Por Dartagnan da Silva
Zanela (*)
(1)
O homem moderno vive com medo; o modernoso
homem vive a caminhar, sem parar, num passo ansioso. Medo esse que lhe
aconselha a levar demasiadamente a sério tudo aquilo lhe angustia. Aflição essa
que o agrilhoa a todos os seus temores imaginários.
(2)
Tudo é uma questão de hábito,
seja a boemia ou o trabalho duro. Em tudo há uma questão de método, seja na
depravação ou na dignificação. Em tudo isso, entre os hábitos e os métodos, há
uma finalidade que dá sentido ao que está sendo feito. Finalidade essa que pode
ser determinada por nós, de maneira autoconsciente, ou que é determinada a nós
por alguém, ou por algo, que se aproveita de nossa leviana inconsciência.
(3)
O antecedente irrefletido gera
sempre um consequente insensato.
(4)
Fazer algo simplesmente por fazer
é o mesmo que viver sem necessariamente precisar ter nascido.
(5)
Simpatia exagerada é tão
inconveniente quanto à animosidade rotineira. Uma e outra são apenas formas
tolas de dissimulação.
(6)
É incrível como agimos com base
na mais desatinada das incertezas.
O dito “vai que dá certo...” é a
marca geral de nossa época onde ariscamos tudo com base no mais tonto frenesi,
no calor das epidérmicas emoções do momento. Colocamos tudo e todos em risco
com base nos mais estapafúrdios palpites. Nossa! E como fazemos isso. É muita
irresponsabilidade para uma época só. Muita mesmo.
Também, fazer o que? Não se pode
esperar muita coisa de uma sociedade (de)formada por uma massa de pessoas nominalmente
maduras que não é capaz de reconhecer a sua condição gritante de adolescente
mais que tardio. Ou devemos?
(7)
A sociedade contemporânea, de
certa forma, emoldura o nosso olhar para que sejamos capazes apenas de
contemplar a mediocridade reinante e nada mais, como se ela fosse a única
possibilidade crível de realização para uma vida humana, deixando-nos enredados
numa teia infernal formada por exemplos vis. Por isso, quando temos diante de
nossas vistas a imagem duma grandeza moral, desprezamo-la como se ela fosse uma
personagem fantástica dum conto infantil qualquer, mas jamais a vemos como algo
real e tangível, tamanha a soberba da parvidade que se assenhora do nosso
olhar.
(8)
Os ritos de passagem, nas
sociedades tribais, delimitavam, com relativa clareza, a fronteira entre um e
outro estágio da vida humana; de maneira especial entre a meninice e a
maturidade.
Nesses ritos, matava-se
simbolicamente a criança para que o adulto pudesse vir ao mundo e, desse modo,
reforçar os compromissos do jovem para com os membros de sua tribo.
Nas sociedades modernosas como a
nossa não se veem mais, oficialmente, a prática de tais quinquilharias
museológicas.
Todavia, nas sombras da vida
social temos a prática de certos “ritos” que, ao seu modo, demarcam o fim da
criancice e o início de uma adolescência tardia travestida de maturidade.
Esses ritos, em regra, consistem
na prática desmedida de bebedeiras, orgias sexuais e coisas do gênero. Práticas
essas que sinalizam não a investidura no indivíduo das responsabilidades
cabidas a um adulto frente a sua comunidade, mas sim, festeja-se alucinadamente
o contrário disso.
(9)
Quando a irresponsabilidade
petulante torna-se a medida de todas as coisas, a vida política converte-se na
mais vil barbárie e a vida em sociedade um perambular anômico dum nada para
lugar nenhum.
(10)
Em tudo há necessidade do cultivo
dum mínimo de formalidade. Quando essa se torna excessiva, a existência perde
sua vivacidade natural. Quando essa se faz inexistente a vida perde todo e
qualquer sentido existencial.
(11)
Onde inexiste o sentido de missão
a ser cumprida, toda e qualquer vocação fenece e da vida vê-se suprimida.
(12)
A grande tragédia do Brasil atual
é que todos sabem que o país está maltratado; porém, a maioria nem imagina o
quanto, de fato, o nosso país está estropiado.
(*)
Professor e cronista.
e-mail:
dartagnanzanela@gmail.com
fanpage: http://facebool.com/dartagnanzanela/
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