Escrevinhação n. 1021, redigida entre os dias 09 de julho, dia de Santa Madre Paulina, e 16 de julho de 2013, dia de Nossa Senhora do Carmo.
Por Dartagnan da Silva Zanela
1. “Não temos políticos de mérito, não temos estadistas de valor; estamos em pleno reinado da mediocridade e da pequenez”. Assim falava Sílvio Romero nos idos do século XIX. Palavras estas que ainda fazem eco. Não há, de fato, no horizonte de nossas ações, um abnegado amor à república. Onde não há senso de dever, a vida política reduz-se a tirania, para o delírio das massas e regozijo das oligarquias. Por isso, o que temos não passa dum covil de lobos e hienas desorganizados em alcatéias que se devoram mutuamente.
2. José de Alencar, em sua obra “Cartas ao povo”, declarava que o tesouro duma nação é o sangue e suor de sua gente. Cada um, enquanto sujeito único, é parte do sangue desta terra. O suor sagrado é o labor nosso de cada dia cujo tutano de seu fruto é vilmente sugado por parasitas disformes que dizem representar-nos e que, para infelicidade geral da nação, tem em suas mãos um mandato para tanto, mesmo que não o façam. E não o fazem! E se, vez por outra, o fazem, é pra fingir que são nossa voz junto as mundanas potestades que imperam neste chão. E fingem mal pra cacete.
3. Não são poucas as vozes que, hoje, bradam garbosamente por uma reforma política. Frente a estes gritos, mui distantes de serem retumbantes, meus alfarrábios questionam-me, com a delicadeza que lhes é característica. O sistema é corruptor por sua natureza, sim senhor, mas os indivíduos que agem sub sua égide são almas pias que por desventura do destino foram maculadas? Sejamos francos: todo sistema é aparentemente funcional e humanamente corruptor. Trocando por dorso: não há sociedade livre das forças corruptoras e há aquelas em que, os indivíduos, permitem-se ser dominadas por elas. Penso que esse seja o caso de nosso país que atualmente dissimula mais uma reforma para que todos possam esquivar-se de suas responsabilidades individuais.
4. Os ditos populares são uma rica fonte de conselhos. Cada palavra é um adocicado favo de prudência e sabedoria. De todos, há um que muito aprecio. Seria este: “tempo é questão de gosto”. Num mundo como o nosso, onde muitos queixam-se por não dispor dele, tais palavras são uma provocante bofetada. Não é que tenhamos tempo de menos. Na verdade, o temos de sobra. O que não sabemos, e nos recusamos a aprender, é aproveitar melhor as bênçãos das horas ociosas. Preferimos ocupá-las com banalidades para continuarmos apegados a nossa nulidade voluntária revelada através de nossos atos e feitos, dos nossos usos e abusos do tempo, que tanto dizem a nosso respeito. E como dizem.
5. Não tenho bandeira nem clarim. Carrego apenas em minha algibeira um punhado de palavras ferinas, outro tanto de vocábulos cáusticos e uma porção rala de gentileza. E todas elas, lhe garanto, são advindas das melhores safras de sinceridade, das poucas que ainda há nestas plagas. Uso, cada uma delas, para dizer o que penso, descrever o que vejo e cantar o que sinto. Não por vaidade. Talvez por vício. Mas digo e repito aquilo que cala em minha alma e não quer calar em minha boca, transbordando através de minha pena o azulado sangue das letras e palavras que carrego em minha algibeira.
6. “Não é senão justo apreciar as sociedades pela sua flor, pela sua elite, isto é, pelo que elas mais profundamente admiram em si mesmas e o mundo mais admira nelas”. Assim declara Joaquim Nabuco numa passagem de sua obra MINHA FORMAÇÃO. Um corpo de elite, nas mais variadas searas, apresenta-nos o que há de mais valoroso entre nós. Todavia, aqui, qualquer referência a uma elite torna-se indecoroso. E assim o é com relativa razão. Quanto se fala de elite, a única imagem que nos vem à mente é duma plutocrática (oligárquica e fisiológica). Nestas plagas, não enxerga-se nada além das sombras da cobiça, inveja e da intriga. Eis o nosso “melhor”. Tal visão obtusa revela-nos o quanto a flor do brasílico jardim está enferma, tanto quanto nosso [depre]cívico coração.
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