Por
Dartagnan da Silva Zanela (*)
(1)
Fomos
civilizados, mas não sem pouca resistência de nossa parte. Tal fato
não é apenas verificado na formação da nossa sociedade.
Testemunhamos isso todos os dias de nossa vida nas esferas cotidianas
desse degradado e degradante momento que vivemos.
Da
mesma forma que a aquisição de bons hábitos exige um significativo
esforço de nossa parte, o mesmo pode ser dito para todo o patrimônio
moral e cultural de uma sociedade. Trocando por miúdos: bons hábitos
são o produto do esforço acumulado de várias gerações. Sempre.
Doutra
parte, é mui fácil entregarmo-nos a vícios degradantes e a hábitos
perversos. É só querer e pronto. Todos nós sabemos muito bem
disso. Não há é exigido de nossa parte nenhum grande esforço para
trilharmos essa direção. Do mesmo modo, também não há grandes
dificuldades para que uma sociedade inteira destrua todos os
alicerces civilizacionais que foram, a duras penas, conquistados
pelas inúmeras gerações que nos antecederam.
Não
é à toa que crianças petulantes, jovens insolentes, adultos
infantilizados são personagens cada vez mais presentes no mundo
contemporâneo.
A
cada dia tornam-se mais e mais presentes tipos humanos que tem como
traço distintivo de sua personalidade a abdicação, parcial ou
integral, de sua consciência moral. Com isso, aquele velho
sentimento de culpa que nos lembra, sem dó nem piedade, que o mundo
não existe para nos servir, acaba sendo desligado da tomada da vida.
Repito:
crianças petulantes, jovens insolentes, adultos infantilizados,
todos, cada um do seu modo, estão podres de tão mimados que são e,
ainda por cima, ousam falar em ética e educação sem nunca terem
cultivado a primeira e forjado suas almas nas fornalhas da segunda.
Enfim,
não sei se isso é um dos sinais dos tempos, mas, uma coisa é
certa: de tão horrível que esse quadro é que ele se tornou
ridículo. Ridículo de doer.
(2)
Respeitar
os outros na mesma medida que queremos ser considerados. Isso vale
ouro. Agir assim com todos e, de maneira particular, com os mais
velhos. Isso, literalmente, não tem preço.
Bem,
mas eis aí uma lição que, em muitas querências, não mais é
ensinada. Em alguns casos tem-se uma dissimulação do dito ensino
pra mal e porcamente disfarçar a tamanha displicência que vem
tomando conta de muitos mancebos que agem cinicamente com as bênçãos
dos pais e com o arrimo das potestades estatais.
Os
primeiros acham a má-criação uma coisa linda de se ver; os
segundos veem na insolência dos infantes uma manifestação
(depre)cívica que deve ser guarnecida com todas as garantias legais
e, tudo isso segue de vento em popa para a infelicidade geral da
nação e, ao que tudo indica, continuará assim por muito tempo.
(3)
Imprudência
não é bravura nem aqui nem na Cochinchina. É apenas uma covardia
estulta e congênita tentando através de todos os arremedos
histriônicos possíveis de pseudo-valentia oca e inoportuna ocultar
a sua total incapacidade para a prática da virtude moral da coragem.
(4)
Mais
engraçado que testemunhar um candidato vir ao teu encalço pedir o
seu “voto cidadão” é vê-lo tentando furar os olhos dos
próprios correligionários para poder tomar-lhe os ditos cujos dos
votos.
Pois
é, vejam só como são as coisas: os caiporas não são capazes de
ser leais nem com os seus pares e, ainda por cima, querem que
acreditemos que eles são e serão leais para conosco que somos parte
integrante do tal do povo.
Cara!
Sem mais delongas, digo e findo: é pra acabar com o cheque do leite
essa (depre)civilidade da classe política brazuca.
(5)
Uma
coisa é um esquema de poder; outra, bem diferente, é um cargo de
poder.
Dum
modo geral, a política provinciana é pensada e praticada, tento
como teatro de ação, apenas a preocupação com a ocupação de
cargos e com o possível deleite que esses podem ofertar. Resumindo:
nesses casos, mamar nas úberes estatais é tudo; honradez é nada. E
o interesse público apenas entra na história como um subterfúgio
para se chegar até as mamas do erário. Só isso e nada mais.
Todavia,
quando pensasse e praticasse a política a partir dum projeto de
poder totalitário, o cargo de titular do poder é circunstancial. É
apenas parte do conjunto e, nem de longe, a mais importante, haja
vista que projetos de poder são pensados e articulados a partir duma
estratégia de longo prazo, jamais tendo em vista, tão só e
unicamente, os limites da expectativa da próxima eleição.
Por
isso, de pouco adianta destronar uma nulidade política da cadeira
mais elevada da república sem ter em mãos um plano de longo prazo
para destruir o projeto de poder que se enraizou nas entranhas do
Estado e nas vísceras da sociedade brasileira.
Resumindo:
retirar a dona Dilma [ruim de self] da cadeira presidencial, sem
empreender um projeto de longo prazo para minar e combater o
totalitarismo do Foro de São Paulo não passará de uma pífia
vitória de Pirro. Infelizmente é isso. Só isso e nada mais.
(6)
Aprender
é um ato de amor e ensinar, necessariamente, deve ser um ato de
misericórdia.
Se
nos propomos a aprender algo somente para fazer pose de sabido ou de
bom-moço progressista, estamos a tratar a verdade de modo similar a
um babaca que namora uma menina só pra mostrar a todos que ele está
pegando a beldade.
Se
nos dispomos a explicar unicamente algo pelo prazer sádico de
mostrar ao outro o quanto ele é estulto estamos nos portando diante
da verdade como um biltre que humilha um garçom para parecer "fodão"
diante da sua namoradinha.
Enfim,
conhecer é um ato amoroso da mesma forma que ensinar é um gesto
caritativo. O fato de isso ser ignorado olimpicamente na sociedade
contemporânea nos ajuda e entender porque a educação brasileira é
um retumbante fracasso.
(7)
Disciplinar-se
significa saber valorar. Significa saber eleger o que é
imprescindível em detrimento daquilo que é dispensável.
Não
saber fazer essa distinção simples e elementar limita
significativamente à capacidade de compreensão e o poder de ação
dum indivíduo.
Quanto
a qualquer outra coisa que se diga sobre esse ponto, com o perdão da
palavra, não passa de um punhado de pedagogices de alminhas que não
sabem a diferença que há entre educar de fato e opinar sobre
educação.
(*)
Professor, cronista e bebedor de café.
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