Bem vindo ao blog de Dartagnan da Silva Zanela, Cristão católico por confissão, caipira por convicção, professor por ofício, poeta por teimosia, radialista por insistência, palestrante por zoeira, bebedor de café irredutível e escrevinhador por não ter mais o que fazer.

Pesquisar este blog

DIÁRIO DE BORDO: DATA ESTRELAR INCERTA - 001


Por Dartagnan da Silva Zanela (*)

(1)
Quanto mais superficiais são os pensamentos dum sujeito, mais criticamente pensante ele se imagina ser. Quanto mais crítico ele matuta ser, mais visível se torna sua oca soberba.

Gente assim, dum modo geral, tem opinião sobre tudo sem, necessariamente, saber realmente alguma coisa sobre algo e, por isso mesmo, julgam-se muito sabidas, tão espertas, tão fofas.

Pois é, somente aqui, nessa terra de desterrados que a ignorância voluntária e presunçosa é reconhecida como fonte de autoridade intelectual e moral. Basta nada saber e se negar a conhecer que qualquer um está autorizado a opinar com pose doutoral.

(2)
O poder, por sua natureza, atrai preferencialmente os piores e corrompe os melhores e esses, por sua deixa, não nos iludamos, são pouquíssimos e frequentemente sucumbem.

Doravante, essa regra não é válida apenas para aqueles que mergulham de corpo e alma nas fétidas vísceras das disputas pelo poder, mas também, essa regra é certa para todo aquele que aprecia o jogo político, contempla-o e faz dele o centro de suas preocupações.

Nesses casos, também, as lutas políticas por si não são o solo mais apropriado para a edificação da mansão de nosso coração, pois, tais inquietações acabam por corromper o que há de melhor em nossa alma e a fomentar o que há de pior em nosso ser.

(3)
É natural que as questões sobre o poder ocupem uma relativa importância em nossa vida e que circunstancialmente furtem a nossa atenção.

O que se torna isso, no mínimo, estranho é quando tais questiúnculas ocupam o centro de nossa vida.

Quando isso ocorre, tornamo-nos volúveis, instáveis e, por isso mesmo, nos tornamos tão corruptíveis quanto corruptores.

Nessa situação, vemo-nos reduzidos a condição de marionetes das circunstâncias.

Acabamos tal qual um navegador que fixa a sua atenção unicamente na agitação das ondas, ignorando a presença da estrela Polar e desprezando a localização do porto seguro.

(4)
A obrigação número um de qualquer pessoa minimamente decente é reconhecer que não presta; que não vale um vintém; que tem o seu coração ferido pelas suas más inclinações.

Pois bem, essa, meu caro Watson, é a primeira obrigação que é rasgada pela turminha que têm duas mãos canhotas, haja vista que eles acreditam candidamente que suas alminhas rubras são impolutas, puras e incorruptíveis e, por isso, imaginam que vão limpar toda a imundice da face da terra com seu ímpeto revolucionário.

Por essas e outras que elas são pessoas vis, dissimuladas e incapazes de reconhecer o fosso pútrido em que se encontram; elas negam-se a reconhecer que o coração delas é tão maculado quanto o de qualquer pessoa e, por negarem-se a tal tomada de consciência (como eles gostam de dizer), as obras de suas intenções supostamente imaculadas falam por elas e deixam bem claro que tipo de pessoas são.


(5)
Uma coisa é ser um professor; outra, bem diferente, é tentar ser um e, infelizmente, nem sempre conseguimos sê-lo.

Professor, digno do título foram, são e sempre serão: São José de Anchieta, Santo Agostinho, Sócrates, Platão, Mortimer Adler, Mário Ferreira dos Santos, Olavo de Carvalho e tutti quanti.

Diante desses senhores, confesso, não passamos duma pálida imitação do que, de fato, deveria ser um professor no pleno sentido do termo.

Claro que haverá aqueles que dirão que a referência é muitíssimo elevada e, de fato, o é. Porém, justamente por tomarmos como referência criaturas de baixo quilate que a educação na sociedade brasileira, que já não era lá essas coisas, decaiu vertiginosamente.

Basta olhar para as referências, para os modelos de professor (ou educador, como muitas almas sebosas preferem) que são quistos como exemplares pra entender porque o sistema educacional brazuca encontra-se nessa lastimável situação.

Resumindo: num país onde Paulo Freire é tido como exemplo de excelência em matéria de educação não se pode esperar frutos diferentes dos que estão sendo colhidos aos borbotões em nossos pagos.

(6)
Informação é tudo? Não sei. Tenho lá minhas dúvidas.

Algumas vezes fico cá com meus alfarrábios a matutar: noutras primaveras, que a muito se foram, muitas pessoas, com uma parca quantidade de informações que chegava até as suas mãos, realizavam grandes feitos e grandes obras. Se não eram grandes, todas elas, dum modo geral, eram dignas.

Hoje em dia, na era do conhecimento, onde boleiras de informações estão à disposição de qualquer um temos como grandes realizações apenas uma infinidade de mediocridades que se ufanam por seus feitos pífios e por suas obras ocas.

É simples assim. Basta abrir os olhos para constatar essa ululante obviedade.

(7)
Todo aquele que não reconhece a sua dose de canalhice original e sua porção ontológica de babaquice pessoal é porque, de fato, é um canalha por inteiro, um babaca incontestável. Só isso e olhe lá.

(*) Professor, cronista e bebedor de café.



Nenhum comentário:

Postar um comentário