Bem vindo ao blog de Dartagnan da Silva Zanela, Cristão católico por confissão, caipira por convicção, professor por ofício, poeta por teimosia, radialista por insistência, palestrante por zoeira, bebedor de café irredutível e escrevinhador por não ter mais o que fazer.

Pesquisar este blog

DIÁRIO DE BORDO: DATA ESTRELAR INCERTA - 004

Por Dartagnan da Silva Zanela (*)

(1)
Quando a palavra amor vê-se pronunciada repetidamente sem a companhia de atos que substancialmente a representam, qualquer gesto tosco, pífio e egoísta passa a representá-la.

Não é à toa que na sociedade contemporânea não mais se saiba a diferença que há entre amar e ser meramente movido por uma paixão.

Não é à toa que não mais se saiba distinguir entre o que é sacrificar-se graciosamente pelo outro do ato de exigir insaciavelmente sacrifícios dos outros em seu favor.

Por essas e outras que o amor tornou-se uma palavra sem sentido, pois, somos uma sociedade onde as pessoas em sua maciça maioria vivem vidas sem propósito algum.

Resumindo o entrevero: somos imaturos demais para amar verdadeiramente. Talvez, por isso, e por outras razões, não sejamos capazes de parar, por um instante que seja, de brincar com nossos celulares.

(2)
O espírito crítico, a consciência dita crítica, não é sinal duma excelsa inteligência; é sintoma duma séria lesão cerebral. Da mesma forma, educação crítica não é sinônimo duma boa formação intelectual; é garantia de que a lesão poderá ser profunda é praticamente irreversível.

(3)
A alma humana, neste mundo, é similar a uma ave sem pouso e sem exuberantes asas. Tentamos alçar voo, mas não saímos do chão. Tentamos encontrar repouso e nada nos conforta. Talvez, por isso, procuramos consolo e refúgio de nossos tormentos terrenos no seio de nossos deuses, das coisas que elegemos como sendo nossas divindades, mas que, também, não são capazes de nos confortar pelo simples fato de serem o que são: apenas coisas, somente simplórias criaturas. Resumindo: é só Nele que encontraremos pouso e descanso. Aqui, neste vale de pó e sombras temos que seguir peregrinando sem dar voltas em nossos calcanhares. Devemos seguir rumo a Ele sem nada desde mundo esperar, pois não há bem adquirido ou ideologia que possa, de fato, nos consolar.

(4)
Em época eleitoreira todos aqueles que correm a carreira do pleito juram de pés juntos que são almas humildes e impolutas que querem apenas o voto de confiança dos eleitores para honradamente representá-los. Na verdade, o que a maioria dos pedintes eleitorais está realmente fazendo é trilhar obstinadamente uma peregrinação em favor do agigantamento de seu já dilatado ego orgulhoso e que, por isso mesmo, veem no eleitor apenas um meio para realização de seus inescrupulosos intentos, jamais como uma pessoa. Enfim, não se enganem não! Na maioria dos casos é só isso e olhe lá.

(5)
As exceções que me perdoem, mas quando o assunto é a política brasileira, a regra é ridiculamente deprimente; ridícula ao ponto de estragar todas as palhas boas. As exceções, se existirem, que me perdoem. Caso não existam, então, que siga o cortejo fúnebre da furibunda democracia brasileira.

(6)
Sem um constante esforço da parte do indivíduo não há retidão. Sem constância de caráter tudo na alma desordena-se e, com o tempo, se esfacela.

Sem um constante e comprometido esforço pessoal na feitura de nossos grandes e pequeninos atos tudo se torna vão. Ao invés de edificarem, nossos atos acabam desorientando tudo por sua total falta de ordem e de reta orientação.

Enfim, resumindo o entrevero: é uma questão de sabermos por que estamos fazendo algo e fazê-lo com vistas a atender as demandas desse por que sem confundi-lo com outros. Ponto.

(7)
Eça de Queiroz ensina-nos o seguinte: os homens se assemelham muitíssimo mais pelo que pensam do que pelo que eles fazem ou deixam de fazer.

Bem, essa é uma regra obvia para todo aquele que procura ver o mundo com os dois olhos da cara, dispensando os pútridos filtros ideológicos, mas que, para aqueles que se utilizam desses, é algo bastante complicado de se entender. Azar o deles.

Ora, o que irmana os torcedores dum time de futebol? Suas profissões, suas contas bancárias? Nada disso. O que eles pensam e sentem a respeito do referido desporto, de um modo geral, e deste ou daquele time em particular é o que faz um punhado de barbados se reunirem para celebrar os feitos do planeta bola.

O mesmo vale para os apreciadores de seriados televisivos, aos degustadores de literatura e, inclusive, para os indivíduos que amam discussões de ordem política – sejam elas feitas na clave provinciana ou em tons mais elevados.

Resumindo: em todas as facetas da vida, os homens identificam-se muitos mais pelo que há em seus corações e mentes dando uma importância menor, bem menor para as suas ditas classes sociais.

Para compreender isso, basta viver e saber que apenas os perfeitos idiotas, insuportavelmente idiotas, são capazes de colocar o dinheiro com o centro da vida. E, todos sabem que não é preciso ter dinheiro para pensar e agir assim.

(*) Professor, cronista e bebedor de café.

Nenhum comentário:

Postar um comentário