Bem vindo ao blog de Dartagnan da Silva Zanela, Cristão católico por confissão, caipira por convicção, professor por ofício, poeta por teimosia, radialista por insistência, palestrante por zoeira, bebedor de café irredutível e escrevinhador por não ter mais o que fazer.

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DIÁRIO DE BORDO: DATA ESTRELAR 160830

Por Dartagnan da Silva Zanela (*)

(1)
Fomos civilizados, mas não sem pouca resistência de nossa parte. Tal fato não é apenas verificado na formação da nossa sociedade. Testemunhamos isso todos os dias de nossa vida nas esferas cotidianas desse degradado e degradante momento que vivemos.

Da mesma forma que a aquisição de bons hábitos exige um significativo esforço de nossa parte, o mesmo pode ser dito para todo o patrimônio moral e cultural de uma sociedade. Trocando por miúdos: bons hábitos são o produto do esforço acumulado de várias gerações. Sempre.

Doutra parte, é mui fácil entregarmo-nos a vícios degradantes e a hábitos perversos. É só querer e pronto. Todos nós sabemos muito bem disso. Não há é exigido de nossa parte nenhum grande esforço para trilharmos essa direção. Do mesmo modo, também não há grandes dificuldades para que uma sociedade inteira destrua todos os alicerces civilizacionais que foram, a duras penas, conquistados pelas inúmeras gerações que nos antecederam.

Não é à toa que crianças petulantes, jovens insolentes, adultos infantilizados são personagens cada vez mais presentes no mundo contemporâneo.

A cada dia tornam-se mais e mais presentes tipos humanos que tem como traço distintivo de sua personalidade a abdicação, parcial ou integral, de sua consciência moral. Com isso, aquele velho sentimento de culpa que nos lembra, sem dó nem piedade, que o mundo não existe para nos servir, acaba sendo desligado da tomada da vida.

Repito: crianças petulantes, jovens insolentes, adultos infantilizados, todos, cada um do seu modo, estão podres de tão mimados que são e, ainda por cima, ousam falar em ética e educação sem nunca terem cultivado a primeira e forjado suas almas nas fornalhas da segunda.

Enfim, não sei se isso é um dos sinais dos tempos, mas, uma coisa é certa: de tão horrível que esse quadro é que ele se tornou ridículo. Ridículo de doer.

(2)
Respeitar os outros na mesma medida que queremos ser considerados. Isso vale ouro. Agir assim com todos e, de maneira particular, com os mais velhos. Isso, literalmente, não tem preço.

Bem, mas eis aí uma lição que, em muitas querências, não mais é ensinada. Em alguns casos tem-se uma dissimulação do dito ensino pra mal e porcamente disfarçar a tamanha displicência que vem tomando conta de muitos mancebos que agem cinicamente com as bênçãos dos pais e com o arrimo das potestades estatais.

Os primeiros acham a má-criação uma coisa linda de se ver; os segundos veem na insolência dos infantes uma manifestação (depre)cívica que deve ser guarnecida com todas as garantias legais e, tudo isso segue de vento em popa para a infelicidade geral da nação e, ao que tudo indica, continuará assim por muito tempo.

(3)
Imprudência não é bravura nem aqui nem na Cochinchina. É apenas uma covardia estulta e congênita tentando através de todos os arremedos histriônicos possíveis de pseudo-valentia oca e inoportuna ocultar a sua total incapacidade para a prática da virtude moral da coragem.

(4)
Mais engraçado que testemunhar um candidato vir ao teu encalço pedir o seu “voto cidadão” é vê-lo tentando furar os olhos dos próprios correligionários para poder tomar-lhe os ditos cujos dos votos.

Pois é, vejam só como são as coisas: os caiporas não são capazes de ser leais nem com os seus pares e, ainda por cima, querem que acreditemos que eles são e serão leais para conosco que somos parte integrante do tal do povo.

Cara! Sem mais delongas, digo e findo: é pra acabar com o cheque do leite essa (depre)civilidade da classe política brazuca.

(5)
Uma coisa é um esquema de poder; outra, bem diferente, é um cargo de poder.

Dum modo geral, a política provinciana é pensada e praticada, tento como teatro de ação, apenas a preocupação com a ocupação de cargos e com o possível deleite que esses podem ofertar. Resumindo: nesses casos, mamar nas úberes estatais é tudo; honradez é nada. E o interesse público apenas entra na história como um subterfúgio para se chegar até as mamas do erário. Só isso e nada mais.

Todavia, quando pensasse e praticasse a política a partir dum projeto de poder totalitário, o cargo de titular do poder é circunstancial. É apenas parte do conjunto e, nem de longe, a mais importante, haja vista que projetos de poder são pensados e articulados a partir duma estratégia de longo prazo, jamais tendo em vista, tão só e unicamente, os limites da expectativa da próxima eleição.

Por isso, de pouco adianta destronar uma nulidade política da cadeira mais elevada da república sem ter em mãos um plano de longo prazo para destruir o projeto de poder que se enraizou nas entranhas do Estado e nas vísceras da sociedade brasileira.

Resumindo: retirar a dona Dilma [ruim de self] da cadeira presidencial, sem empreender um projeto de longo prazo para minar e combater o totalitarismo do Foro de São Paulo não passará de uma pífia vitória de Pirro. Infelizmente é isso. Só isso e nada mais.

(6)
Aprender é um ato de amor e ensinar, necessariamente, deve ser um ato de misericórdia.

Se nos propomos a aprender algo somente para fazer pose de sabido ou de bom-moço progressista, estamos a tratar a verdade de modo similar a um babaca que namora uma menina só pra mostrar a todos que ele está pegando a beldade.

Se nos dispomos a explicar unicamente algo pelo prazer sádico de mostrar ao outro o quanto ele é estulto estamos nos portando diante da verdade como um biltre que humilha um garçom para parecer "fodão" diante da sua namoradinha.

Enfim, conhecer é um ato amoroso da mesma forma que ensinar é um gesto caritativo. O fato de isso ser ignorado olimpicamente na sociedade contemporânea nos ajuda e entender porque a educação brasileira é um retumbante fracasso.

(7)
Disciplinar-se significa saber valorar. Significa saber eleger o que é imprescindível em detrimento daquilo que é dispensável.

Não saber fazer essa distinção simples e elementar limita significativamente à capacidade de compreensão e o poder de ação dum indivíduo.

Quanto a qualquer outra coisa que se diga sobre esse ponto, com o perdão da palavra, não passa de um punhado de pedagogices de alminhas que não sabem a diferença que há entre educar de fato e opinar sobre educação.

(*) Professor, cronista e bebedor de café.



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