Bem vindo ao blog de Dartagnan da Silva Zanela, Cristão católico por confissão, caipira por convicção, professor por ofício, poeta por teimosia, radialista por insistência, palestrante por zoeira, bebedor de café irredutível e escrevinhador por não ter mais o que fazer.

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UMA MEDIDA QUE POUCO MENSURA

Escrevinhação n. 1105, redigida no dia 17 de março de 2014, dia de São Patrício e da Beata Bárbara Maix.

Por Dartagnan da Silva Zanela


Em que medida é apropriado afirmar que a história da humanidade é, e sempre foi, uma luta de classes? Levantamos essa pergunta, pois, tal afirmação, praticamente tornou-se um lugar comum tão constante no imaginário contemporâneo que se converte toda e qualquer tensão inter-humana num gérmen da referida categoria. Por isso mesmo, perguntamos: em que medida pode-se atribuir a essa categoria o status dum princípio categórico onipresente?

Sobre esse ponto, o filósofo italiano Benedetto Croce, diz-nos que se pode falar em luta de classes quando temos algumas condições específicas, as quais seriam: (i) que existam classes, (ii) que essas tenham interesses antagônicos e, finalmente, (iii) que elas tenham consciência desse antagonismo. Quando esses pré-requisitos são preenchidos inegavelmente pode-se falar em luta de classes. Fora disso, o que temos é o alargamento dum instrumento político-conceitual para abarcar uma gama multiforme de ações humanas, esvaziando o sentido originário da categoria citada ao mesmo tempo em que mutila as realidades humanas que foram forçosamente enquadradas nela.

O fato de sermos capazes de constatar o quão restrito é a categoria teórica em questão, não significa que se está negando a existência das desigualdades sociais e a multitude de injustiças que abundam mundo a fora. Uma coisa não tem nada que ver com a outra. Aliás, qualquer pessoa razoavelmente sensata sabe muito bem que as desigualdades e injustiças abundam abaixo do sol e que elas têm múltiplas causas que vão muito além dessa vã categoria.

Doravante, não podemos também perder de vista que em muitíssimas ocasiões onde não há os pré-requisitos necessários para caracterizar a existência de conflitos de classe, fomenta-se qualquer ordem de conflito que, posteriormente, será qualificado (de modo impróprio) como se fosse um conflito dessa natureza. Conflitos esses que, inegavelmente, na maioria das vezes, apenas geram mais desigualdades e novas formas de injustiças do que qualquer outra coisa.

A devoção hipnótica que se tem a esse dogma materialista cega o indivíduo para as imensas possibilidades que podem ser ventiladas pelas ações humanas. Ações que se fossem explicadas, à luz desse limitado cânone materialista, apenas geraria distorções ao invés duma razoável compreensão.

Por exemplo: expliquemos, a partir da noção de luta de classes, a existência de um convento de Carmelitas descalças. Por que essas senhoras abdicaram do mundo para viver uma dura vida de reclusão? E a obra de Johann Sebastian Bach? Suas composições seriam apenas um instrumento ideológico? E a vida dum Santo Padre Pio de Pietrelcina? Melhor não dizermos nada.

Por fim, é claro que não serão poucas as almas de Procusto que irão mutilar esses feitos humanos para enquadrá-los melhor em seu limitado olhar e baterão no peito, dizendo que seu dogma materialista é sim uma pedra angular que explica tudo, mesmo que a tudo deturpe. E como deturpa.

Pax et bonum
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