Bem vindo ao blog de Dartagnan da Silva Zanela, Cristão católico por confissão, caipira por convicção, professor por ofício, poeta por teimosia, radialista por insistência, palestrante por zoeira, bebedor de café irredutível e escrevinhador por não ter mais o que fazer.

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DE TANTO PENSAR MORREU UM BURRO

Escrevinhação n. 831, redigido em 18 de maio de 2010, dia de São Félix de Cantalício, São João Primeiro e São Leonardo Murialdo.

Por Dartagnan da Silva Zanela

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Peço licença ao amigo leitor, para iniciar essa missiva, com uma citação, um tanto extensa de Alexis Carrel, citação essa que nos diz que: “Na esmagadora comodidade da vida moderna, o conjunto das regras que dão consistência à vida se reduziu; a maior parte das fadigas que o mundo cósmico impunha desapareceu, e com elas desapareceu também o esforço criativo da personalidade [...]. Pouca observação e muito raciocínio conduzem ao erro. Muita observação e pouco raciocínio conduzem à verdade”. Ora, mas o que exatamente esse senhor, prêmio Nobel de Medicina, intentou nos dizer com essas palavras? Simplesmente o óbvio ululante, como diria Nelson Rodrigues. E como o óbvio é, por demais, fugidio aos olhos do homem moderno, dediquemo-nos, neste momento, a visualizar o que essa distinta pessoa desejou nos dizer.

A sociedade moderna com seu fluxo crescente de inovações que tem por objetivo aplicar à vida cotidiana uma maior praticidade e conforto, gradativamente, foi (e continua) literalmente abolindo com inúmeras regras que moviam a pessoa humana pela procura de uma vida autêntica. Antes do advento da sociedade moderna, o sentido da vida humana era uma questão levada a sério pelas pessoas de um modo geral, visto que, a sociedade apresentava aos sujeitos regras e símbolos que permitiam ao indivíduo compreender o seu lugar no cosmo. Regras e símbolos que não reportavam a superficialidade de nossa condição carnal e transitória, mas sim, para a nossa condição espiritual real. Isso mesmo. Como nos lembra, pontualmente, o Sumo Pontífice Bento XVI, o real é o espiritual. Real é o elemento que é eterno e não o que é fugas e transitório que serve apenas de sustentáculo da alma humana imortal.

Tudo que era passível de ser realizado exigia do homem um relativo sacrifício a ser despendido por sua pessoa. Exigia do homem um relativo esforço. Desde a manutenção de sua existência física até a obtenção de saberes que lhe auxiliariam na compreensão da realidade. Da realidade do mundo e de si. Na sociedade moderna, nos dias hodiernos, nada mais de significativo é exigido do ser humano e quando é, este sacrifício é literalmente um reles simulacro, um pseudo-símbolo esvaziado de significado substancial.

Um bom exemplo são as razões que nos são apresentadas, e que na maioria das vezes assimilada, para que nos dediquemos a uma “vida dita intelectual”, aos estudos. Se formos mergulhar com sinceridade nas camadas de nossas intenções, perceberemos com grande tranqüilidade que o “amor ao conhecimento” que é afirmado por nós é tão superficial como a face de uma possa d’água. É comum por demais vermos pessoas falando disso com aquele ar postiço de superioridade fingida. No fundo, todos fingem não saber que ele não é nada daquilo, pois denunciar a sua falsidade implicaria, necessariamente, na delação da nossa e, conseqüentemente, iria nos forçar a adotarmos uma mudança significativa de nossa maneira de ser.

Por nos afastarmos das regras tradicionais que davam sentido a vida humana e nos entregarmos voluntariamente aos quereres mais banais de nossa alma, acabamos por tolher a nossa personalidade, mutilando o sentido mesmo de nossas possibilidades de realização enquanto ser humano.

Elaboramos em nossa mente mil e uma explicações para o que somos e para o que almejamos ser ao mesmo tempo em que ignoramos o que nós realmente somos. Ou, como nos diz Carrel, “raciocinamos demais e observamos de menos”. Aliás, enxergamos tudo de acordo com a superficialidade de nossos raciocínios e esquecemos a necessidade de observar a realidade tal qual se manifesta diante de nós e em nós.

Por isso mesmo, não é de causar admiração alguma vermos uma sociedade composta de pessoas que tratam com tanto carinho suas opiniões imprecisas e vagas, ao mesmo tempo em que desdenham olimpicamente a realidade que o rodeia e o constitui.

Pax et bonum
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