Bem vindo ao blog de Dartagnan da Silva Zanela, Cristão católico por confissão, caipira por convicção, professor por ofício, poeta por teimosia, radialista por insistência, palestrante por zoeira, bebedor de café irredutível e escrevinhador por não ter mais o que fazer.

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UM LUGAR AO SOL


Escrevinhação n. 988, redigida em 21 de janeiro de 2013, dia de Santa Inês.

Por Dartagnan da Silva Zanela


Por conta do pecado originário, e um amontoado de outras razões, nosso coração vê-se maculado por toda ordem de males. Destes, um merece nossa especial atenção: a autopiedade. Em uma criança, tal manifestação, é natural, porém, indesejável. Por isso mesmo, pais e educadores esforçam-se (ou, pelo menos, esforçavam-se) em ensinar-lhes que ser assim é feio, que gente grande não pode agir assim. Todavia, atualmente, muito mais do que em outras épocas, esse sentimento reina, majestosamente, nos corações de pessoas biologicamente adultas.

Vivemos, invariavelmente, numa época em que os cidadãos não se cansam de repetir que sofrem por serem inocentes (não exatamente com essas palavras). Vemo-nos como vítimas injustiçadas em toda e qualquer circunstância, imaginamos que sempre somos prejudicados por uma conspiração estranha de forças que chamamos de sistema, Estado, elites ou, simplesmente, os outros ou aqueles. Pouco importa o nome que seja dado aos algozes que supostamente nos mutilam. O importante é que nosso vitimismo seja reconhecido, por todos os séculos, como uma fonte inalienável de direitos. Tal impostura é indecente, todos sabem, mas ninguém quer reconhecer.

Tal fenômeno retrata vivamente o elevado grau de infantilismo que vem tomando conta de nossa sociedade. Infantilismo este que leva multidões a ficarem chorando o seu próprio destino, como nos lembra Pascal Bruckner. Indivíduos esses que imaginam estar acima do bem e do mal, isentos de qualquer culpa por julgarem que já sofreram demais. Muito mais que o merecido. Pensando desta forma, o sujeito pode cometer uma injustiça, ou uma infâmia, simplesmente porque imagina que tal ato seria apenas um gesto de compensação frente às injustiças sofridas (reais ou ficcionais).

Trocando por dorso (ou qualquer miúdo de sua preferência), nestes corações, o rancor passou a ser um dos valores, senão o valor, fundante da vida, fazendo do posar de coitadinho, um símbolo de distinção. Todos querem ter um motivo para revoltar-se, pois, o espectro que paira sobre as franjas desta mentalidade, de revolto com ou sem causa, sinaliza a imagem de bom cidadão que crê, piamente, ter direito a tudo que lhe foi negado, mesmo que nada lhe garanta isso. Nem mesmo seus atos e convicções.

Sim, o excessivo amor próprio gera esse estado de coisas, como nos ensina Santo Agostinho. Amor próprio esse que nos leva a perder de vista as razões que podem nos elevar acima deste quadro bestial por estarmos agrilhoados em uma irascível e exclusiva preocupação com o como viver. Ora, ensina-nos Nietzsche que qualquer “como” viver torna-se insuportável quando não temos um “porque” viver. Pior! O como viver tornou-se, para muitos, praticamente o único porque legítimo. Tal fato, por si, já explica muitas coisas.

Com essas turvas linhas, não afirmo que toda e qualquer reivindicação seja injusta. Não é isso. Porém, muitas das bandeiras de luta que são hasteadas e que tremulam com os ventos do momento são apenas sintomas dum infantilismo desmedido que advém dum amor-próprio que corrói o coração humano com toda ordem de rancor que, no vocabulário hodierno, passou a ser sinônimo de educação crítica para a cidadania. Cidadanite esta que já está começando a dar seus frutos. E que frutos!

Pax et bonum
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