Bem vindo ao blog de Dartagnan da Silva Zanela, Cristão católico por confissão, caipira por convicção, professor por ofício, poeta por teimosia, radialista por insistência, palestrante por zoeira, bebedor de café irredutível e escrevinhador por não ter mais o que fazer.

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ESTUDAR COM O CORAÇÃO NA MÃO

Escrevinhação n. 886, redigido em 30 de abril de 2011, dia de São José Benedito Cotolengo e São Pio V.

Por Dartagnan da Silva Zanela

"Devemos ter uma boa memória para sermos capazes de cumprir as promessas que fazemos".
(Friedrich Nietzsche)

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Existem certas falas que refletem o estado de espírito de uma época, visto a freqüência com que são repetidas. Uma dessas foi abordada em nossa missiva anterior. Outra que, por sua deixa, nos apresenta de maneira nua e crua a torpeza que invade e se assenhora de nossa sociedade é a que pretendemos, mesmo que de maneira diminuta, tratar nessa mal fadada coluna.

Chega me causar urticária ter de ouvir que o importante para o aluno não é decorar, mas sim, que ele aprenda, que ele saiba o que está fazendo para que venha à ser um verdadeiro cidadão e o resto do blá blá blá que todo mundo já conhece, não é mesmo? Tudo bem, mas vamos ao ponto do conto: o que se quer dizer com isso, cara pálida? Pergunte as almas sebosas o que elas querem dizer com essa frase sem sentido e elas vão se enrolar todas.

Provavelmente vão dizer que “tudo é um processo” e nada mais do que isso, porque, na verdade, elas não sabem o que estão dizendo. Apenas repetem essas palavras porque quem as proclama quer posar de “gente bonita”, “inteligente” e adoravelmente “progressista”. As palavras bonitinhas, nada dizem de substancial e muito menos as bocas que as balbuciam.

Para que não tenham de mim uma imagem truculenta (na verdade, não me importo com isso), vejamos o problema. Confrontemos as ocas palavras com as realidades que elas pretensamente querem retratar. Sempre que ouvimos as almas mencionadas falarem no problema da tal “decoreba” elas afirmam que hoje em dia não é mais necessário que saibamos tudo, visto a grande quantidade de bancos de dados que existem e que basta que os consultemos. Inclusive, em certas ocasiões, citam uma passagem, hipotética, em que Einstein não sabia um número telefônico e que ele afirmava que não precisava saber isso, pois estava anotado em sua agenda. Logo, pra que decorar?

Oh! Então vejamos: não seria ao menos necessário saber, de cor, onde estão esses bancos de dados? Não temos que saber na ponta da língua uma boa gama de palavras para podermos nos comunicar medianamente, inclusive, para dizermos, como essas almas, que tudo isso não é importante? Ou somos do tipo que fica o tempo todo procurando em um caderninho a palavra mais apropriada para dizer algo ou fuçando num manual para sabermos o que fazer em uma determinada situação? Aliás, o que você gostaria de me dizer agora, caso seja uma dessas criaturas? Você já o sabe, de cor, ou está consultando um amontoado de manuais e guias?

Como se percebe, dissociar o aprender do decorar é uma atitude auto-contraditória, pois tudo que um ser humano quer quando se dedica a aprender algo é não esquecer o que aprendeu. Ao menos o que é essencial. Para dirigir um carro, cozinhar, tocar um instrumento musical ou mesmo refletir sobre problemas filosóficos, é fundamental que tenhamos como meta nisso tudo guardar esses saberes em nosso coração e integrá-los em nosso ser não mais como algo a ser lembrado ou averiguado em um material externo, mas sim, enquanto algo que passou a fazer parte de nosso ser, completando-nos. Aliás, meu caro, daí vem o sentido de saber algo “de cor” que, do latim, seria tão só e simplesmente um saber “do coração”.

De mais a mais, é um tanto engraçado imaginarmos que as pessoas não estudariam algo para saber “de cor” (com o coração). Mas, então elas ficariam anos a fio estudando para que? Não para saber “de cor”, mas sim, para compreender que aprendeu que tem um diploma? É isso?

Ora, ilustremos esse dito com um exemplo: se iniciamos o estudo de uma língua estrangeira para dizermos que a “estudamos” e ter um certificado e mãos ou para sabermos nos comunicar por meio dela? E quanto ao calcular? E conduzir um veículo? E atuar em uma peça de teatro? Bem, e por aí segue o andor.

Detalhe: a realidade não é uma questão de gostar ou não do que vemos, mas sim, um fato. Ela estar diante e em nós, gostemos ou não. Por essa razão, e não por outra, que nosso horizonte de consciência, como nos ensina o filósofo Olavo de Carvalho, sempre será a multiplicação dos raciocínios que somos capazes de fazer pelo número de informações e dados que somos capazes de processar e armazenar em nossa memória. Você já fez esse cálculo? Então faça e veja quais são as dimensões de seu horizonte de consciência.

Voltado à trilha: exclua essa intenção no ato de aprender, extirpe este propósito e compreenderá porque atualmente cresce, dia após dia, o número de pessoas que não são plenamente alfabetizadas. Claro que ver o aprender por esse viés torna-o menos colorido e mais chato. Todavia, educação não é um concurso de simpatia e bom-mocismo. Educação é trabalho árduo na edificação de uma obra chamada ser humano maduro (obra essa, muitas das vezes, ingrata). Obra essa que pode ser feita com zelo, sacrifício e muito trabalho ou com desleixo, comodismo e uma boa dose de malandragem e dissimulação.

Observação capciosa: tanto no primeiro como no segundo caso, o mestre de obras do edifício é o próprio sujeito. Por mais que você negue essa realidade patente ela se fará presente em sua vida. Gostemos ou não disso. Decore ou não o que aqui foi dito.

Pax et bonum
http://dartagnanzanela.tk

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