Bem vindo ao blog de Dartagnan da Silva Zanela, Cristão católico por confissão, caipira por convicção, professor por ofício, poeta por teimosia, radialista por insistência, palestrante por zoeira, bebedor de café irredutível e escrevinhador por não ter mais o que fazer.

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A GRANDE PESTILÊNCIA QUE INFECTA OS ARES DAS RUÍNAS DO LICEU – parte II

Escrevinhação n. 889, redigido em 09 de maio de 2011, dia de São Pacômio, de São Jorge Preca e da Bem-aventurada Maria Teresa de Jesus.

Por Dartagnan da Silva Zanela

“Os desejos matam os preguiçosos”.
(Provérbios XXI; 25)

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Você já assistiu o filme O grande desafio (The Great Debaters)? Se não, assista. Vale a pena. Essa película, dirigida por Denzel Washington, conta-nos a história de uma equipe de debates formada por estudantes negros de uma universidade do Texas. Equipe essa que existiu, de fato, e que, por sua deixa, foi a primeira equipe de estudantes negros que foram debater em Harvard.

A história é interessante não apenas pelo drama vivido pelo professor Mel Tolson (interpretado por Denzel Washington) e pelos seus alunos, mas sim e principalmente, por essa história ser uma verdadeira vacina contra toda ordem de bom-mocismo pedagógico que infecta nossa sociedade e que, muitas das vezes, nos infecta.

O professor Tolson não mede as palavras para que seus alunos aprendam o que eles devem aprender. Ele diz, muitas vezes, aos jovens, as verdades mais duras com as palavras mais causticas para que vençam os desafios da vida. Como diriam os populares, chega ser bonito de ver o professor ensinar e, mais lindo ainda, ver a forma como os alunos aprendem com dedicação e zelo o que lhes é ministrado. Eles sabem que o professor está lhes falando da realidade e compreendem rapidinho que o mundo real não está disposto a acatar brincadeiras.

O interessante nesse filme, em especial na figura sapiente do professor, é que se fôssemos avaliá-lo à luz das teorias pedagogentas reinantes, ele seria provavelmente repreendido e enviado para uma, como diria, necessária reciclagem, pois, ao olhar “crítico” dos iluminados de mente revolucionária da hora, o personagem interpretando por Denzel Washington seria recriminado por estar impingindo traumas terríveis aos mancebos.

Todavia, os alunos do professor tornaram-se almas singulares e prodigiosas em suas vidas. Já em nossa sociedade, as pessoas maravilhosas e boazinhas tem apenas semeado uma multidão de almas presunçosas, tomadas por uma profunda impotência intelectual.

Ora, meu caro Horácio, nós apenas aprendemos a lidar com determinadas situações quando somos defrontados com o perigo da danação. Aliás, conforme nos ensina o filósofo espanhol Francisco Vitória, e bem como a experiência direta que nos é brindada pelo dia a dia, esse é o chão real onde se desenrola a vida humana em liberdade. A vida é instável, cheia de sobre-saltos e perigos, mesmo que façamos beicinho.

Criar simulacros onde se passa a falsa sensação de segurança plena é, no mínimo, picaretagem envolta da mais pérfida má intenção. E é isso o que vem há décadas ocorrendo em nossa sociedade na seara da educação. Ilusão essa que vem chegando a píncaros de insanidade irreversível, não se convencendo dos erros cometidos em nome de modismo e ideologias, mesmo estando diante de seus frutos horripilantes.

Por essa razão, neste ínterim, lembramos as sábias palavras proferidas certa feita por São Bernardo, que nos lembra que “quem quer levar vida perfeita deve procurar levar uma vida singular”. Ouse falar em almejar a perfeição. Mais do que depressa surgirão alma sebosas que saindo de suas alcovas apedrejá-lo-ão com toda ordem de insultos. Todos eles, os insultos, mesclados com a pífia idéia de que você estará atribuindo a si a pecha de ser perfeito e de querer humilhar os outros com essa idéia retrograda de almejar o que é perfeito. Ah! Dozinho!

Entretanto, desejar a perfeição não é sinônimo que proclamar-se perfeito. Aliás, há algum ideal mais sublime para nortear os nossos atos e, em especial, nossa educação? Creio que não. De mais a mais, se não desejamos atingir a mestria na realização de algo nós pretendemos o que então? Ser legalzinho?

O mais sinistro nisso tudo é que as pretensas almas modestas imaginam que o desprezo pela perfeição seja sinônimo de humildade sem flagrar-se de que ao desprezar a procura por ela acabam por elevar aos mais dignos patamares de pretensa perfeição a sua arrogância e dissimulado bom-mocismo.

Isso mesmo! Se a desprezamos é porque imaginamos que a superamos ou porque, desde muito, já cremos que somos detentores de algo mais elevado.

Doravante, no filme citado, o professor Tolson o tempo todo lembra aos seus alunos o que eles devem almejar e que o caminho para tal não é um caminho que pode ser singrado por almas vacilantes e que, para realmente tornarmo-nos alguém, no sentido pleno da palavra, o trabalho árduo é imprescindível. Ou, como nos ensina o brocardo, sem sacrifício não há glória. Ou há?

Ainda, no mesmo filme, há logo no início uma cena onde um dos garotos, que integra a equipe, conversa com seu pai, interpretado por Forest Whitaker, que pergunta ao primeiro: “o que nós temos que fazer?” E o garoto responde: “Aquilo que devemos”. Sim, aquilo que devemos fazer para vencermos nossas inibições, nossas fraquezas e os obstáculos que a vida nos apresenta (e que nós construímos muitas vezes) para assim, de fato, crescermos em Espírito e Verdade, nos tornado assim, realmente, pessoas maduras.

Em fim, uma lição simples sobre o sentido da educação. Lição essa que dificilmente pode ser ministrada em um ambiente onde há uma preocupação maior em ser bonzinho do que em ser verdadeiro com aqueles que estão iniciando a sua jornada por esse vale de lágrimas.

Ah! Antes que eu me esqueça: vejam o filme e aprendam com o personagem interpretado por Denzel Washington qual o caminho a ser seguido por uma educação que realmente eduque para a vida. O resto, meu amigo, é colóquio flácido para boi dormir.

Pax et bonum
http://dartagnanzanela.tk

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