Por Dartagnan da Silva Zanela (*)
(1)
As paixões populares celebradas pelas multidões midiaticamente
tangidas são, dum modo geral, fruto de ilações confusas advindas
de almas desordenadas. Geralmente, as massas – reunidas nas ruas ou
atomizadas em suas alcovas – defendem seus irascíveis pontos de
vistas antes mesmo de terem-se dado ao trabalho de formá-los e,
principalmente, ignorando a pedregosa tarefa de avaliar a verdadeira
importância do que está sendo defendido por eles com tanta afetação
de superioridade (depre)cívica.
(2)
Muitas pessoas, muitas mesmo, querem posar de sabidas contando a
história da humanidade toda, explicando seus melindres, dissertando
sobre o sentido profundo do devir humano neste vale de lágrimas, ao
mesmo tempo em que são incapazes de contar com alguma propriedade a
história de sua família com algum sentido minimamente razoável. Na
verdade, na maioria dos casos, são almas incapazes de contar a sua
própria história.
(3)
O ímpeto Estatal em zelar pelo bem-estar de todos os indivíduos
acaba, sem pestanejar, custando às pessoas um sacrifício muito
maior, muito maior mesmo, do que lhes seria exigido delas se elas
tivessem que cultivar o mesmo zelo uns pelos outros sem o abraço
nada paternal dos tentáculos Estatais.
(4)
A desesperança, nalgumas ocasiões, pode tomar conta de nossa alma,
tamanhas são as sedições que temos que encarar em nossa caminhada
por esse vale de lágrimas; porém, não podemos nos entregar a esse
perigoso desleixo existencial, pois, onde a esperança fraqueja e faz
as malas, a verdade não germina, não deita suas raízes e a vida, a
nossa vida, acaba não dando bons frutos. Apenas pútridos frutos e
olhe lá.
(5)
Tudo segue o seu curso, tudo; e esse não depende de nosso prumo.
Mesmo que tentemos de modo arrogante e precipitado, com nossas
forças, mudar o trote dos acontecimentos, o fluxo dos fatos continua
seguindo o sedimentado leito do aguaceiro da vida. Todavia, o rumo
traçado por nós em nosso navegar por esse oceano de lamentos é
sempre marcado pelo pulso que impomos à nossa jornada. Não podemos,
não temos meios para tornar o mundo um trem com a nossa cara (e que
bom que é assim). Todavia, está ao alcance de nossas mãos e de
nossa vontade mudar a feição da vida que vivemos nesse confuso
mundo tornando-nos uma personalidade inteira e deixarmos, de vez, de
sermos um tongo, ou um canalha, aos pedaços.
(6)
É difícil o ofício de quem quer tentar ser bom em meio a tantos
que não movem uma palha sequer nessa direção. Não mesmo
E em anos como esse, em um ano eleitoreiro, onde as boas intenções
se fantasiam com números, tem musiquinhas e estampas na traseira dos
carros, não são poucos os que tentam aconselhar seus concidadãos a
votarem naquilo que eles consideram ser a melhor opção.
Bem, o problema é que, em muitos rincões da república de Banânia,
encontrar o melhor é uma tarefa tão ingrata quando decepcionante;
tamanha é a miséria moral que habita entre nós.
Há também aqueles que, por sua deixa, e com certo cinismo
pragmático, aconselham seus iguais a votarem naquilo que eles chamam
de o “menos pior”, num esforço quase que desesperado de procurar
administrar da melhor forma possível os inevitáveis danos que
recairão sobre a civitas.
Pois é, quando esse é o caso, quando esse é o critério adotado, o
trem fica empacado, pois, nesse quesito, fica difícil de precisar
quem merece o título de “menos ruim”, haja vista o flagrante
empate técnico que há entre os contendores eleitorais.
Enfim, voto cidadão em nosso triste país é literalmente dar um
tiro às cegas na total escuridão. É quase impossível acertar.
Praticamente impossível.
(7)
O estudo da dita cuja da história dá a possibilidade de nos
tornarmos donos de nós mesmos na medida em que permitimos que a
dedicação a ela amplie a nossa compreensão da ignorância que
temos sobre nós, sobre a sociedade em que vivemos e sobre o lugar
que nela ocupamos.
Todavia, muitas vezes deitemos nossas vistas em suas tortuosas linhas
para apenas tentar confirmar, com fragmentos distorcidos extraídos a
esmo, nossos estereótipos, preconceitos e ideologias.
Quando procedemos desse modo, acabamos apenas afundando de modo
medonho a nossa consciência num fétido fosso de alienação e, por
isso, militontamente passamos a crer, a imaginar que o sentido de
toda a realidade está em nossa mente distorcida e intoxicada pelos
cacoetes mentais de uma ideologia furibunda, esquecendo, tolamente,
que a realidade é bem maior de nossos anseios de desejos.
(*) professor e cronista.
Site: http://dartagnanzanela.webcindario.com/
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