Por Dartagnan da Silva Zanela
1.
Há uma passagem duma obra da lavra de Joaquim Nabuco onde o mesmo nos diz: “Vede como é grande a bondade do Cristo, — as sobras de um coração gasto pelos desejos lhe parecem mais dignas ainda e sua aceitação do que a alvura de uma vida irrepreensível. Para isso, porém, foi preciso que o horror de si mesmo irrompesse das profundezas do ser, tal uma lava de arrependimento, transformando nodoas e impurezas em chama ou em fogo... Esses vulcões do coração alcançam uma grandeza incomparável nas Vidas dos Santos; dominam dali as vidas tranquilas que correm mansamente dentro dos vales que se poderiam denominar o vergel de Deus. Já hoje não aparecem desses arrependimentos ardentes. Arrastamos farrapos de alma”.
E assim vivemos hoje, muito mais do que ontem. Somos esfarrapadas almas. Cansadas. Envelhecidas e insistimos em fingir mocidade como se a meninice perene fosse uma excelsa qualidade.
Imaginamos que a plenitude que um ser humano pode realizar seria uma vidinha similar as que nos são apresentadas pelas midiáticas imagens. E como esse é todo o nosso horizonte, não somos mais capazes de conceber a magnanimidade dum santo; tornamo-nos incapazes de vislumbrar o que é um coração inundado de amor como o são os daqueles que viveram intensamente cada palavra do Evangelho do Senhor que nada mais é que Seu coração aberto e transposto em imprecisas palavras humanas, tamanha Sua bondade para conosco. Tamanha é nossa ingratidão para com Ele.
2.
Millôr Fernandes defendia que todo cidadão tem direito, irrevogável, ao foda-se. Tal direito pode e deve ser exercido por qualquer um quando a ocasião assim exigir.
Vale lembrar que não é necessário o uso, específico, da expressão foda-se para fazer valer esse fundamental direito. Pode ser um vá se ferrar, ou um vai tomar no toba, dane-se, ou simplesmente uma vaia (curta ou comprida).
Pouco importa qual o instrumento verbal que você utilize para fazer valer seu direito. O que não podemos, não mesmo, é permitir que qualquer patrulha ideológica mimada, ou panelinha militante alienadamente crítica, queira melindrar o cidadão fazendo carinhas feias, beicinhos, dando pitinhos e petiz politicamente corretos e magoados.
Enfim, vaie quem você quiser e quem não gostar, foda-se.
Pax et bonum
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Escrevinhação n. 1124, redigida em 17 de junho de 2014, dia de São Rainério de Pisa.
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