Por Dartagnan da Silva
Zanela (*)
(1)
Quando a palavra amor vê-se pronunciada
repetidamente sem a companhia de atos que substancialmente a representam,
qualquer gesto tosco, pífio e egoísta passa a representá-la.
Não é à toa que na sociedade
contemporânea não mais se saiba a diferença que há entre amar e ser meramente movido
por uma paixão.
Não é à toa que não mais se saiba
distinguir entre o que é sacrificar-se graciosamente pelo outro do ato de
exigir insaciavelmente sacrifícios dos outros em seu favor.
Por essas e outras que o amor
tornou-se uma palavra sem sentido, pois, somos uma sociedade onde as pessoas em
sua maciça maioria vivem vidas sem propósito algum.
Resumindo o entrevero: somos
imaturos demais para amar verdadeiramente. Talvez, por isso, e por outras
razões, não sejamos capazes de parar, por um instante que seja, de brincar com
nossos celulares.
(2)
O espírito crítico, a consciência
dita crítica, não é sinal duma excelsa inteligência; é sintoma duma séria lesão
cerebral. Da mesma forma, educação crítica não é sinônimo duma boa formação
intelectual; é garantia de que a lesão poderá ser profunda é praticamente
irreversível.
(3)
A alma humana, neste mundo, é
similar a uma ave sem pouso e sem exuberantes asas. Tentamos alçar voo, mas não
saímos do chão. Tentamos encontrar repouso e nada nos conforta. Talvez, por
isso, procuramos consolo e refúgio de nossos tormentos terrenos no seio de
nossos deuses, das coisas que elegemos como sendo nossas divindades, mas que,
também, não são capazes de nos confortar pelo simples fato de serem o que são:
apenas coisas, somente simplórias criaturas. Resumindo: é só Nele que
encontraremos pouso e descanso. Aqui, neste vale de pó e sombras temos que
seguir peregrinando sem dar voltas em nossos calcanhares. Devemos seguir rumo a
Ele sem nada desde mundo esperar, pois não há bem adquirido ou ideologia que
possa, de fato, nos consolar.
(4)
Em época eleitoreira todos
aqueles que correm a carreira do pleito juram de pés juntos que são almas
humildes e impolutas que querem apenas o voto de confiança dos eleitores para
honradamente representá-los. Na verdade, o que a maioria dos pedintes
eleitorais está realmente fazendo é trilhar obstinadamente uma peregrinação em
favor do agigantamento de seu já dilatado ego orgulhoso e que, por isso mesmo,
veem no eleitor apenas um meio para realização de seus inescrupulosos intentos,
jamais como uma pessoa. Enfim, não se enganem não! Na maioria dos casos é só isso
e olhe lá.
(5)
As exceções que me perdoem, mas
quando o assunto é a política brasileira, a regra é ridiculamente deprimente;
ridícula ao ponto de estragar todas as palhas boas. As exceções, se existirem,
que me perdoem. Caso não existam, então, que siga o cortejo fúnebre da
furibunda democracia brasileira.
(6)
Sem um constante esforço da parte
do indivíduo não há retidão. Sem constância de caráter tudo na alma
desordena-se e, com o tempo, se esfacela.
Sem um constante e comprometido
esforço pessoal na feitura de nossos grandes e pequeninos atos tudo se torna
vão. Ao invés de edificarem, nossos atos acabam desorientando tudo por sua
total falta de ordem e de reta orientação.
Enfim, resumindo o entrevero: é
uma questão de sabermos por que estamos fazendo algo e fazê-lo com vistas a
atender as demandas desse por que sem confundi-lo com outros. Ponto.
(7)
Eça de Queiroz ensina-nos o
seguinte: os homens se assemelham muitíssimo mais pelo que pensam do que pelo
que eles fazem ou deixam de fazer.
Bem, essa é uma regra obvia para
todo aquele que procura ver o mundo com os dois olhos da cara, dispensando os
pútridos filtros ideológicos, mas que, para aqueles que se utilizam desses, é
algo bastante complicado de se entender. Azar o deles.
Ora, o que irmana os torcedores
dum time de futebol? Suas profissões, suas contas bancárias? Nada disso. O que
eles pensam e sentem a respeito do referido desporto, de um modo geral, e deste
ou daquele time em particular é o que faz um punhado de barbados se reunirem
para celebrar os feitos do planeta bola.
O mesmo vale para os apreciadores
de seriados televisivos, aos degustadores de literatura e, inclusive, para os
indivíduos que amam discussões de ordem política – sejam elas feitas na clave
provinciana ou em tons mais elevados.
Resumindo: em todas as facetas da
vida, os homens identificam-se muitos mais pelo que há em seus corações e
mentes dando uma importância menor, bem menor para as suas ditas classes
sociais.
Para compreender isso, basta
viver e saber que apenas os perfeitos idiotas, insuportavelmente idiotas, são
capazes de colocar o dinheiro com o centro da vida. E, todos sabem que não é
preciso ter dinheiro para pensar e agir assim.
(*)
Professor, cronista e bebedor de café.
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