Bem vindo ao blog de Dartagnan da Silva Zanela, Cristão católico por confissão, caipira por convicção, professor por ofício, poeta por teimosia, radialista por insistência, palestrante por zoeira, bebedor de café irredutível e escrevinhador por não ter mais o que fazer.

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DA PUSILANIMIDADE COTIDIANA


Escrevinhação n. 963, redigida em 27 de agosto de 2012, dia de Santa Mônica.

Por Dartagnan da Silva Zanela



Em seu Testamento Político, o Cardeal Richilie ensina-nos que os maus exemplos minam a legitimidade da autoridade e que isso ocorre devido ao fato de que muitos indivíduos mensuram seu mérito de acordo com sua astúcia esquecendo-se da necessária realização de atos e feitos que deem substância a este.

As centúrias passaram, junto com os passos de milhares sobre terras e mares e cá estamos nestas terras distantes vivenciando a mesma chaga que se vê impregnada nos átrios de nosso coração e macula-nos. E pior é que tal estado de coisas não é uma novidade nestas paragens. Aliás, se formos realmente francos, constataremos o óbvio ululante de que o que destoa esta triste realidade é o tom da dignidade que, vez por outra, faz-se luzir em meio às sombras que amoldam a visão que temos de nossos dias.

Não é pouca a astúcia que molda nossa cultura política, ao mesmo tempo em que raro faz-se o mérito como medida indispensável de todas as ações. Neste cenário em que vemos dramatizada a vida política e social brasileira, mérito torna-se sinônimo de “eu mereço porque eu quero” de modo similar a um infante birrento que crê no poder mágico de sua manha cívica. E, como boas crianças manhosas que somos, facilmente nos intimidamos com caras feias e olhares atravessados que podem nos ser lançados por outrem, pois tememos mais a desaprovação da multidão do que o atormentar de nossa consciência por termo-nos silenciados frente ao clamor da verdade.

No fundo não passamos de adolescentes que se negam à maturidade. Tememos os perigos da vida devido ao nosso caráter desfibrado. Tal desfibramento mina a substância de nossa alma, a autoridade e a dignidade originárias e, neste sentido, como nos ensina São Tomás Morus, em seu “Diálogo sobre o conforto espiritual e a tribulação”, não se fará justiça aos homens sem autoridade como não é possível realizar um grande gesto sem ser detentor de uma abençoada grandeza.

Por essas e outras tantas razões que não me sinto empolgado com gritos retumbantes que clamam por justiça, visto que, a própria sociedade vê-se vacilante frente à corrupção nossa de cada dia. Indignamo-nos, sim, arregalamos os olhos quando vemos nossa alma invadida pelas manchetes sobre os inumeráveis escândalos que flagelam nosso país, porém, indignação é sentimento de fracos, ou disfarce hipócrita de uma alma sebosa.

Os fortes agem, meu caro. Os justos lutam sem temor e a alma, investida de autoridade, marcha com a couraça da verdade e invade os olhares dissimulados como um tanque em linha de batalha alvejando os sicofantas com as palavras que desnudam a orgulhosa e pérfida astúcia que impera em nossa mediocracia.

Por fim, como nos ensina Johann Goethe, o que mais uma República precisa são de homens de coragem e, infelizmente, é justamente essa virtude que tanto nos falta para tomarmos posse da dignidade que a tanto nos foi usurpada.

Pax et bonum
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