Por Dartagnan da Silva
Zanela (*)
Discutir é bom; a gente cresce
através do debate. Assim reza a lengalenga contemporânea. Reza ao ponto de
fazer os ouvidos zunirem, porém e, por isso mesmo, discordo em gênero, número e
grau desse papo furado com bafo de intelectual orgânico-progressista.
Mas, discutir não é bom? Depende
zoiudo. Se for só pra convencer o outro a tomar partido duma causa “X” ou “Y”
isso tem o seu valor, mas ele é limitadíssimo, haja vista que o objetivo dessa
contenda não é conhecer mais sobre algo através da confrontação de pontos de
vista, mas sim, convencer alguém a tomar partido do siriri que somos
partidários. Só isso e olhe lá.
No fim das contas, sim, é verdade,
discutindo com esse intento podemos nos tornar mais habilidosos na arte de
persuadir, mas, infelizmente, não se aprende a conhecer algo de modo
responsável com esse tipo de prática.
Isso mesmo. É muito fácil persuadir
uma pessoa a incorrer em erro. É muito fácil vencer uma discussão sem ter
razão.
Todavia, vamos supor que realmente
queiramos conhecer algo em profundidade e com responsa. Show de bola! Então me
diga: quantas pessoas você conhece que realmente nutrem esse tipo de interesse?
Quantas? É aí justamente que mora a encrenca zoiudo.
Muitas vezes, uma pessoa toda
imbuída de boas intenções, com um sincero desejo de conhecer, acaba tomando
como interlocutores os tipos mais escrotos da face da terra e que, devido a sua
boa vontade, irão receber dela um tratamento que não lhes é devido e, fazendo
isso, o sujeito acaba projetando sobre o biltre uma imagem falseada dele e,
consequentemente, acaba distorcendo a realidade do caráter de si e do outro e,
dessa forma, termina por sabotar a sua sincera vontade de conhecer.
De mais a mais, acreditar ter razão
sobre algo e tentar através de todos os meios se convencer e procurar convencer
o outro disso não é, de modo algum, sinônimo de conhecer as razões sobre algo
e, por essas e outras, que discutir não é o bicho da goiaba como muitos gostam
de pintar. Tem que se estudar muito antes de querer se dedicar as lides dessa
perigosa arte.
Por isso, muito mais importante que
se enfiar em contendas vazias motivadas pela nossa vaidade seria aprendermos a
ficar em silêncio, a suportarmos o estado de dúvida prolongado sem faniquito e
estudarmos sem pressa para dizer algo à alguém comprometendo-se unicamente com
o conhecimento da verdade, seja ela qual for, mesmo que ela fira mortalmente
nossas convicções, ideias e ideais.
Quando aprendemos a fazer isso nós
amadurecemos e robustecemos nosso caráter e, com toda certeza, estaremos bem
melhor preparados para lidar com os vaidosos tagarelas que, por sua deixa,
imaginam tontamente que repetir palavras de ordem vazias seja o suprassumo da
tal criticidade que, no fundo, não passa duma azia mental que só pode ser
realmente curada com uma boa dose de vontade de conhecer. Remédio esse que
gente assim quer, a todo custo, manter uma boa lonjura.
(*) Professor, cronista e
bebedor de café.
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