Bem vindo ao blog de Dartagnan da Silva Zanela, Cristão católico por confissão, caipira por convicção, professor por ofício, poeta por teimosia, radialista por insistência, palestrante por zoeira, bebedor de café irredutível e escrevinhador por não ter mais o que fazer.

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EU SOU O DO POSTE

Por Paulo Briguet

Agora que a poeira baixou, posso voltar ao assunto. Se visse aquele rapaz amarrado no poste com uma tranca de bicicleta, provavelmente eu o ajudaria. Daria a ele um pouco de água e ficaríamos conversando em voz baixa até a chegada da polícia. Qual o seu nome, rapaz? Quantos anos tem? Por que estava assaltando? Acredita em Deus? Ouviu falar em Jesus Cristo? Já olhou para o mar? Talvez rezássemos.

E não faria nada disso porque sou bonzinho. Sei que não passo de um pecador miserável. Conversaria com o rapaz só porque não consigo agir de outra maneira; porque meu pai me ensinou assim. Não posso ver ninguém sofrendo sem me lembrar de algo que aconteceu há muito tempo.

O Cristianismo existe para defendermos as vítimas, os fracos, os pobres, os solitários, os perdidos, os injustiçados. Por isso mesmo, foi igualmente vergonhoso o linchamento moral que se seguiu ao episódio do rapaz amarrado com a tranca da bicicleta. Para vingar o acontecimento, a militância eletrônica decidiu amarrar uma jornalista ao poste ideológico e violentá-la sem dó. A nenhum desses supostos indignados ocorreu que as pessoas podem ter amarrado o adolescente ao poste porque estavam com medo dele; porque não aguentavam mais ser assaltadas; porque ele é perigoso com as mãos livres.

Cristianismo não é coitadismo. Não se trata de criar uma legião de inimputáveis, isentos de qualquer de qualquer responsabilidade e livres para reincidir no mal. Cristo diz: “Ame seus inimigos”. Mas nunca disse: “Não tenha inimigos”. Quem ama o bem deve odiar o mal com todas as forças.

Engana-se quem acha que a atitude cristã se encerra com o perdão; o perdão é só o começo. Ao pecador, não cabe apenas arrepender-se, mas também realizar uma completa mudança de vida, renegando e expiando todo o mal antes cometido. “Vai e não peques mais.”

Hoje em dia o filho pródigo volta a dilapidar os bens do pai; a mulher adúltera insiste em pecar de novo na primeira esquina; e os mensaleiros presos querem continuar mandando na gente. É dever de todo cristão perdoar aquele que erra não duas, mas 490 vezes. O problema é que os pecadores modernos apreciam a parte do perdão, mas rejeitam a parte da expiação.

O rapaz preso no poste voltou a cometer assaltos uma semana depois do episódio. Quando vieram prendê-lo, ele disse: “Eu sou o do poste! Eu sou o do poste!” Lembrei-me do mensaleiro que, ao ser preso na Itália, evocou o nome do irmão e de um companheiro petista mortos: “Eu sou o Celso! Eu sou o Celso!” No Brasil, hoje estamos todos amarrados àquele poste. E o nome do poste é mentira.

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