Por Dartagnan da Silva
Zanela
(1)
Atualmente, de um modo geral, as
pessoas no Ocidente não são paupérrimas em termos materiais. Não mesmo.
Goza-se, nos dias de hoje, de confortos que até pouco tempo atrás não eram nem
mesmo usufruídos pelas classes mais abastadas. Todavia, hoje as almas que
perambulam sonsamente pelas vielas de sonhos e delírios modernosos padecem duma
miséria existencial que nunca antes se viu na história da humanidade. Padecemos,
muito mais do que em outras épocas, duma crônica miséria cultural, moral,
mental, emocional e espiritual que nos faz cair não abaixo da linha da pobreza,
mas sim, nos reduz a uma condição infra-animalesca.
(2)
Acabamos por conhecer um pouco
sobre o caráter das pessoas quando descobrimos o que elas fazem de suas vidas e
com o que elas padecem em seus soturnos dias; porém, as conhecemos muito melhor
quando ouvimos atentamente as justificativas que as mesmas tecem sobre os seus
atos e as explicações que elas apresentam frente aos males dos quais padecem.
(3)
Irresponsabilidade moral não é uma
doença; por isso não pode ser curada. Ela é uma atitude que, para ser sanada,
exige uma contra-atitude para substituí-la. Todo o resto que se diga não
passará da consequência da polaridade moral da postura que se tornou a opção
preferencial de nossas ações. Somente isso e nada mais.
(4)
Quem nunca, ao se olhar no
espelho, teve aquela dolorosa sensação de ser uma fraude é por que é um
farsante mesmo.
(5)
A idolatria que hoje se faz da
libertinagem sexual nada mais é que um culto grotesco da infra-animalidade, uma
adoração hedonista desregrada que reduz a humanidade aos mais rasteiros
impulsos e desejos, como se tais descomedimentos fossem o que há de mais
elevado em nossa alma; em nosso ser.
(6)
A cada dia que passa aumenta o
número de pessoas, portadoras de diplomas, incapazes de se comunicar por
escrito com relativa clareza. Quanto ao numero de indivíduos que não se
encontram habilitados para ler uma mensagem razoavelmente clara é ainda maior,
mesmo que esses tenham um canudo de papel que afirme que eles são portadores
dessa competência que, infelizmente, não lhes pertence.
(7)
Um dos sinais mais claros da
decadência de nossa sociedade é a ridícula presença de sujeitinhos vulgares que
se ufanam, risonhos que só eles, de sua futilidade. Verdadeiros rabos de
cachorros falantes que se rejubilam de sua vantajosa posição existencial.
(8)
O nosso país é farto de
analfabetos funcionais; todos sabem disso e, por incrível que possa parecer,
não causa escândalo na maioria das almas. E talvez seja assim, porque boa parte
desses indivíduos que padecem desse mal também carecem, e muito, da elementar
educação doméstica que garantiria que o sujeito soubesse conviver com os seus
pares; se tivesse ao menos isso, saberiam portar-se com decoro em público mesmo
que na intimidade de suas vidas fossem criaturas impudicas. Resumindo: em nosso
país, infelizmente, o escândalo é a regra e a regra, por si só, é um escândalo.
(8)
Nunca antes na história desse
país tantos almejaram atingir níveis tão baixos de cultura através do sistema
educacional.
(9)
As pessoas querem ser livres?
Mentira. No fundo, o que a grande maioria das pessoas quer é uma relativa
segurança, que alguém seja responsável pela sua vidinha medíocre. Liberdade é
um luxo que, sinceramente, a maioria das pessoas não quer nem saber, a não ser
que alguém assuma a responsabilidades por suas possíveis e inevitáveis escolhas
erradas. E, como todo mundo sabe, e finge ignorar, não há uma coisa sem a
outra, não existe liberdade sem responsabilidade; por isso, não é inapropriado
dizer que a maioria de nós age feito cães, desejando ter um bom dono para zelar
de nossas pulgas. Somos, na real, voluntária e inconfessadamente inclinados a
uma silenciosa e desavergonhada servidão. Enfim, La Boétie sabia o que dizia;
Thomas Hobbes, nem tanto.
(10)
Por mais bem articulado que seja
a apresentação de um argumento favorável ao consumo de drogas, ele sempre será
um ataque frontal à razoabilidade; e se for um argumento “criticamente”
formulado, será um insulto à inteligência.
(11)
Inteligência sem virtude é
malandragem; malandragem sem inteligência é politicagem.
(12)
Uma sociedade que funda sua
moralidade no mais rasteiro relativismo acaba desfibrando os indivíduos ao
ponto de reduzi-los a condição de reles marionetes de geleia.
(13)
A miséria é bem maior e não é de
pão nem de mortadela. A grande miséria é moral e espiritual mesmo.
(14)
Quem não castiga as suas vaidosas
inclinações, por elas acaba sendo dominado.
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3: http://zanela.blogspot.com
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