Por Dartagnan da Silva
Zanela (*)
(1)
Lição que é desdenhada pelas
alminhas críticas: saber observar os acontecimentos com paciência e sem se
enervar.
Essa atitude é imprescindível
para conhecer o tempo de cada fato e o passo de cada ato. Ficar nervosinho,
dando peti de cidadanite, pode até dar IBOPE, mas não ajuda a entender nada e
não resolve coisa alguma.
E te digo uma coisa: indignação
não passa duma birra. Isso mesmo. Por mais que se diga que ficar indignado seja
uma “virtude cívica”, no fundo não passa de uma criancice aceita socialmente em
sociedade moralmente decadentes.
E te digo outra: ter nervos de
aço é fundamental para conhecer os fatos sem ser arrastado pelas paixões do
momento e, consequentemente, para sermos capazes de agir sobre os
acontecimentos com razoável consistência.
E, por fim, te digo isso: ficar
nervosinho pode até fazer-nos parecer bonitinho na foto e aos olhos
instantâneos do momento, entretanto, tal atitude não passa dum impensado
rompante infantil e ordinário. Só isso e
nada mais.
Por isso, pare, pense, compreenda
e pondere sobre a situação presente e sobre nossas atitudes patentes antes que
seja tarde de mais.
(2)
Precipitação - em misto com
indignação colérica - é um claro sinal de que a situação que estamos dispostos
a enfrentar nos domina; não o contrário.
Enquanto não somos capazes de
ordenar e de controlar nossas emoções frente aos problemas e dilemas que a vida
nos atira à face, não estaremos aptos a agir de modo eficaz, mesmo que
estejamos cobertos de razão quanto ao que motiva nosso sentimento de cólera
cívica.
Não basta sentirmo-nos indignados
frente às injustiças; temos sim que fazer os injustos indignar-se frente a
nossa presença por aquilo que representamos; fazê-los tremer com o vislumbre de
nossas possíveis ações.
Quanto ao resto, bem, todo o
resto é bobagem, mesmo que essa bobagem tome conta das ruas de verde e amarelo
fazendo-nos imaginar que isso seja o suprassumo da cidadania.
(3)
Ruas cheias de cordeiros,
gritando palavras de ordem e vestidos a caráter para um passa-tempo cívico com
dia previamente marcado pode até impressionar, mas não assusta, nem derrota as
alcateias de lobos e os covis de leões que nos assaltam sorrateiramente a
partir dos meandros Estatais, para-Estatais e corporativos.
É preciso muita astúcia e um
tantão de paciência para encurralar e enquadrar essas bestas e, principalmente,
sermos mui vigilantes para não acabarmos nos tornando presas delas numa de suas
sutis arapucas; para não fazermos o jogo deles imaginando tolamente que estamos
fazendo o nosso.
Se não formos vigilantes,
pacientes e astutos estaremos apenas fazendo papel de bobos num teatro de
loucos patrocinado por canalhocratas.
(4)
Boa parte dos críticos do juiz
Sérgio Moro apegam-se caninamente aos mais toscos detalhes de qualquer
formalismo burocrático - formalismos tão vazios quanto cínicos - fantasiando-os
com toda ordem de dissimulações jurídicas e dessa forma, cônscios ou não,
acabam ignorando o que ele está realizando, o mal que ele e sua equipe ousaram
afrontar, que continuam ousadamente combatendo. Quem não percebe isso ou é aparvalhado
ou parte interessada – material ou ideologicamente interessada.
(5)
A disciplina é um dos alicerces
da formação da personalidade; outra coluna importante é o senso de
responsabilidade devidamente balizado por uma aguda consciência de que tudo
aquilo que fazemos - de bom e de ruim - é de nossa autoria, de nossa responsa,
e não culpa de algo ou de alguém malvadão que está sempre nos sacaneando desde
tempos imemoriais.
Por isso, enxovalhar a disciplina
e perverter a consciência moral dos indivíduos é a pedra angular da pedagogia
da mediocridade que há décadas vem destruindo, silenciosa e criticamente, o
pouco de honradez e integridade que havia em nosso país.
Está mais do que na hora de
procurarmos salvar o pouco que restou.
(6)
Onde não há retidão de propósito,
não há boa intenção nem ação responsável. Num lugar onde carecesse disso as
únicas coisas que reinam é a dissimulação histriônica, o artificialismo
(depre)cívico duma multidão de canalhas disfarçados de cidadãos em conluio com
outro tanto de biltres fantasiados de redentores públicos dessa choldra ignóbil
maquiada de democracia. Essa, meu caro Watson, é a canalhocracia tão vigorosa e
cheia de vida a parasitar o nosso anêmico país.
(7)
Não sou fã de futebol, porém,
nada tenho contra aqueles que o são. Porém, todavia, entretanto, acessar as
redes sociais no dia seguinte após a final olímpica da referida modalidade
desportiva e ver a galerinha multiculturalista - com duas mãos canhotas - pau
da vida com a seleção brasileira de futebol não tem preço.
Onde já se viu - pensa a turminha
politicamente correta com seus alfarrábios e postagens - o Neymar usar uma faixa
na testa escrito 100% Jesus; como é que pode o goleiro Weverton Pereira da
Silva declarar em entrevista que o ouro é nosso, mas a glória é de Deus, como?
Bem, turminha, pode porque estamos no Brasil e, apesar de toda hegemonia
cultural e intelectual exercida sobre nós pelos grilhões rubros, ainda há no
coração brazuca os ecos da Palavra que jamais passará.
Enfim, eles piram o cabeção
enquanto os atletas militares batem continência ao pavilhão nacional e surtam
ao ver os futebolistas dando glória ao Senhor por terem conquistado o ouro
olímpico para a nossa mãe gentil.
E deixem que eles pirem, pois é
divertido demais vê-los assim.
(*) professor e cronista.
Site:
http://dartagnanzanela.webcindario.com/
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