Bem vindo ao blog de Dartagnan da Silva Zanela, Cristão católico por confissão, caipira por convicção, professor por ofício, poeta por teimosia, radialista por insistência, palestrante por zoeira, bebedor de café irredutível e escrevinhador por não ter mais o que fazer.

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SEM FRESCURA COM O PRÓXIMO

Escrevinhação n. 1066, redigida no dia 10 de novembro de 2013, dia de São Leão Magno.

Por Dartagnan da Silva Zanela


Ama teu próximo (Marcos XII; 31). Eis aí algo que não é para fracos, nem para frescos. Ainda mais na sociedade atual. Não que hoje sejamos menos capazes de amar, não mesmo. O problema é a grande confusão que impera em torno do que hoje se entende por amor.

O amor é confundido com freqüência com um sentimentalismo barato, com aquele velho bom-mocismo superficial que muito mais se preocupa com a sua boa imagem, com o cultivo de boas relações com tudo e com todos, desdenhando a verdade. No fundo, quando se fala das bonitezas do amar o próximo, está-se declarando apenas que devemos nos bajular uns aos outros, lisonjearmo-nos mutuamente, como se isso fosse amar. E quando o ego inchado não é devidamente massageado, atire-se nas ventas a pia passagem do Evangelho de São Marcos, cobrando-se o amor que, no fundo, não é almejado.

Sim, se formos nos apegar apenas a esse fragmento da Sagrada Escritura e desdenharmos o fato de que apenas há amor onde a Verdade impera (I João III; 18), iremos concluir que devemos nos reduzir a condição de pusilânimes que testemunham o erro e o aplaudem em nome do bom-mocismo mixuruca travestido de amor.

Porém, não é assim que devemos ouvir essa instrução que nos é dada pelo Divino Mestre. Aliás, a Sagrada Escritura não deve ser lida fragmentariamente. As Santas Palavras dialogam internamente e revelam-nos a face de Deus ao mesmo tempo em que desnudam o nosso coração. Lendo-as assim, podemos vislumbrar o que o Verbo Divino está a nos dizer.

Ao mesmo tempo em que nos exorta a proceder amorosamente Ele nos mostra o que significa amar. Cristo perdoa a mulher adultera arrependida que estava prestes a ser apedrejada e leva os fariseus a realizar um exame de consciência quando declara que aquele que não tem nenhum pecado poderia atirar a primeira pedra (João VIII; 1-11). Isso é amor como também é uma lição amorosa o momento em que o Filho de Deus, com o chicote em suas mãos, escorraça os vendilhões do templo (Matheus XXI; 12-16).

Nas duas cenas, e em muitas outras, Ele está nos ensinando a amar porque Ele é o Amor. Jesus não está preocupado com a sua imagem ou se as pessoas amadas por ele irão ficar faceiras com seus gestos e palavras. Ele quer apenas que as pessoas reconheçam suas faltas e arrependam-se para se converterem (mudar de vida) e serem perdoadas. Isso é amar. É assim que o amor nos agracia! Completando-nos, reparando o que fora lesado pelos nossos atos, omissões, pensamentos e sentimentos turvos.

Um bom exemplo é São Patrício que, diz-nos ele, antes de ser humilhado era como uma pedra no fundo do lamaçal. A amorosa humilhação o despertou de sua torpe condição e o arrastou para a realidade do amor.

Por isso que amar, em seu sentido pleno, é um ato de auto-sacrifício gracioso. Cristo, em todas as passagens dos Evangelhos, ensina-nos isso, não apenas no sacrifício cruento no madeiro da cruz. Ele não nos exortou a sermos simpáticos com a mundanidade, nem mesmo a aprovar todos os desejos humanos, mas sim, a esforçarmo-nos pela via da fidelidade a Verdade, que é superior a boa imagem que tanto gostamos de cultivar ao invés de verdadeiramente amar o próximo.

Pax et bonum
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