Por
Dartagnan da Silva Zanela (*)
(1)
Em
ano eleitoral é assim: os candidatos atiram uns contra os outros os
mais ferinos pelotaços na forma dos mais infamantes adjetivos. O
bicho é feio mesmo. Chega a ser cômico de tão feinho que o trem é.
Em alguns casos, nem as genitoras são perdoadas. Tadinhas. E que a
verdade seja dita: todos eles, cada um ao seu modo, substancialmente
tem razão naquilo que diz através dos seus disparatados adjetivos
disparados. Enfim, bem ou mal, essa é nossa classe, a nossa fauna e
flora política (depre)civicamente constituída. Fazer o quê? É o
que temos. É o que mais temos.
(2)
A estultice, a leviandade e toda ordem de vilezas que arrastam a alma
humana para as latrinas da existência são, por definição,
contagiosas; tal qual uma doença viral.
A inteligência, a virtude e todas as dignidades que podem germinar
na alma humana são, por sua deixa, verdadeiros anticorpos contra
todas essas pestilências que diminuem a nossa humanidade.
E, ao que tudo indica, a cultura brasileira anda com a imunidade
baixa pra cacete contra essas infames enfermidades da alma e,
consequentemente, todos nós estamos meio pesteados.
(3)
Quanto vejo um garoto maroteando um adulto, fico cá com meus
alfarrábios a perguntar-me: se esse vinagre destrata assim uma
pessoa estranha, imagine só o que ele faz com os seus professores e,
obviamente, com seus pais. Imaginou? Eu não. Vai que eu,
imaginariamente, venha a traumatizar o xarope. É bem capaz de uma
dessas alminhas sebosas politicamente corretas querer me passar um
pito, não é mesmo? Por isso, apenas rio, mesmo que de maneira
amarelada, rio muito do ridículo bestial a que chegamos onde uma
geração inteira se nega a educar os infantes com medo da reação
dos deseducados e da possível ação das almas sebosas que os mimam
sob a égide de estarem supostamente tutelando os seus direitos.
Enfim, vivemos hoje sob a borduna duma conspiração conjunta de
medíocres e pusilânimes contra a maturidade e, pasmem, tudo isso é
feito em nome da tal “educação”.
(4)
Mensurasse a necessidade, a indispensabilidade de algo, pela
frequência e intensidade que precisamos deste ou daquele objeto,
desta ou daquela pessoa.
Bem, então perguntemos, e lembremos que perguntar não ofende:
quantas vezes, e com que intensidade, precisamos da intervenção das
potestades estatais em nossas vidas? Em que medida os governantes são
figuras imprescindíveis para que toquemos as nossas lutas diárias?
Pois é, um par de sapatos é algo indispensável; um aparelho
celular, na sociedade hodierna, também. Um sacerdote, um
comerciante, um policial e tutti quanti, são fundamentais; mas, e
quanto a todos esses distintos caciques que se apresentam como sendo
nossos legítimos e insubstituíveis representantes são assim tão
impreteríveis como dizem ser? Pois é, eu estava pensando a mesma
coisa.
(5)
Pessoas que num ato falho, num ato falho porque hoje em dia ninguém
mais confessa esse tipo de coisa, dizem gostar deste ou daquele livro
por causa das suas ilustrações e/ou por ser “fininho”, por mais
pose que façam, por mais afetadas que sejam, dificilmente serão um
dia uma pessoa ilustrada e, bem provavelmente, seu entendimento sobre
tudo e sobre si também será, invariavelmente, bem curtinho.
(6)
Em se tratando de política, há uma regra de ouro a ser observada.
Não da parte das raposas que juram de pés juntos que pretendem
proteger o galinheiro público contra todos os males deste mundo. Não
mesmo.
Acreditamos que a regra que será sugerida nestas linhas deva ser de
relativa utilidade aos galináceos cidadãos do aviário brasiliano.
Bem, o critério seria o que segue: quanto mais um candidato se
explica, quanto mais ele se justifica aqui e acolá, mais trambiques
ele oculta, mais malfeitos ele fará; e quanto mais ele fala,
inevitavelmente mais ele se enrola em seu tagarelar. É batata! Basta
parar de torcer e começar a observar.
Pois é, já sei: é de assustar a quantidade de explicações, de
justificativas que são atiradas aos quatro ventos nessa época. Como
assusta. Mas não ignoremos as advertências que as raposas mesmas
nos dão de bandeja para avaliarmos as suas verdadeiras intenções.
Não ignoremos não.
(7)
Abra os olhos navegante! Abra olhos! Quando os candidatos dizem que
tem uma ótima proposta, que eles têm muito por fazer pelo tal do
povo e blá-blá-blá, lembre-se que todo e qualquer intestino também
sempre tem muitas propostas, muitas a apresentar e olha só o que ele
faz quando tem a possibilidade de atuar junto ao sanitário trono.
Por isso, cuidado, muito cuidado nessa época em que tanta gente de
repente resolve o povo cortejar.
(*)
Professor, cronista e bebedor de café.
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