Bem vindo ao blog de Dartagnan da Silva Zanela, Cristão católico por confissão, caipira por convicção, professor por ofício, poeta por teimosia, radialista por insistência, palestrante por zoeira, bebedor de café irredutível e escrevinhador por não ter mais o que fazer.

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PROFESSOR, A RECUPERAÇÃO É QUANDO?

Escrevinhação n. 885, redigido em 28 de abril de 2011, dia de São Pedro Chanel, de São Luís Maria Grignion de Montfort, de Santa Joana Baretta Molla e de Santo Agapito I.

Por Dartagnan da Silva Zanela

“A educação é uma arte de amor – realizá-la perfeita é colaborar com Deus completando-lhe dignamente a obra”. (Coelho Neto)

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Literalmente é um balde de água fria. Creio que todo professor já deve ter tido essa experiência frustrante. Lá está ele, ministra suas aulas com todo o zelo possível, elabora uma prova dentro das proporções cabíveis à sua turma de mancebos, realiza uma revisão criteriosa dos conteúdos estudados e apenas depois de todo esse cauteloso procedimento, aplica-se o instrumento na expectativa de colher ambrosias epistêmicas das tenras árvores que cultivou e regou no correr dos dias letivos.

Ledo engano. Triste desilusão. Essa em regra começa a pesar sobre as cansadas costas do educador quando ele inicia a correção que lhe impacta a alma em um misto de decepção, angustia e impotência. Todavia, em muitas outras ocasiões (que cada vez tornam-se mais freqüentes), essa torrente de plúmbeos ares invade o espírito do professor antes mesmo de findar o tempo para feitura do instrumento avaliativo. Já começa durante esse. Primeiramente com as expressões faciais dos guris ao bater os olhos na folha que é colocado em suas mãos. Expressões essas que muitas das vezes é interrompida por uma fala maliciosa e tomada por ares de desídia: “fessor, quando que é a recuperação?”

Já estou a algumas primaveras nesta seara e já ouvi muitas vezes esse dito como também desconheço professor que nunca tenha ouvido essa dolorosa sentença. Para quem não integra o quadro, talvez não compreenda o sentimento de frustração, por isso, permita-me uma analogia. Imagine que você plantou uma figueira e que a cultivou com relativo zelo e, quando você vai colher os esperados figos, ao se aproximar dos galhos, estes, de repente apodrecem diante de seus olhos e caem. É assim que nós, professores, nos sentimos diante da formatação politicamente-correta e pedagogicamente canalha que o sistema educacional está (des)organizado que cria essas e outras situações similares.

Nós somos o lavrador da analogia. Somos nós que temos de testemunhar a perda da safra e, mesmo assim, fingir que a colheita está sendo boa, uma das melhores e que em um curto prazo de tempo iremos atingir os píncaros da produtividade. Perdoem-me, mas somente um demente crê nisso. Se há gente a fim de mentir, tudo bem. Todos têm direito a sua dose de patifaria. Entretanto, mentir, acreditar na própria ilusão e exigir que os outros fechem os olhos, delirem junto, é uma palhaça sinistra que não tem a menor graça.

Bem, se um sorrisinho amarelo estampou-se em sua carinha, vejamos um dado curioso divulgado, discretamente, em 2009. Dado esse que dá pano pra manga. De acordo com o relatório da INAF (Indicador de Alfabetismo Funcional), apenas 26% da população brasileira é plenamente alfabetizada. E mais! 32% dos brasileiros com ensino superior (completo ou incompleto) não podem ser considerados plenamente alfabetizados, segundo a referida pesquisa. Pois é, aí eu pergunto: será que há recuperação para isso? Eis a pergunta que não quer calar.

Sim, claro que a lengalenga não irá parar e nós continuaremos a ter a presença daquelas figuras dissimuladas e sínicas parlando suas teorias maravilhosas, suas pedagogias do oprimido, da esperança, inovadora, histórico-crítica, em fim, todo aquele trololó parasita-clientelista que está deixando um rastro de destruição pelo caminho do ex ducere e uma multidão de pessoas com dilatação escrotal crônica.

Que fazer? Olha, para começo de prosa, creio que precisamos, urgentemente, reaprendermos a ser francos conosco mesmo e procurar ver os problemas tal qual eles se apresentam, sem nenhum subterfúgio ideológico ou qualquer ordem de masturbação mental. Urge fazermos um exame sério das concepções educacionais reinantes à luz dos seus frutos e aí, meu caro, compreender com grande clareza porque com os ditos “métodos errados” aprendia-se o que era certo e porque com os malditos “métodos certos” só se ensina e se aprende o que é errado.

Por fim, falando em franqueza, sejamos francos com a indagação que nomina essa missiva. “Fessor, quando é a prova de recuperação?” Resposta nua, crua e sincera: recuperar o que, meu caro? O aprendizado dá-se no tempo e não em uma esfera etérea de existência. Tempo perdido não se recupera. O que se perdeu com ele também não. A vida, que é uma grande mestra, quando ofereceu à nossa espécie alguma recuperação? Nunca. Mas, sempre nos é apresenta uma boa ocasião para aprendermos com nossos erros e com o amargor de nossas quedas. Todavia, é preciso cair.

A recuperação camufla essa realidade patente de nossa existência e enclausura o elemento em um mundinho umbilical onde os erros não têm conseqüência e as quedas nunca nos atingem. Por isso neste caminho você não aprende. Aliás, desaprende a ser gente plenamente. Se você quer uma recuperação, tudo bem, terá, porém, responda-me: o que você, francamente, quer recuperar? O que você havia adquirido e que acabou perdendo para reaver?

Pois é, a gente só recupera o que um dia realmente foi nosso. O que nunca nos pertenceu não pode ser reavido. Deve-se, portando, primeiramente adquirir o saber e, para tanto, o caminho é outro, não esse que é sinicamente repetido neste simulacro que convencionou-se chamar de educação.

Pax et bonum
http://dartagnanzanela.tk

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