Bem vindo ao blog de Dartagnan da Silva Zanela, Cristão católico por confissão, caipira por convicção, professor por ofício, poeta por teimosia, radialista por insistência, palestrante por zoeira, bebedor de café irredutível e escrevinhador por não ter mais o que fazer.

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A LONGA MARCHA DA VACA PARA O BREJO

Escrevinhação n. 899, redigido em 22 de julho de 2011, dia de Santa Maria Madalena.

Por Dartagnan da Silva Zanela



Já faz muito que Roberto Campos declarou que no Brasil, a burrice tem um futuro próspero e um passado glorioso. Todavia, sempre há aqueles que já ficam sentidos em seus brios de bom-mocismo, de defensores dos frascos e comprimidos, mas, me digam uma coisa, o que o fato de 32% dos brasileiros com ensino superior não serem plenamente alfabetizados sinaliza? O que dizer diante dos resultados que os alunos deste país, chamado Brasil, apresentam no PISA? Simplesmente que o finado Roberto Campos tinha uma clara visão da têmpera de nossa sociedade e que não adianta ficar bravinho.

Diante desse fato, como ousar falar em letramento? Como? Não sei. Por isso, falemos do pano de fundo que está por traz deste flatus vocis que se convenciona chamar de discussão sobre educação que, no fundo, não passa de uma mesquinha dissimulação. Falemos do desprezo que o brasileiro nutre pelo conhecimento e, consequentemente, por toda e qualquer senso de medida e hierarquia. Esses traços muito bem caracterizam tanto o homem massa orteguiano como o homem medíocre exumado nas laudas da obra de José Ingenieros e que são vistos aos borbotões nos rincões e centrões deste país.

Em nosso sistema educacional, atualmente, falando o português bem claro, entende-se que corrigir é um erro, que elogiar o mérito é um insulto e ter mérito então, é um agravo moral imperdoável. Onde já se viu ser letrado em uma sociedade de iletrados! Como os ignorantes voluntários (aqueles que têm um diploma de “sabedores” e desprezam o conhecimento) vão se sentir diante disso! Não mesmo!

Segundo entende-se e pratica-se em nosso sistema educacional é fundamental que se “valorize” as tais diferenças. Quando isso é dito, entenda-se que se deve punir o mérito e, automaticamente, premiar o demérito. É claro que isso é uma verdade obvia, como também é obvio que algo tão evidente está mascarado e encoberto com o véu do tal do preconceito lingüístico e dos demais coitadismo de toda ordem.

Aliás, como nos admoesta o filósofo Olavo de Carvalho, em seu escrito “Quem como quem”: “Para os meninos da Febem ou para o lavrador de Ponta Grossa, pode ser bom ou pelo menos cômodo, a curto prazo, que os deixem escrever como falam, sem subjugá-los à uniformidade da norma. Subjetivamente, eles talvez se sintam, assim, menos excluídos. Mas, objetivamente, aí sim é que estarão excluídos, aprisionados na sua particularidade e sem acesso à conversação das classes cultas. Tudo depende de saber se preferimos enfraquecê-los pela lisonja ou fortalecê-los pela disciplina. Há nisso uma escolha moral que os amigos do povo preferem não enxergar”. Se isso é cômodo para estes, quem o diga para o professor inculto que posa de sábio, não é mesmo? Como é cômodo!

Doravante, meu caro Watson, todo ato humano é um ato moral, um ato axiológico, inclusive todo e qualquer blábláblá pedagogesco infectado com toda perfídia politicamente-correta. Por isso, se fôssemos realmente refletir sobre a torpeza moral que permeia a educação (e a sociedade) brasileira, compreenderíamos o que realmente falta para nós. O que nos falta, como a muito dizia o Capistrano de Abreu, é vergonha na cara, é pararmos de nos fazer de coitadinhos.

Sim, sei que o fracasso subiu a cabeça de todos nós, mas, enquanto não pararmos de justificar a nossa mediocridade jamais seremos capazes de educar alguém. Isso mesmo! No fundo, quando fingimos defender os frascos e comprimidos, estamos apenas recorrendo a um subterfúgio mesquinho para encobrir a nossa pequenez. Não? Então demonstre a sua grandeza em algo e pare de chorar o leite que jamais ordenhamos.

E quanto ao letramento? Jorge Luis Borges resume o ponto quando afirmou que para se entender um único livro é necessário que leiamos muitos livros e ponto. Ora, ora, meu caro, então agora seja franco, mas seja mesmo: quantos livros você realmente tentou entender? Quantos livros mudaram a sua vida? Quantos livros você leu nas férias? Mas, com toda certeza, você já fez inúmeras piadas sobre as pérolas dos alunos, não é mesmo? E quanto ao tempo perdido com fofocas e trololós chulos, creio que não é nem preciso perguntar, não é mesmo? Ah! Mas é claro, como eu pude me esquecer! Nosso gosto não encontra tempo para uma atividade tão enfadonha como essa, a leitura, não é mesmo? Que merda.

Por fim, sem mais delongas, lembremos, e não mais esqueçamos que somos uma sociedade de iletrados presunçosos, que se orgulha de sua baixeza, que justifica o seu fracasso no sucesso dos outros, onde os indivíduos não se vêem como responsáveis pelos seus atos e pela sua vida, somos uma sociedade que nutre uma auto-piedade ridícula e vergonhosa, que ama ocupar o tempo com conversas fúteis e sem sentido e que, mesmo assim, acredita que será capaz de educar a geração mais tenra. É, como dizem os garotos, é pra acabar, se já não acabou essa longa marcha da vaca para o brejo.

Que Deus tenha piedade de todos nós.

Pax et bonum
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