Bem vindo ao blog de Dartagnan da Silva Zanela, Cristão católico por confissão, caipira por convicção, professor por ofício, poeta por teimosia, radialista por insistência, palestrante por zoeira, bebedor de café irredutível e escrevinhador por não ter mais o que fazer.

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OUTRA ALOCUÇÃO INAUDITA

Escrevinhação n. 843, redigida em 28 de julho de 2010, 17ª. Semana do Tempo Comum, dia de Santo Inocêncio I, São Nazário e São Celso.

Por Dartagnan da Silva Zanela

“Três coisas são necessárias para a salvação do homem: saber o que deve crer, saber o que deve desejar, saber o que deve fazer”. (Sto. Tomás de Aquino)

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Certa feita, em uma agradável conversa que mantive com um grande amigo (que, aliás, é uma das pessoas mais ilustradas e serenas que conheci), este falou-me que o papel fundamental daqueles que estão investidos da função de instruir não seria ensinar algo novo e singular, mas sim e tão só lembrá-los o óbvio. O óbvio ululante, como diria Nelson Rodrigues. Naturalmente, este sábio irmão de fé estava coberto de razão.

Sem rodeios, explico-me: quando volvemos as meninas de nossas vistas para as preocupações que pululam as estéreis discussões em torno do tema “educação”, com grande freqüência vemos a proclamação da necessidade de se procurar atualizar os nossos métodos e conteúdos, que a prioridade número um dos educadores deve ser a adoção de uma postura diferenciada que arremesse para as vistas dos mancebos um viés formativo mais condizente com a nossa realidade hodierna. Todos nós já ouvimos aqui ou acolá esta lengalenga, quando não fomos participes desta, não é mesmo?

Pois bem, por isso mesmo retorno ao ponto levantado pela anônima voz de meu dileto amigo, agora, na forma de uma singela inquirição: mas, e quanto ao basicão? Isso mesmo! Nossos incautos púberes já se encontram suficientemente versados nos saberes, fazeres e deveres elementares para poderem se aventurar com a devida propriedade em mares epistemológicos nunca dantes navegados?

É, meu caro José. A festa nem mesmo começou e já é possível sentir aqueles ares nauseantes a entorpecer nossa percepção e a atordoar o nosso entendimento, porque apesar da erística pedagógica chinfrim reinante, a resposta que nos é dada pelos extratos da realidade a tal indagação é um retumbante não. Não se sabe e mesmo se desdenha o assim chamado “basicão”.

Para os que compreendem a gravidade do problema, isso não é apenas alarmante. É desconcertante. Todavia, não nos esqueçamos de que, para muitos, este quadro atende diretamente os seus interesses mais imediatos e primários, visto que, são inumeráveis as almas que, nisso que elas chamam de vida humana, fazem-se valer da “lei de Gerson” adaptada a era hi tech: “tô nem aí!”

De um modo geral, empurramos o problema com a barriga, com os glúteos, com o que der, para que possamos ao menos encenar uma aparente preocupação com a situação. No fundo, a maioria de nós deseja apenas tirar a sua (in)devida vantagem. Trocando por miúdos: todos sabem que a educação, de um modo geral, tornou-se atualmente um sinistro teatrinho onde todos são testemunhas do homicídio qualificado da inteligência humana, porém, nos calamos e nos silenciamos como cúmplices porque, de algum modo, estamos tirando alguma “vantagem” dessa situação.

Muitos educadores, cansados ou não, tem apenas em seu horizonte de inquietações o seu ordenado mensal. Muitíssimos alunos vislumbram unicamente a possibilidade de dar um migué em todas as matérias e obter uma aprovação, com ou sem a outorga do conselho de classe. Um bom tanto de pais apenas não quer, como se diz, incomodar-se. E, nossos (des)governantes, é claro, anseiam saber apenas quantos votos essa demagogia toda poderá lhes render.

Definitivamente, nossa sociedade se acanalhou de forma tal que chega ser embaraçoso declarar qualquer palavra de maneira franca e séria sobre qualquer assunto, visto que, não mais conseguimos visualizar, neste doentio ambiente, almas que realmente dialoguem de maneira franca sobre o que está a sua volta e sobre o que habita dentro das vidraças da janela de seu ser.

Sabemos que o desprezo pelo conhecimento em nossa sociedade vem de longa data e é, infelizmente, uma das marcas indeléveis da brasilidade. Todavia, na atualidade este desdém autoproclama-se soberano e sujeito ativo de direitos, digno de respeito, mesmo que isso tudo seja apenas mais um fingimento, como tudo o mais, não é mesmo?

Pax et bonum
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