Por Dartagnan da Silva
Zanela
(1)
Todo entendimento cristalino,
quando exteriorizado graciosamente para qualquer massa ignara, é um claro sinal
de falta de juízo, multiplicado por uma boa dose de vaidade.
(2)
Machado de Assis, através da
distante voz de Brás Cubas, sua personagem pouco augusta, diz-nos que descobriu
uma lei de equivalência das janelas. De todas elas. Segundo ele, “o modo de
compensar uma janela fechada é abrir outra, a fim de que a moral possa arejar
continuamente a consciência”. Pois é, hoje em dia, os ouvidos contemporâneos
fazem-se surdos a tal conselho, haja vista que é um hábito mais do que
corriqueiro, em nosso país, fechar-se nas alcovas das consciências esquecidas e
caladas, sem a menor ventilação, onde os mofos morais e os bolores da
ignorância voluntária travestida de lucidez tomam conta da morada da alma,
emporcalhando-a, adoecendo-a pela simples carência da abertura duma janela para
que os ares da vida possam avivar a alma com a brisa moral que nos faz lembrar o
frescor do que é o viver verdadeiramente em todos os tempos para, desse modo, podermos
verdadeiramente viver o tempo presente.
(3)
Triste é a infância onde a
criança é incompreendida pelos seus iguais. Triste é a vida daqueles que não
são compreendidos pelos seus pares. Todavia, somente os idiotas são
compreendidos pelos seus.
(4)
Auscultar o coração dum tolo, ou
dum homem vulgar, para sondar seus sonhos e delírios, é o mesmo que pôr-se a
ouvir as cólicas intestinais duma criança gulosa e desavisada.
(5)
Quando a possibilidade duma
rígida punição desaparece do horizonte de possibilidades de uma sociedade, a
educação da geração subsequente fica seriamente comprometida juntamente com a
existência razoavelmente estável de qualquer sociedade que se entrega a esse
tipo de desfrute hedonista.
(6)
Quando os indivíduos sentem-se
ofendidos, ou ultrajados, porque lhes foi sugerido que eles deveriam ser fortes
e encarar as agruras do dia a dia com maior altivez, é porque a maturidade foi
pervertida e transubstanciada num reles infantilismo tacanho carente de mimo.
(7)
Realmente ama-se alguém, ou algo,
quando somos capazes de realizar pequenos sacrifícios, silenciosos e anônimos,
em favor do bem amado. Quando o indivíduo coloca em primeiro lugar, sempre, o
seu bem pessoal, quando o elemento torna sua cobiça por prazer algo
inegociável, deixando em segundo plano aquele, ou aquilo, que diz amar tanto,
pelo amor de Deus, deixe de ser idiota e para de dar trela para esse palhaço
sem graça. Pessoas assim não amam nada, nadinha, que esteja fora das fronteiras
de seu mundinho umbilical. Para esse tipo de biltre, tudo que está além das
fronteiras de seu egocentrismo não passa de um mero instrumento para realização
de seus fúteis desejos e na mais.
(8)
Todo aquele que se recusa a
enxergar o óbvio deveria calar-se antes de querer obrigar os outros a ouvir
toda ordem de absurdidades que é regurgitada pela sua boca cheia de dentes e de
tolices.
(9)
Há casos em que a estupidez é
criminosa, como também há situações em que a inocência não passa duma terrível
e leviana dissimulação.
(10)
Não pode haver educação sem
correção; não há correção sem a possibilidade de extirpar arestas. Por isso, um
sistema educacional que se ocupa fundamentalmente em afagar as arestas e a
fomentar a egolatria não é outra coisa senão uma monstruosidade indigna de
existir; uma farsa, do princípio ao fim.
(11)
A alma de um povo encontra-se
condensada em sua moral e sua cultura, consequentemente, é apenas um reflexo dessa
realidade. Por isso, quando a cultura dum povo encontra-se em franca degradação
é porque a sua moral foi pras cucuias. E se ela, a moral, foi para tal destino
é porque esse povo perverteu-se ao ponto de tornar-se desalmado.
(12)
Se nunca tivesse sido confundido
materialismo, positivismo, e toda ordem de ismos, com ciência, bem
provavelmente o cientificismo jamais teria existido ou, pelo menos, não teria
sido levado tão sério como hoje tolamente se faz, tamanha é a confusão que impera
entre as mais variadas formas de bobagismos e o que a ciência realmente é.
(13)
O fato dum sujeito dizer que
afirma acreditar apenas naquilo que seja cientificamente comprovado não
significa que ele saiba o que seja uma ciência, como é a sua prática e, muito
menos o seja uma prova.
(14)
Bravos eram, nas centúrias
passadas, os marinheiros que na incerteza de seus barcos e na fragilidade de
seus rumos, enfrentavam com destemor o desconhecido. Hoje, bravos são os
caminhoneiros que estacionam a margem dos caminhos negros, cientes da
fragilidade de sua condição e da incerteza de sua luta e, mesmo assim, desafiam
a brutalidade covarde daqueles que parasitam a dignidade de todos aqueles que
lavoram silenciosamente para manter em pé o pouco que restou do Brasil.
Blog
1: http://zanela.blogspot.com
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