Por Dartagnan da Silva
Zanela (*)
Coisa que todo o cafajeste mais
gosta de fazer é chamar o tal do povo de toda e qualquer coisa. Agora, a nova
moda é chamá-lo de corrupto. Segundo essa pacutia de caráter duvidoso, o grande
problema do Brasil é que o povo, de modo geral e irrestrito, é corrupto de doer
porque fura fila uma vez ou outra; porque de vez em quando dá um migué nesse ou
naquele imposto que lhe é imposto goela abaixo e, por causa desses deslizes
que, segundo dizem, a vermelhada e seus parceiros afanaram descaradamente o
erário. Resumindo: pra essa gente, se mensalão, petrolão e tutti quanti existem
a culpa é do povão que fura a fila do buzão.
Um caipora que diz isso,
francamente, não vale o excremento que produz. Não vale porque esse tipo fecal literalmente
abdica de todo o senso de proporções para justificar e defender a corja
política que ele idolatra; corja que faz parte da mesma seita ideológica que o
dito caipora.
Ora, ora, há uma diferença
mastodôntica entre furar uma fila por estar com pressa, por estar atarantado
com o seu horário de trabalho e afanar descaradamente bilhões e mais bilhões,
direta e indiretamente, do erário público que é pago, mesmo que com desgosto,
pelo tal do povo que é frequentemente enxovalhado por essa horda de aduladores
de tiranetes totalitários.
Isso não significa que estou, por
meio dessas turvas linhas, defendo os desvios cotidianos que todos, de vez em
quando, comentem. De jeito maneira cara pálida. Estou dizendo apenas que tais
gestos não equiparam um indivíduo comum a um mensaleiro, nem pelas proporções
dos atos, muito menos pelas finalidades almejadas com os mesmos.
Isso não quer dizer, de modo
algum que estejamos a dourar a efígie do povo brasileiro. Não somos santos e
estamos ainda bem distantes de ser uma nação de têmpera heróica. Temos um
punhado de defeitos, porém, verdade seja dita: não somos uma pátria de ladrões.
Na verdade, em meio a todos os
vícios que compõe a têmpera nacional, há uma grande virtude no coração de nossa
gente: uma gorda e opulenta paciência para aturar toda horda de calhordas que
os faz de bobo, dia e noite, e que agora, em meio ao vexame dos malfeitos petrálicos,
eles insiste em justificar através de toda ordem de petulantes melindres
ideológicos aquilo que é injustificável, chamando o sofrido povo brasileiro de
corrupto e corruptor. Resumindo: querem culpar as vítimas dos males perpetrados
pelos seus mestres sombrios.
Enfim, o caipora tem que ser
muito, mas muito cínico pra fazer isso; tem que ser muito sicofanta e bem
adestrado para se prestar a um papelão desses. Encerrando: é uma gente moralmente
doente até a medula da alma.
Pronto; é isso. E tenho dito.
(*)
professor e cronista.
e-mail:
dartagnanzanela@gmail.com
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