Por Dartagnan da Silva
Zanela (*)
(i)
AMIGOS SÃO AQUELAS PESSOAS QUE riem-se umas das outras, sem a
menor cerimônia, porque se amam. E se amam não por causa de suas possíveis
virtudes, mas sim, apesar de seus inumeráveis defeitos. Qualquer um que não
compreenda isso, provavelmente, nunca teve um amigo de verdade e não sabe sê-lo
verdadeiramente.
(ii)
NÃO HÁ PROBLEMA ALGUM EM DEFENDER uma causa política, como
não há entrevero nenhum em filiar-se a um partido e, muito menos, em advogar a
favor de uma ideologia política. Não mesmo.
Aliás, qualquer pessoa minimamente razoável sabe muito bem
disso.
O grandessíssimo problema reside no fato de que, em
muitíssimos casos, o sujeito que advoga em favor de uma causa, que adere a um
partido e que defende com unhas e dentes uma ideologia, acaba colocando essas
coisinhas acima da verdade, no lugar da realidade e num lugarzinho muito além
do bem e do mal.
Aí, meu amigo, idiotia pouca é bobagem e, qualquer um com um
mínimo de bom senso, percebe isso de longe.
(iii)
DOIS DE NOVEMBRO. FOMOS AO CEMITÉRIO. Todos nós. Acendemos
velas pelas almas de nossos finados e levamos flores em honra de suas memórias.
Feito isso, segui só, por entre as lápides, recitando, silenciosamente, o Santo
Rosário, meditando sobre o grande mistério da morte e rememorando alguns
momentos que compartilhei com aqueles que já partiram desse vale de lágrimas.
Ao fim, quando decidimos partir, vejo ao longe minha
princesinha Helena sentada no chão, com as perninhas cruzadas, de frente para a
lápide da sepultura da vovó que partiu antes de poder conhecê-la. Confesso: uma
cena que imortalizou-se em minha alma.
Aproximei-me vagarosamente dela, flexionei meus joelhos e
coloquei minhas mãos sobre seus ombrinhos. Ela não levantou seus olhos nem
disse nada.
Perguntei-lhe se estava bem e ela disse que sim. Perguntei se
queria que eu levasse-a no colo até o carro e ela disse que não. Apenas levantou-se
e segurou firme em minha mão direita para irmos ao outro cemitério de nossa
cidade.
E assim ela foi, inocente como uma perdiz e firme feito uma
rocha, silente e altiva como alguém que muito cedo mergulha e familiariza-se
com os grandes mistérios da vida. Vida que não finda aqui.
(*) Professor, caipira,
cronista e bebedor de café.
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