Bem vindo ao blog de Dartagnan da Silva Zanela, Cristão católico por confissão, caipira por convicção, professor por ofício, poeta por teimosia, radialista por insistência, palestrante por zoeira, bebedor de café irredutível e escrevinhador por não ter mais o que fazer.

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OS MERECIDOS LOUROS AOS BRAVOS

Escrevinhação n. 1017, redigida entre os dias 01 de junho de 2013, dia do Preciosíssimo Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Por Dartagnan da Silva Zanela


Nestes dias estive relembrando, cá com meus botões, a tragédia da boate Kiss, das cenas que tanto chocaram o país logo no início deste ano. Correria, medo, desespero, insegurança. Tudo isso junto atirado aos quatro ventos e tendo como fundo as labaredas ardentes que devoravam lentamente o íntimo das almas que, aflitas, acompanhavam o sombrio espetáculo, ao mesmo tempo em que outra multidão fazia graça e chacota diante das mortes sulistas não anunciadas.

Todavia, minha memória, não fia seu caminhar pelas trilhas da desamparada dor, nem mesmo pela frieza do sombrio humor que se ri de tudo por desespero. A jornada dela é pela vereda da beleza do ocorrido. Beleza esta que de certa forma foi chamuscada pelo medo.

O amigo pode perguntar: onde estava a beleza desta tragédia? Pergunta justa a qual respondo: no mesmo lugar em que ela está em todas as tragédias: no auto-sacrifício abnegado que, popularmente, chamamos de heroísmo.

Provavelmente, até a fatídica noite, todos aqueles jovens levavam uma vida banal, sem nada de especial que os dignifica-se ou os macula-se. Deveriam ser bons filhos (alguns não tanto), alunos razoáveis (uns mais, outros menos), grandes amigos nas aflitivas rotinas diárias e nas noites sem fim de boemia. Em fim, pessoas banais como eu e você. Porém, o delicado véu das rotinas delirantes é rompido por um ato insensato: um incêndio que, com suas chamas, lamberam sem piedade as carnes e devoraram vorazmente as consciências humanas.

Em meio a todo esse dantesco terror, eis que das cinzas, jovens que até então viviam imersos na banalidade transfiguraram-se em colossos que miraram suas vistas nos olhos da morte, encarando-a com destemor homérico em nome dum amor que até então, provavelmente, não havia brotado na mina de seus corações.

Vidas até então eivadas de superficialidade, de repente, viam-se consumidas pelo amor incondicional ao próximo forjado numa coragem digna dum cavaleiro quixotesco que num único ato realizaram as mais excelsas possibilidades humanas, preenchendo de sentido o que até então não tinha sentido algum. Deram suas vidas para salvar outras, cujos nomes, em sua maioria, não sabiam, e que, mesmo assim, foram acolhidas entre seus braços.

Confesso que um calafrio gélido verte de minha espinha quando essas cenas escapam do claustro do esquecimento. Não por frescura, mas porque fico a perguntar-me: se lá estive será que eu teria o mesmo destemor e o mesmo amor ao próximo que fora manifestado por aqueles jovens que pelejaram contra a morte para salvar seus semelhantes? Quantos de nós teriam coragem similar? Quantos estariam dispostos a arriscar a própria vida para salvar estranhos tão iguais?

Por isso, creio, piamente, que todos aqueles que abnegadamente se sacrificaram naquela noite nas terras do vento minuano, estão com seus nomes gravados nos umbrais da eternidade que são imensamente maiores que as estreitas portas da história e das jornalísticas novidades.

Pax et bonum
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