Bem vindo ao blog de Dartagnan da Silva Zanela, Cristão católico por confissão, caipira por convicção, professor por ofício, poeta por teimosia, radialista por insistência, palestrante por zoeira, bebedor de café irredutível e escrevinhador por não ter mais o que fazer.

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QUESTÃO CAPITAL CINICAMENTE DESDENHADA

Redigido em 02 de junho de 2009, dia de São Marcelino e de São Pedro 9ª Semana do Tempo Comum.

Por Dartagnan da Silva Zanela

"O orgulho não quer dever e o amor próprio não quer pagar".(François de La Rochefoucauld)
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Uma das expressões populares mais acertadas é a de “jogar conversa fiada”. Quando dialogamos com alguém esperemos que a conversar nos renda outras idéias e pareceres em troca dos nossos que foram ofertados, correto? Pois bem, oferecemos nossas idéias de maneira fiada a outrem e esse, muitas das vezes, porta-se como a um velhaco intelectual, não realizando o devido pagamento pelo que entregamos.

Em regra, a maioria absoluta de nossas conversas, inclusive as que são tidas como sérias, não passam de um reles “jogar conversa fiada”. E pior! Muitas das vezes nem as idéias nós ofertamos no meio do trololó, apenas repetimos algumas palavras-chave que estão a circular pelas vielas da sociedade para melhor agradar o cliente (nosso interlocutor, no caso) para mantermos uma boa aparência mesmo que ambos estejam enganando um ao outro. E o que é mais grave, enganando a si mesmos.

Ora, crescendo e vivendo em um meio como esse, como é possível falar com a merecida seriedade sobre qualquer assunto? Como é possível falar com a devida seriedade sobre temas capitais em uma ambiente onde tudo o que é digno de respeito é cinicamente desdenhado em nome da manutenção de uma dissimulação esquizofrênica. Como?

Não dá mesmo. Viver em um mundo de especialistas em que cada um sabe cada vez mais sobre cada vez menos e que, por essa razão estranha, acreditam estar autorizados a apresentar e implementar as (im)possíveis soluções para todos os problemas humanos já é um grande delírio societal. Agora, viver em uma sociedade repleta de palpiteiros que são especialistas em qualquer coisa, que sabem cada vez menos sobre coisa alguma e, por isso mesmo, crêem que estão habilitados a dizer como você deve viver e que palavras (politicamente-correto) você deve utilizar para verbalizar a realidade que está diante dos seus olhos é pra acabar.

Está parecendo estranho o que estou escrevendo? Então vamos fazer o seguinte: meditemos, solitariamente, sobre a nossa (de)formação educacional. Não vamos aqui rememorarmos os nossos queridos (ou não) professores, mas sim, quanto à postura com que nós encarávamos e encaramos a nossa formação enquanto pessoas. Sempre quando falamos em educação a primeira imagem que nos vem à mente não é a nossa, mas sim, a de terceiros que, supostamente, seriam os responsáveis pelo que deveríamos ter aprendido. Bem, aí começamos com o primeiro engano.

Engano porque a nossa educação não é responsabilidade de outrem, seja esse outrem uma pessoa, ou várias, ou uma Instituição. A responsabilidade pela nossa educação é de quem mais se interessa pelo seu bom andamento. Ou seja: “é nóis tio”.

Se estivermos nos sentindo mal atendidos no quesito educação, o primeiro problema está justamente aí, em nossa irresponsabilidade por nossa pessoa. É claro que a sociedade atual apregoa que essa não é uma responsabilidade sua, todavia, o que temos ganhado com isso? Com toda certeza não é a melhor educação do mundo, visto que, o Brasil sempre ocupa as últimas colocações nos testes sobre capacidade de leitura. Aliás, somos um povo que lê muito pouco e este pouco é feito de maneira pouco apurada e com muita má vontade. Não é à toa que sejamos tão dados a jogar conversa fiada.

O tom parece um tanto agressivo, então sejamos, neste ínterim, devidamente sinceros: quantas perguntas você formulou em sua vida? Quantas dessas perguntas você procurou investigar para obter uma resposta satisfatória? Muitas? Poucas? Ou apenas o número possível entre uma e outra conversa vazia jogada fora?

Doravante, se não somos capazes de ser sinceros conosco mesmo diante de perguntas tão simples, como podemos ser francos conosco mesmo diante de questões mais sérias que exigem de nós uma postura minimamente responsável. Ora, ser sincero consiste em aceitar nos enquadrar nos moldes das virtudes mesmo que as pessoas a nossa volta digam o contrário. Agir de modo sincero é agir com vistas a nos apresentarmos frente à verdade curvando nosso entendimento diante dela e permitindo que ela governe nossa razão.

Essa tensão interior nada mais é do que a resposta ao que queremos ser e somos, necessariamente, esse nosso querer. Esse querer pode ser um desejo sincero de crescer e de se realizar enquanto pessoa através da investigação das questões que nos permitimos levantar e responder, como também podemos ser uma parte soberba de uma massa presunçosa que repete tudo o que os outros dizem para poder fingir que sabe coisas que desconhece e desdenha por negligenciar o conhecer em seu delirante desconhecimento de si.

Por fim, tudo isso, meu caro, é uma questão de escolha. Do que você realmente quer, do que você realmente é.

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