Por Dartagnan da Silva
Zanela
(1)
No Brasil tudo é uma avacalhação
só, especialmente em nosso espírito republicano. Aqui, nessas terras de
tupinambás, quando alguém diz que há muitos novembros fora proclamada uma RES
PUBLICA, uma coisa dita de todos, mais do que depressa, os (depre)cívicos
indivíduos paridos por essa mãe gentil imaginam que, por ser de todos, não é de
ninguém, logo, será de quem primeiro e melhor pôr a mão na cumbuca
brasiliensis. Resumindo: é pura avacalhação mesmo, sem pôr nem tirar.
(2)
Quando alguma alma, assustada,
aqui ou acolá, grita que estão tentando dar um golpe assim ou assado na
democracia brazuca, a abençoadinha esquece que o grande golpe contra ela foi a
proclamação da dita república e não outra coisa. Resumindo: golpes e sedições
são da essência da rotina (depre)cívica de nossa RES PUBLICA, não a sua
exceção.
(3)
O simples fato de sentirmos
vergonha de nossa enfadonha república é um claro sinal de que ela é uma coisa
de todos, que alguns colocam a mão nela, onde nem todos podem boliná-la e que,
por isso mesmo, ninguém quer saber de assumi-la.
(4)
Os republicanos, quando sonhavam
com a aurora de uma república nessas terras ensolaradas, diziam ansiar pela
vinda de uma imaculada dama para, de maneira cortês, amá-la e idolatrá-la.
Mentira deles! O eles que sempre, sempre desejaram mesmo era uma dama fácil que
atendesse a todos os seus caprichos, todinhos; mas somente os deles e de mais
ninguém. Isso, nessas terras carnavalescas, é a dita cuja da coisa pública que
com seu suíno espírito continua a emporcalhar essa terra de Vera Cruz em misto
com a cidadanite que insiste em não saber a diferença que há entre uma
democracia e uma urna eletrônica.
(5)
A história da república
brasileira pode ser resumida assim: inicia-se com um bando de barbados fazendo
mimimi, que sob a liderança de um marechal senil, alimentavam a vã esperança de
que ele livrasse os seus soldos; e culmina com uma desvairada guerrilheira que
cultua e comunga a mandioca sem a menor cerimônia ao mesmo tempo em que cogita
a possibilidade de estocar todo o vento que faz a curva, guardando-o todinho no
rombo aberto pelas pedaladas de sua ideológica loucura.
(6)
A república brasileira é similar a
uma tribo onde o cacique quer apitar em tudo e, no frigir dos ovos, não manda
em nada.
(7)
Dizem que no Brasil tudo é feito
pra inglês ver. Sim, tudo de fachada, pintado e lambuzado com uma fina camada
de verniz para enganar a todos, inclusive e principalmente a nós mesmos, nesse
vil intento de aparentar uma seriedade que nunca tivemos e que, bem
provavelmente, não iremos ter tão cedo. De mais a mais, ouso perguntar: quem
foi que disse que os ingleses, ou quem quer que seja, estão interessados em
saber o que nós dissimulamos ser?
(8)
No Brasil, praticamente tudo é
feito no grito, na última hora e empurrando com a barriga, seja ela tanquinho,
seja ela saliente. E, por esse desleixo brasílico, imaginamos que tudo que seja
feito por nossas maculadas mãos, desse jeitão, tem alguma excelsa importância.
E que importância! Nisso resume-se o tão ufanado jeitinho que tanto enche de
orgulho o homem-massa brasileiro.
(9)
Uma pessoa piedosa, quando recebe
o Sacramento Eucarístico, está plenamente consciente de que está recebendo o
corpo de Cristo. Ela sabe que, em sua pequenez, faz parte do Corpo Místico da
segunda pessoa da Santíssima Trindade. Por sua deixa, qualquer cidatonto
brasileiro, quando sufraga o seu votinho na eletrônica urninha padrão
smartmatic, credulamente imagina que está contribuindo positivamente com sua
insignificância para os rumos de nosso país.
(10)
Após a proclamação da república,
magicamente, muitos dos que até então eram monarquistas de pai e mãe,
declaravam-se ser republicanos a muitas gerações. Hoje, em meio a mensalinhos e
mensalões, propininhas e petrolões, todos que até então diziam ser os baluartes
da ética, orgulhosos de serem membros do partido impoluto, tem a cara de pau de
dizer que apenas fazem o que todos sempre fizeram e que, por isso, todos os
malfeitos de suas maculadas mãos estão perdoados; porém, todavia e entretanto,
não os malfeitos de todos os outros, simplesmente porque eles não integram o
partido da ética que veio para salvar a república. Pois é, meu amigo, não é à
toa que a vaca está no brejo, exausta de tanto berrar; cansada de tantos maus
tratos, enfim, não é por menos que o Brasil está do jeito que está.
(11)
A república brasileira é uma
piada grotesca contada por vilões escandalosos que fazem da rapina sua
profissão de fé.
(12)
Toda nação tem o seu mito
fundador. Nele encontra-se compactada todas as possibilidades de realização das
gentes que a ele aderem. Há cinco séculos, quando as naus portugas aqui
aportaram, fora lançado um poderoso mito fundador: chamaram-nos de Terra de Vera
Cruz. Já pararam pra imaginar as possibilidades? Pois é. Todavia, tal mito,
aparentemente não correspondia à têmpera de nossa gente. Preferiu-se então a
alcunha de Brasil, terra do pau vermelho e o cidadão, brasileiro, aquele que
vive pra derrubá-lo. Resumindo: trocamos um mito fundador por um mico
afundador.
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