais nutria as mesmas convicções que tinha no início de minhas aventuras intelectuais e políticas devido às contradições inerentes a minhas antigas convicções e, fundamentalmente, por casos similares a este que testemunhei em minhas aventuras estudantis.
Neste encontro, três pontos foram-me marcantes. O primeiro deles diz respeito ao caráter moral daquela multidão de jovens “irados” que aos berros entoavam insultos para poder mudar o mundo. Bem, sem rodeios, vamos direto ao ponto do conto: No primeiro EREH que tinha sido realizado na cidade de Tramandaí, Rio Grande do Sul, havia sido decidido que todos deveriam realizar em suas cidades de origem palestras, grupos de estudo, mesas-redondas, para celebrar “criticamente” os 500 anos do Brasil.

Passado um ano, eis a grande surpresa (ou, nem tanto). Quantos haviam realizado de maneira madura o compromisso firmado? Apenas esse que vos escreve, uma amiga e um amigo meu, e duas moças do interior dos Pampas. Quanto aos demais, a única coisa que os empolgava era o desejo de repetir em Floripa o que foi feito em Porto Alegre: destruir o relógio construído pela Rede Globo.

Apenas isso já nos dá uma idéia da integridade moral desses sonhadores do “mundo melhor possível”, mas o angu não para por aí não. Mesmo não cumprindo com a sua obrigação assumida como estudantes de história (de dar aulas graciosas sobre a história do Brasil), desejavam como vândalos confessos depredar um patrimônio privado alegando que isso ajudaria a “conscientizar” as pessoas.

Quando, na assembléia, estava sendo discutido este absurdo, manifestei-me contra duas vezes, gastando minha parca eloqüência e, a única coisa que consegui foi efusivas vaias (vaias críticas, é claro) e ser xingado de “pequeno-burguês” e “alienado”.

Tudo bem, que fazer? Como dizem os antigos, dependendo de quem venha o insulto é um grande elogio e vindo de uma assembléia ululante de patéticos criticamente estupidificados, essas doces palavras, para minha alma, não passaram de singelos elogios. De mais a mais, essa é a postura dos senhores e senhoras que se auto-proclamam “democráticas” e “plurais”. E realmente o são, desde que concordem sempre com as patacoadas ditas por eles e seus pares, é claro.

Mas o melhor dessa história vem agora. Quando chegamos ao Campus da UFSC, nas salas onde ficamos alojados havia os cartazes que comunicavam a todos os presentes o heróico ato de vandalismo realizado em Porto Alegre como um elemento motivador para se realizar algo similar em Florianópolis. Diziam eles em seus cartazes e em seus testemunhos que eles foram agredidos pelas autoridades policiais, que houve quebra-quebra e aquele velho blábláblá de sempre.

Se tivesse ocorrido, teria sido compreensível, porém, nove anos depois, eis que conheço um sociólogo que estava presente no “evento” da capital gaúcha em 2000 e confessou para mim que não houve confronto com a polícia não. Ela estava lá no local, mas que, apenas ficou lá para, segundo suas palavras, “garantir que ninguém fosse ferido” ou coisa do gênero.

Trocando em miúdos, além de serem um bando de vândalos irresponsáveis, aqueles jovens estudantes que, provavelmente, hoje são professores, não passavam de uma horda de dissimulados e mentirosos imersos em sua neurose ideológica, crentes nas mentiras que eles mesmos estavam contando.

Por essa razão, se me perguntassem o que eu aprendi com o movimento estudantil, eu responderia com tranqüilidade que compreendi através dele um dos grandes problemas da educação nominalmente superior que é a total ausência de estudantes de fato, a ausência de pessoas que realmente devotem uma parte significativa de suas vidas à procura pelo conhecimento.

Vi, neste tempo vivido por mim, o que eu não desejava ser, mas testemunhei com grande tristeza quais eram as veredas que a educação estava tomando e, por isso, quando vejo, nos dias de hoje, determinados absurdos, estes pouco me impressionam, visto que, como eu poderia esperar algo de digno de um caminho onde em inúmeras ocasiões testemunhei fenômenos similares ao que fora descrito acima, encenados por professores e acadêmicos?

E é só.

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