Por Dartagnan da Silva
Zanela (*)
Uma frescuragem maléfica muito
frequente em nossa sociedade é a atuação daqueles caiporas iluminados –
intelectuais ungidos, conforme as palavras de Thomas Sowell - que, nada mais
são que pessoinhas que acreditam que estão autorizadas a reorientar os passos
claudicantes de toda a humanidade pra direção que é apontada por seus
umbiguinhos. Intenção essa que resvala e cai feio em todas as tentações
totalitárias imagináveis.
Essa gentalha sapiens diplomada
não apenas quer reformar a vida, mas quer fazer isso desprezando o conhecimento
precioso que se encontra presente na prática daqueles que estão no dia a dia
resolvendo problemas reais com métodos e práticas, de fato, eficazes, bem diferente
daqueles que são regurgitadas por essas mentes letargicamente críticas.
Exemplo simples desse fenômeno -
o que não significa que seja simplista - é o que a educação da gurizada brazuca
vem sofrendo.
Nesse quesito, o Brasil está cheinho
de esquisitões cheios de ideias progressistas e inovadoras que eles acreditam
candidamente que tem tudo para dar certo, apesar de serem evidentemente
equivocadas.
Se fôssemos abordar todas as
esquisitices que infectam a seara educacional poderíamos, com tranquilidade,
escrevinhar um livro bem gordinho com letras bem miúdas sobre o assunto, porém,
como diz um velho amigo, não ganho por insalubridade para ficar lidando por
tanto tempo com um troço tão deletério como esse. Por isso, para não termos uma
disenteria mental procuremos nos ater à apenas um. Pequeno, porém, não sem
importância.
Uma fala recorrente nas sucursais
desesperançadas do submundo escolar é aquele trelelê que afirma que os
professores tem dificuldades em lidar com a indisciplina dos mancebos porque
eles querem dar aulas para alunos ideais e não para alunos reais. Por isso,
segundo essa gente que não conhece nem mesmo o cheiro do giz de uma sala de
aula, os educadores deveriam ser mais realistas e se adaptarem aos alunos ao
invés de ficarem lamentando-se dos dissabores muitas vezes colhidos com os
malfeitos infantis.
Ao ouvir uma fala melosa como essa
muitas almas acabam por acatar o dito e pensam, de fato, que é assim mesmo que
o trem funciona, que o grande mal do sistema de ensino seria que ele não é
pensado para trabalhar com alunos reais e blábláblá. Ou seja: por desatenção
acaba-se aceitando uma premissa falsa que leva a uma série de ações equivocadas
que apenas nos levam a colher maus frutos. E que frutos.
Explico-me: todo professor e bem
como um sistema de ensino razoavelmente sério, idealiza um aluno estabelecendo
critérios básicos que apontam para as características mínimas que um infante
deve apresentar para que o trabalho de ensinação possa realmente ser realizado
satisfatoriamente. Aliás, para qualquer atividade humana exige-se sempre um
conjunto de pré-requisitos, menos nas cabeças bem pensantes brasileiras. Eles
não entendem que um ideal existe para ser superado e que, sem um ideal - por
mais rasteiro que seja - não há superação.
Ora bolas! Esperar que uma criança trate professores e
funcionários com um mínimo de respeito, que ela realize as tarefas que são
solicitadas e, obviamente, que o pequeno haja com decoro para com seus
coleguinhas e para com o patrimônio público é o mínimo que se exige para que
uma criança possa integrar um ambiente coletivo destinado a formação de pessoas
dignas, responsáveis, prestativas e boas. Entretanto, exigir educação doméstica
e cultivar regras claras (com efeitos claros), que seria indispensável para o
bom andamento de todo e qualquer trabalho pedagógico é algo que escandaliza os
carniças críticos que desorientam a educação nacional.
Bem, como não mais se presume que
seja necessário estabelecer alguns pré-requisitos para poder integrar o espaço
escolar, esse acaba se tornando um ambiente avesso a educação. Uma verdadeira
casa da mãe Joana em muitos casos.
Infelizmente, esse é o cenário do
sistema educacional brasileiro. Sistema que considera um ultraje excludente
inaceitável exigir-se que uma criança apresente pré-requisitos mínimos para
frequentar uma sala de aula e, ao mesmo tempo, minimiza ao máximo os meios
efetivos para a instituição poder cultivar os bons hábitos o que, por sua
deixa, acaba por prejudicar mais ainda todas as atividades pedagógicas
possíveis.
Para melhor compreensão,
imaginemos o seguinte: imaginemos que uma autoridade ordena à direção de um
colégio que aceite em seu seio um indivíduo violento, anti-social e de maus
hábitos para “assistir aulas” com as crianças (e isso acontece com muita
frequência). Bem, o que a “otoridade” que ordena isso está fazendo? Na
cabecinha ungida dele, imagina estar garantindo o direito à educação do
indivíduo, protegendo-o por ser uma suposta vítima da sociedade opressora e
blábláblá. Fofo, não é?
Pois é, mas na prática o que ele
está fazendo mesmo é expor inúmeras crianças a uma pessoa evidentemente
perigosa, um elemento que irá desestabilizar o convívio entre os infantes –
que, em muitos casos, já não é lá essas coisas - e, obviamente, irá criar uma
situação onde a atividade de ensino será fragilizada ao extremo, quando não acaba
tornando-a seu oposto.
Se imaginar isso é algo feio,
mais feio ainda é saber que tal desgraça acontece às pencas nas instituições
estatais de ensino do Brasil. E acontece por causa dessas ideias fecais que
orientam as decisões tomadas por inúmeras “otoridades” pelo Brasil a fora.
E tem outra! O escroto nisso tudo
é que, gente assim, toda boazinha, permite que os filhos de trabalhadores
honrados fiquem expostos a figuras crespas para proteger o direito desse indivíduo
que é uma ameaça a todos ao mesmo tempo em que rasga os direitos dos demais por
puro bom-mocismo afetado.
E pior! Ao mesmo tempo em que fazem essa monstruosidade
com os filhos dos outros, que usam os serviços estatais de ensino, eles colocam
os seus lindos filhinhos para estudar numa escola particular cara de gente
bacana. Ora, se essas almas são tão boazinhas, se querem tanto defender os
direitos desses indivíduos, por que não coloram essas figuras notoriamente
perigosas para estudar com os seus filhos? Por quê? Porque aí a coisa muda de
figura, não é mesmo seu safadão?
Enfim, a mentalidade desses
indivíduos é, sem brincadeira, doentia, pra dizer o mínimo. E o pior é que gente
com esse tipo de enfermidade não falta nesse nosso Brasil. Pessoas que estão -
já faz muito - a ditar os turvos rumos de nosso triste e desaprumado país;
pessoas que realizam isso idolatrando Paulo Freire e fazendo uma verdadeira ECA
com o futuro de nossas crianças; com o futuro de nosso país.
(*)
professor e cronista.
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